quarta-feira, 31 de outubro de 2018

História de um cão

Luis Guimarães Júnior


Eu tive um cão. Chamava-se Veludo:
Magro, asqueroso, revoltante, imundo,
Para dizer numa palavra tudo
Foi o mais feio cão que houve no mundo.

Recebi-o das mãos dum camarada.
Na hora da partida, o cão gemendo
Não me queria acompanhar por nada:
Enfim − mau grado seu − o vim trazendo.

O meu amigo cabisbaixo, mudo,
Olhava-o... o sol nas ondas se abismava....
«Adeus!» − me disse, − e ao afagar Veludo
Nos olhos seus o pranto borbulhava.

«Trata-o bem. Verás como o rasteiro
Te indicará os mais sutis perigos;
Adeus! E que este amigo verdadeiro
Te console no mundo ermo de amigos.»

Veludo a custo habituou-se à vida
Que o destino de novo lhe escolhera;
Sua rugosa pálpebra sentida
Chorava o antigo dono que perdera.

Nas longas noites de luar brilhante,
Febril, convulso, trêmulo, agitado
A sua cauda − caminhava errante
A luz da lua − tristemente uivando.

Toussenel: Figuier e a lista imensa
Dos modernos zoológicos doutores
Dizem que o cão é um animal que pensa:
Talvez tenham razão esses senhores.

Lembro-me ainda. Trouxe-me o correio,
Cinco meses depois, do meu amigo
Um envelope fartamente cheio:
Era uma carta. Carta! era um artigo.

Contendo a narração miúda e exata
Da travessia. Dava-me importantes
Notícias do Brasil e de La Plata,
Falava em rios, árvores gigantes:

Gabava o steamer que o levou; − dizia
Que ia tentar inúmeras empresas:
Contava-me também que a bordo havia
Mulheres joviais − todas francesas.

Assombrava-me muito da ligeira
Moralidade que encontrou a bordo:
Citava o caso de uma passageira...
Mil coisas mais de que me não recordo.

Finalmente, por baixo disso tudo
Em nota bene do melhor cursivo
Recomendava o pobre do Veludo
Pedindo a Deus que o conservasse vivo.

Enquanto eu lia, o cão tranquilo e atento
Me contemplava, e − creia que é verdade,
Vi, comovido, vi nesse momento
Seus olhos gotejarem de saudade.

Depois lambeu-me as mãos humildemente,
Estendeu-se a meus pés silencioso
Movendo a cauda, − e adormeceu contente
Farto dum puro e satisfeito gozo.

Passou-se o tempo. Finalmente um dia
Vi-me livre daquele companheiro;
Para nada Veludo me servia,
Dei-o à mulher dum velho carvoeiro.

E respirei! «Graças a Deus! Já posso»
Dizia eu «viver neste bom mundo
Sem ter que dar diariamente um osso
A um bicho vil, a um feio cão imundo».

Gosto dos animais, porém prefiro
A essa raça baixa e aduladora
Um alazão inglês, de sela ou tiro,
Ou uma gata branca cismadora.

Mal respirei, porém! Quando dormia
E a negra noite amortalhava tudo
Senti que à minha porta alguém batia:
Fui ver quem era. Abri. Era Veludo.

Saltou-me às mãos, lambeu-me os pés ganindo,
Farejou toda a casa satisfeito;
E − de cansado − foi rolar dormindo
Como uma pedra, junto do meu leito.

Praguejei furioso. Era execrável
Suportar esse hóspede importuno
Que me seguia como o miserável
Ladrão, ou como um pérfido gatuno.

E resolvi-me enfim. Certo, é custoso
Dizê-lo em alta voz e confessá-lo
Para livrar-me desse cão leproso
Havia um meio só: era matá-lo

Zunia a asa fúnebre dos ventos;
Ao longe o mar na solidão gemendo
Arrebentava em uivos e lamentos...
De instante em instante ia o tufão crescendo.

Chamei Veludo; ele seguia-me. Entanto
A fremente borrasca me arrancava
Dos frios ombros o revolto manto
E a chuva meus cabelos fustigava.

Despertei um barqueiro. Contra o vento,
Contra as ondas coléricas vogamos;
Dava-me força o torvo pensamento:
Peguei num remo − e com furor remamos

Veludo à proa olhava-me choroso
Como o cordeiro no final momento,
Embora! Era fatal! Era forçoso
Livrar-me enfim desse animal nojento.

No largo mar ergui-o nos meus braços
E arremessei-o às ondas de repente...
Ele moveu gemendo os membros lassos
Lutando contra a morte. Era pungente.

Voltei à terra, − entrei em casa. O vento
Zunia sempre na amplidão profundo.
E pareceu-me ouvir o atroz lamento
De Veludo nas ondas moribundo.

Mas ao despir dos ombros meus o manto
Notei − oh grande dor!  − haver perdido
Uma relíquia que eu prezava tanto!
Era um cordão de prata: − eu tinha-o unido

Contra o meu coração constantemente
E o conservava no maior recato,
Pois minha mãe me dera essa corrente
E, suspenso à corrente, o seu retrato.

Certo caíra além no mar profundo,
No eterno abismo que devora tudo;
E foi o cão, foi esse cão imundo
A causa do meu mal! Ah, se Veludo

Duas vidas tivera − duas vidas
Eu arrancara àquela besta morta
E àquelas vis entranhas corrompidas.
Nisto senti uivar à minha porta.

Corri − abri... Era Veludo! Arfava:
Estendeu-se a meus pés, − e docemente
Deixou cair da boca que espumava
A medalha suspensa da corrente.

Fora crível, oh Deus?  − Ajoelhado
Junto do cão  − estupefato, absorto,
Palpei-lhe o corpo: estava enregelado;
Sacudi-o, chamei-o! Estava morto!

*****


Luís Guimarães Júnior (Luís Caetano Guimarães Junior), diplomata, poeta, romancista e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 17 de fevereiro de 1845, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 20 de maio de 1898. Foi um dos dez membros eleitos para se completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras. Era filho de Luís Caetano Pereira Guimarães, português, e de Albina de Moura, brasileira. Fez os primeiros estudos no Rio de Janeiro. Aos dezesseis anos escreveu o romance Lírio branco, dedicado a Machado de Assis. Cursou Direito no Recife entre 1864 e 1869, onde assistiu ao desenvolvimento da “escola condoreira”, em que tomou parte. Continuou a escrever, multiplicando-se no jornalismo e escrevendo livros de contos, comédias e poesias. Sua situação no jornalismo e nas letras, embora brilhante, não lhe proporcionava os meios para viver estavelmente. O poeta e amigo Pedro Luís, então ministro dos Negócios Estrangeiros, oferece-lhe um lugar na diplomacia como secretário de Legação em Londres. De 1873 a 1894, passou por vários outros postos, em Santiago do Chile, em Roma e em Lisboa.

Obras: Lírio branco, romance (1862); Uma cena contemporânea, teatro (1862); Corimbos, poesia (1866); A família agulha, romance (1870); Noturnos, poesia (1872); Filigranas, ficção (1872); Sonetos e rimas, poesia (1880); Contos sem pretensão (1872); e várias peças de teatro.

Fonte: biblio.com.br. A Biblioteca Virtual de Literatura



Maldição da Sexta-Feira Santa



Este fato aconteceu na década de 50, no interior do município de Jaguari, Rio Grande do Sul. Foi numa Sexta-Feira Santa, que na época era um dia de muito respeito: não se varria casa, não se tirava leite nem se encilhava cavalo, muito menos se devia montá-lo. À tardinha, dona Justina mandou o filho buscar os terneiros no potreiro, com a recomendação:

− Meu filho, não vá a cavalo! Lembre-se, hoje é Sexta-Feira Santa!

O menino, muito levado, fez exatamente o contrário. Amarrou uma corda no pescoço do cavalo, montou em pelo e saiu estrada afora.

Chegando ao potreiro, deixou o animal embaixo de uma árvore e subiu um pequeno morro para repontar os terneiros. Aconteceu que um bugio saltou da árvore no lombo do cavalo. Este, assustado, voltou a galope para casa. Quando a montaria entrou no pátio com o bicho agarrado no lombo, dona Justina soltou um grito:

− Meu filho, bem que eu te disse para não montar em Sexta-Feira Santa. Viu, Deus te castigou!

Ao ouvir os gritos, o marido veio correndo e encontrou a mulher desmaiada, e só não desmaiou também ao ver o bugio, porque, na mesma hora, avistou o filho que chegava, assobiando tranquilamente, repontando os terneiros, sem saber o que tinha acontecido com o cavalo.


(Do “Almanaque Gaúcho O livro”, RBS)


terça-feira, 30 de outubro de 2018

A santa da dor de dente



9 de fevereiro é o dia de Santa Apolônia, padroeira da odontologia. Várias lendas cercam a vida desta mártir do ano de 249 da era cristã. Aos 40 anos de idade, após ter os dedos e os dentes arrancados, ela teria caminhado voluntariamente para a morte numa fogueira. Segundo a tradição popular, é a santa que alivia qualquer tipo de dor.

Sua “especialidade”, porém, é a cura da dor de dentes. Existe até uma oração específica pesquisada nos receituários do Brasil colônia.

O teor da prece é o seguinte:

Deus eterno,
por cujo amor Santa Apolônia sofreu
que lhe tirassem os dentes com tanto rigor
e fosse queimada com chamas,
concedei-me a graça do celeste refrigério
contra o incêndio dos vícios
e dai-me socorro contra a dor de dente,
por intercessão.
Amém, Jesus.

(Do “Almanaque Gaúcho – O livro”)

Santa Apolônia viveu no tempo do império romano por volta do ano 249*. Era o tempo do imperador Filipe, que foi derrotado por Décio. Este tornou-se um dos mais cruéis perseguidores dos cristãos. Apolônia era filha de um rico magistrado de Alexandria, cidade importante do Egito, então sob o domínio do império Romano. Apolônia teve sua história contada pelo então Bispo de Alexandria, São Dionísio, em cartas ao Bispo Fabio de Antioquia.

Na sétima investida do Imperador Décio contra os cristãos, ela foi capturada. Como Décio sempre fazia, Apolônia foi obrigada a renunciar a sua fé cristã pelas forças do império. Além disso, foi obrigada a prestar culto aos deuses romanos e a obedecer ao Imperador. Santa Apolônia, porém, firme na fé e tomada por uma coragem impressionante, negou-se a obedecer. Por isso, ela passou a sofrer terríveis torturas em praça pública, diante de todo o povo, que se impressionava com tudo o que via.

Em meio às grandes torturas que sofreu sem negar sua fé, Santa Apolônia teve seus dentes arrancados por pedras afiadas. Mesmo sofrendo a dor lancinante de ter seus dentes quebrados, ela não renunciou à sua fé em Jesus Cristo. Ao ver sua firmeza na fé, os carrascos quebraram sua face com pancadas. Em seguida, foi condenada a morrer queimada. Depois de sua morte, seus dentes foram recolhidos e levados para vários mosteiros. Existe um dente e um pedaço de sua mandíbula no Mosteiro de Santa Apolônia em Florença, Itália.

Depois de todos os sofrimentos pelos quais tinha passado, Santa Apolônia ainda reunia forças para mostrar a todos sua fé inabalável. Assim, mesmo amarrada, ela própria se jogou na fogueira onde morreria, dizendo que preferia a morte a renunciar sua fé em Cristo Jesus. Deus, porém, protegeu Santa Apolônia e ela escapou ilesa da fogueira. Muitos dos presentes se converteram ao presenciar este fato. Então os algozes lhe deram vários golpes de espada e lhe deceparam a cabeça. Santa Apolônia faleceu no ano de 249.

Oração a Santa Apolônia

Ó bom Deus.
Rogamos que a intercessão da gloriosa mártir de Alexandria,
Santa Apolônia, nos livre de todas as enfermidades do rosto e da boca.
Lembrai-vos principalmente das criaturas inocentes e indefesas.
Afastai, se possível, a amargura das dores de dente.
Iluminai, fortificai e protegei os cirurgiões-dentistas,
para que sempre se dediquem ao próximo com o amor que de vós emana,
e nos seja dado usufruir de vosso reino.
Santa Apolônia, intercedei a Deus por nós.
Amém.

(Do Blog Terra Santa)


Cadeira de dentista antiga


Dentista antigo

Você já andou de...?


01. Você andou de lotação? E bonde? (1)

02. Você andou de Simca Chambord? (2)

03 E també já de Vemaguet? (3)

04. Lembra-se do táxi Fusca, que não tinha o banco da frente?

05. Já viu uma Romi-Iseta (4)? E um Gordini? Um Dauphine, talvez?

06. Sonhou em ter um Maverick? E um Kharman-Guia (5)?

07. Quem sabe um confortável Aero Willis? E, claro, um Galaxie!

08. Teve um toca-fitas TKR cara preta no seu carro?

09. Lembra-se do taxímetro Capelinha?

10. Teve um carro com tala-larga e rodas de magnésio? Vidro bolha?

11. O câmbio do carro tinha bolinha de plástico com siri dentro?

12. E caveirinha pendurada no espelho retrovisor?

13. Você andou de Papa-fila?

14. E, finalmente, andou num motociclo antigo com sidecar para levar o carona? (6)


(1) Bonde na Av. João Pessoa-RS


(2) Simca Chambord - modelo 1963


(3) Camionete Vemaguet - modelo 1960


(4) Romi-Iseta


(5) Kharman-Guia


(6) Motociclo com sidecar


Como o poeta Vinicius de Moraes via o mundo, a vida e as pessoas!



Vinicius de Moraes (1913-1980) tinha uma maneira toda sua de enxergar as coisas que o cercavam: acreditava que a grande vantagem de ser poeta é ter como patrão apenas a própria vida.

Em dezenas de entrevistas que concedeu, sempre inteligente nas respostas e conceitos, Vinicius deixou suas ideias sobre os mais variados assuntos. Justamente com seus poemas, musicados ou não, artigos e crônicas, essas respostas ajudam a entender como o poeta via o mundo e as pessoas. Abaixo, trechos de seu pensamento:

Sobre o Brasil:

→ Depois de cinco anos nos Estados Unidos, voltei em 1951 com uma tal sede de Brasil, uma tal fome de Rio de Janeiro, uma tal gana de olhos escuros, peles mulatas e seu divino aroma, bossas e dengues, samba, molejo e malemolência, que encampei tudo sem querer saber de onde vinha e parti para a mais total ignorância. Eu queria “comer” o Brasil. A coisa terrível com o Brasil é que a gente precisa muito mais dele do que ele de nós.

Sobre a esperança:

→ Eu sempre digo que a esperança é um bem gratuito. Não se paga nada para ter e é melhor ter do que não ter.

Sobre bares e bebedores:

→ Até hoje não sei direito o que faz os caras mudarem de bar, mas o fato é que, de repente, seu instinto nômade e de caçador busca outro ambiente para curtir. Há, é claro, os fiéis-até-a-morte, mas em geral são bebedores solitários, que só têm diálogo com o copo.

Sobre mulheres:

→ O que eu mais gosto na mulher é a disponibilidade dela para o amor. É a qualquer hora e a qualquer tempo.

Sobre sensualidade:

→ Eu sou um ser erótico, naturalmente. Problema existencial, é claro. Porque tenho horror à licenciosidade, à pornografia. Não se pode ser sensual apenas com as mulheres, num sentido puramente sexual. A gente deve ser sensual em relação à vida, a tudo. E, dentro do sensualismo, o erotismo é uma arte maior, como era concebida na China, por exemplo.

Sobre a Bossa Nova:

→ A bossa nova foi uma conjuntura histórica, um momento determinado onde a música brasileira precisava mudar. O pessoal todo tinha nível universitário, mas ninguém tinha nada de elitista. Eram gente de classe média, até mais para abastada, mas artistas de muita sensibilidade e todos ligados à cultura popular.

Sobre a poesia e poetas:

→ Acho difícil que um poeta jamais possa conseguir o seu filé em troca de um soneto ou uma balada. Por isso me parece que a maior beleza dessa arte modesta e heroica seja a sua aparente inutilidade. Isso dá ao verdadeiro poeta forças para jamais se comprometer com os donos da vida. Seu único patrão é a própria vida: a vida dos homens em sua longa luta contra a própria natureza e contra si mesmos para se realizarem em amor e tranquilidade.

(Contigo Extra, julho de 1980)*

*Edição lançada por ocasião da morte de Vinicius de Moraes, em 9 de julho de 1980.


segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Curiosidades do nosso cérebro



Como é que é possível?
  
De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, nao ipomtra a odrem plea qaul as lrteas de uma plravaa etaso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol csãofnuo que vcoe pdoe anida ler sem gnderas pobrlmea. Itso é poqrue nós nao lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
  
Não sabe contar?

TESTE: rápido e impressionante: conte, quantas letras “F” têm no texto abaixo:


FINISHED FILES ARE THE RESULT OF YEARS OF SCIENTIFIC STUDY COMBINED WITH THE EXPERIENCE OF YEARS.



De seguida selecione o texto a partir de aqui: Quantos? 3? Talvez 4? Errado, são 6 (seis) − não é piada! Volte para cima e leia mais uma vez! A explicação está mais abaixo... O cérebro não consegue processar a palavra “OF”. Loucura, não? 

Conflito Cerebral

Diga as cores e não as palavras:

Azul vermelho roxo
Roxo Amarelo verde
Laranja verde preto
Verde azul laranja
Amarelo Azul Laranja
Preto Vermelho Verde

O lado direito do cérebro tenta dizer a cor, mas o lado esquerdo insiste em ler a palavra!
  
Jogar com os números...

L1 UM4 4L7UR4 N4 N37 UM 73X70 C0M 3573 F0RM470 3 4CH31 1M3N54 P14D4. V0L731 4 PR0CUR4-L0 M45 NUNC4 M415 0 3NC0N7R31 3 P3N531 P4R4 M1M M35M0: P0RQU3 NÃ0 CR14R UM D4 M1NH4 4U70R14 4 V3R C0M0 3 QU3 C0RR3? PU5 M3 L060 40 7R484LH0 3 C0M3C31 4 R3D161R 35745 L1NH45. NÃ0 531 0 QU3 V41 541R D4QU1 M45 35P3R0 QU3 FUNC10N3...


Poemas modernos II



T,  U,  D,  O,

Separados não somos nada.

Unidos Somos

TUDO.

Se você nunca viu a tristeza, procure ver.
Se você nunca viu a miséria, procure ver.
Se você nunca viu a doença, procure ver.
Se nunca viu a fome, procure ver.
Se você nunca viu a dor e a desgraça, procure ver...
Porque, se você não viu nada disso, você não conhece a vida
E morrerá sem saber o que é viver

(Edson dos Santos Avancini)

Vou dormir.
Não, não, vou
tentar dormir,
pois você entra em mim,
e põe meu sono de lado,
ativa-me lembranças,
momentos...

Vou comer.
Não, não, vou
tentar comer,
pois você entra em mim,
e a fome se faz ausente,
atiça-me lembranças,
momentos...

Vou sair.
Não, não, vou
tentar sair,
pois você entra em mim,
e me prende,
envolve-me em lembranças,
momentos...

Vou estudar.
Não, não, vou
tentar estudar,
pois você entra em mim,
e faz-me fechar os livros,
e povoa minha mente de lembranças,
momentos...

Vou pensar no amor...
Sim, sim, vou
pensar no amor,
pois você está dentro de mim
e o amor é você
e você é o amor
em todos os momentos...

(Liliana Camargo de Luca)

Se...

Se eu não me importasse com a miséria...
Se eu não importasse com a fome...
Se eu me importasse com a avareza...
Se eu me importasse com a ganância...
Se eu me importasse com o meu orgulho...
Se eu me importasse com a minha vaidade...
Provavelmente estaria agora viajando pelo país,
fazendo comícios em busca de votos para atingir o poder.
Estaria agora deitado em minha cama pensando no futuro próximo:
num apartamento de cobertura mais luxuoso,
nas comidas deliciosas,
nas bebidas importadas,
nas roupas e sapatos caros,
nos carros especiais...
Infelizmente, meu coração não tem coragem.
Ele se bala, ele se comove diante
da miséria,
da fome,
da avareza,
da ganância,
do orgulho,
da vaidade.

(Dóris Lage)

Parodiando Drummond

João, o banqueiro,
Roubava Pedro, o fiscal de rendas,
Que roubava Raimundo, o comerciante,
Que roubava Antônio, o industrial,
Que roubava Carlos, o diretor,
Que roubava Severino, o operário,
Que nunca havia roubado ninguém.

João foi para o Paraguai e Pedro para as Bahamas,
Raimundo morreu bêbado,
Antônio pediu concordata,
Carlos suicidou-se e Severino, faminto,
Roubou a bolsa de Sônia que nem tinha entrado na história.

(Newton)

(Do livro “A prática da redação em grupo”,
de Hildebrando A. de André)

Testemunha tranquila



O camarada chegou assim com ar suspeito, olhou pros lados e – como não parecia ter ninguém por perto – forçou a porta do apartamento e entrou. Eu estava parado olhando, para ver no que ia dar aquilo. Na verdade eu estava vendo nitidamente toda a cena e senti que o camarada era um mau-caráter.

E foi batata. Entrou no apartamento e olhou em volta. Penumbra total. Caminhou até o telefone e desligou com cuidado, na certa para que o aparelho não tocasse enquanto ele estivesse ali. Isto – pensei – é porque ele não quer que ninguém note a sua presença: logo, só pode ser um ladrão, ou coisa assim. Mas não era. Se fosse ladrão estaria revistando as gavetas, mexendo em tudo, procurando coisas para levar. O cara – ao contrário – parecia morar perfeitamente no ambiente, pois mesmo na penumbra se orientou muito bem e andou desembaraçado até uma poltrona, onde sentou e ficou quieto:

− Pior que ladrão. Esse cara deve ser um assassino e está esperando alguém chegar para matar – eu tornei a pensar e me lembro (inclusive) que cheguei a suspirar aliviado por não conhecer o homem e – portanto – ser difícil que ele estivesse esperando por mim. Pensamento bobo, de resto, pois eu não tinha nada a ver com aquilo.

De repente ele se retesou na cadeira. Passos no corredor. Os passos, ou melhor, a pessoa que dava os passos, parou em frente à porta do apartamento. O detalhe era visível pela réstia de luz, que vinha por baixo da porta.

Som de chave na fechadura e a porta se abriu lentamente e logo a silhueta de uma mulher se desenhou contra a luz. Bonita ou feia? – pensei eu. Pois era uma graça, meus caros. Quando ele acendeu a luz da sala é que eu pude ver. Era boa às pampas. Quando viu o cara na poltrona ainda tentou recuar, mas ele avançou e fechou a porta com um pontapé... e eu ali olhando. Fechou a porta, caminhou em direção à bonitinha e pimba... tacou-lhe a primeira bolacha. Ela estremeceu nos alicerces e pataco... tacou a outra.

Os caros leitores perguntarão: − E você? Assistindo àquilo sem tomar uma atitude? A pergunta é razoável. Eu tomei uma atitude, realmente. Desliguei a televisão, a imagem dos dois desapareceu e eu fui dormir.

*****

(Retirado do livro Dois amigos e um chato – Stanislaw Ponte Preta, Editora Moderna)


sábado, 27 de outubro de 2018

Como foram nomeados os Continentes



Ásia vem do acádio asu (“suba”, em português), em referência à terra onde o Sol se levanta. Os romanos nomeavam assim a capital da Lídia – na atual Turquia – e, mais tarde, o continente oriental.

Oceania vem das filhas de Oceano, um dos 12 titãs da mitologia grega, e foi batizada pelo dinamarquês Conrad Malte-Brun no século 19.

Europa também teria vindo do acádio – língua falada na atual Turquia por volta de 1000 a.C. No caso, de erebu, que denota a terra onde o sol se põe.

África se refere à tribo Afri, que vivia em Cartago (atual Tunísia). Os romanos venceram os cartagineses em 146 a.C. e chamaram o território conquistado de África (“terra dos Afri”).

América é uma homenagem ao navegador Américo Vespúcio, que desbravou parte do continente na virada do século 15 para o 16. O cartógrafo alemão Martin Waldseemüller usou mapas de Vespúcio e nomeou o continente.

Antárdida é uma simples oposição ao Polo Norte, com o prefixo “ant” significando oposição ao termo grego arktikos (“perto do urso”), em referência à constelação Ursa Maior, marcante no Hemisfério Norte.
  
(Coluna Oráculo da revista Super Interessante)

São Longuinho

Por que São Longuinho tem fama de achar coisa perdidas?


→ A fama de encontrar objetos tem a ver com o processo de canonização do soldado romano Longinus, tornado santo pelo papa Silvestre II em 999 d.C. O processo se arrastava havia anos por causa da burocracia e de documentos perdidos. Para achar a papelada, o papa teria apelado ao próprio aspirante de santo e sido atendido. Cerca de mil anos antes de virar santidade, Longinus teria, segundo a Bíblia, perfurado Jesus com uma lança para checar se estava mesmo morto na cruz. Pela tradição católica, o banho de sangue curou o soldado de um problema de visão. A partir daí, ele viveu e morreu pelo cristianismo. Depois de beatificado, virou Longuinho (em português) e caiu no gosto dos brasileiros.

(Da revista Super Interessante)

→ Apesar de hoje ser considerado um Santo católico, ele foi o homem responsável por colocar fim à vida de Jesus Cristo, perfurando o peito Dele com uma lança. No entanto, um milagre aconteceu, assim que o sangue de Cristo tocou na sua pele, ele ficou curado de uma grave doença que carregava. De imediato, Longuinho se arrependeu e pediu perdão a Deus declarando: “Esse homem é mesmo o Filho de Deus”. Depois disso, ele abandonou o exército e converteu-se ao Cristianismo. Fugiu para a Capadócia, mas mais tarde acabou por ser encontrado por Pilatos (prefeito da Judeia entre 26 e 36 d.C.) e foi decapitado, torturado e morto. Por volta do século 10, o papa Silvestre II atribuiu o estatuto de Santo a Longuinho, ficando conhecido como hoje o invocamos: São Longuinho.

Oração de São Longuinho

Caro São Longuinho,
patrono dos pobres
e o ajudante daqueles que procuram artigos perdidos,
me ajude a encontrar o objeto que eu perdi:
(diz aqui o objeto perdido)
e que eu encontre melhor uso para o meu tempo
e o use para ganhar para Deus a maior honra e glória.

Oração a São Longuinho

Glorioso São Longuinho, a vós suplicamos,
cheios de confiança em vossa intercessão.
Sentimo-nos atraídos a vós por uma especial devoção,
e sabemos que nossas súplicas serão ouvidas por Deus Nosso Senhor,
se vós, tão amado por Ele, nos fizer representar.
Vossa caridade, reflexo admirável, inclina-se a socorrer toda miséria,
a consolar todo sofrimento,
a suprir toda necessidade em proveito de nossas almas,
e assegurar cada vez mais nossa eterna salvação,
com a prática de boas obras e a imitação de vossas virtudes!
Amém!

A tradição dos três pulinhos

(Versão popular, sem embasamento histórico)

Até hoje, São Longuinho é invocado por quem precisa encontrar algum objeto perdido. Diz-se que ele era um homem baixinho e que, servindo na corte de Roma, vivia nas festas. Nesses ambientes, por sua pequena estatura, conseguia ver o que se passava por baixo das mesas e sempre encontrava pertences de pessoas. Os objetos achados eram devolvidos aos seus donos. Assim, teria surgido o costume de pedir-lhe ajuda para encontrar o que se perdeu. Em agradecimento, segundo a tradição, são oferecidos três pulinhos e uma oração.

Diz-se também que essa forma de agradecimento seria pelo fato de o soldado ser manco. Outra explicação afirma que os pulinhos remetem à Santíssima Trindade

(Do Blog Aleteia)

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

As cinco construções mais antigas de Porto Alegre


Por Luís Eduardo Gomes

→ A história conta que Porto Alegre começou a ser povoada em 1752. A partir da década de 70 do mesmo século começariam a ser erguidos as primeiras grandes edificações ao redor de onde hoje está a Praça da Matriz, como o primeiro Palácio do Governador e a Igreja da Matriz. No entanto, estas construções foram posteriormente demolidas e substituídas por outras edificações.

→ Levando em conta construções que ainda estão sendo utilizadas a partir de suas estruturas originais, o prédio mais antigo da cidade é o atual Memorial do Legislativo, que data de 1790. A seguir, conheça a história das cinco edificações mais antigas de Porto Alegre que ainda estão em funcionamento.


Memorial do Legislativo − Foto: Joana Berwanger/Sul21

1) Memorial do Legislativo

→ Localizado na rua Duque de Caxias, no atual número 1.029, o prédio começou a ser construído entre 1769 e 1772 e foi concluído em 1790 para abrigar a Antiga Provedoria Real da Fazenda. Mais notadamente, a partir de 1835, passou a ser sede da Assembléia Legislativa Provincial, precursora da Assembleia Legislativa. Foi sede do parlamento gaúcho por 132 anos, até 19 de setembro de 1967, quando foi realizada a última sessão plenária ali. Desde 30 de junho de 2010, sedia o Memorial do Legislativo gaúcho, que abriga o acervo arquivístico da Casa.


Igreja Nossa Senhora das Dores − Foto: Joana Berwanger/Sul21

2) Igreja Nossa Senhora das Dores

→ Localizada na Rua dos Andradas, sem número, a Igreja Nossa Senhora das Dores é a igreja mais antiga de Porto Alegre que permanece em pé. O início de sua construção data de 1807, tendo a primeira capela sendo concluída em 1813. No entanto, suas obras só seriam encerradas quase um século depois, em 1903, quando houve a inauguração oficial da igreja. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) ainda em 1938, recentemente tem passado por uma série de reformas para restauração da estrutura original.


Solar dos Câmara − Foto: Joana Berwanger/Sul21

3) Solar dos Câmara

→ Prédio residencial mais antigo da cidade, este casarão começou a ser construído na Duque de Caxias, nº 968, em 1818, sendo concluído seis anos mais tarde. Seu primeiro proprietário foi José Feliciano Fernandes Pinheiro, chefe da Alfândega do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e, posteriormente, primeiro presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. O segundo morador do prédio foi José Antônio Corrêa da Câmara (a partir de 1851), que curiosamente viria a ser o primeiro governador do Rio Grade do Sul, em 1889. O último morador da casa, Armando Pereira da Câmara (até 1975), foi senador e reitor da UFRGS e da PUCRS. Em 1981, o prédio foi adquirido pela Assembleia. Após um tempo fechado, desde 1993 abriga o Departamento de Relações Públicas e Atividades Culturais (DRPAC), onde estão instaladas a Biblioteca Borges de Medeiros, exposições fotográficas da Sala J.B. Scalco* e ocorrem espetáculos musicais gratuitos do projeto Sarau no Solar.


Solar da Travessa Paraíso − Foto: Mariano Czarnobai/Divulgação

4) Solar da Travessa Paraíso

→ Em 1820, começava a ser construído o casarão da Travessa Paraíso, atualmente no número 71, em uma grande área onde é hoje o Morro Santa Teresa. A partir de 1930, o Solar foi dividido para abrigar várias famílias, sendo que de 1970 aos anos 90 o prédio ficou abandonado. No entanto, em 1994, o seu valor arqueológico foi reconhecido pela cidade e a Prefeitura assumiu a posse e promoveu uma restauração do prédio, que foi reinaugurado em 2000. Hoje é sede do festival internacional de teatro Porto Alegre Em Cena


Museu Joaquim José Felizardo − Foto: Maia Rubim/Sul21

5) Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo

→ Fechando a lista, o antigo Solar Lopo Gonçalves foi construído entre 1845 e 1853, na antiga Rua da Margem, conhecida atualmente como João Alfredo. Originalmente, foi usada como chácara pela família Gonçalves Bastos e como residência de cidade para seus herdeiros. Posteriormente, foi de propriedade de outra família e também abrigou a sede do Serviço de Assistência Social e Seguro dos Economiários. Desde 1982, sedia o Museu de Porto Alegre.

(Do Blog Sul21)

*João Batista Scalco (1951-1983) − O espaço cultural recebeu esse nome em homenagem ao gaúcho João Batista Scalco, considerado um dos melhores fotojornalistas do Brasil. Ele atuou na empresa jornalística Caldas Júnior (contratado pela Folha da Tarde), Zero Hora, Jornal da Terra, Jornal de Santa Catarina e na Revista Placar, onde trabalhou por dez anos e era conhecido como “Van Gogh dos pampas”. Na área esportiva, fez a cobertura de quatro Copas Libertadores da América, da Copa do Mundo da Alemanha, de três Campeonatos Mundiais de Fórmula 1 e das Olimpíadas de Moscou.

Em apenas 32 anos de vida, 16 dedicados à fotografia, ele acumulou diversas distinções na área. Um exemplo é o Prêmio Esso de Jornalismo, recebido em 1979, pela cobertura do sequestro dos exilados políticos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz, ocorrido em novembro de 1978. Junto com o repórter Luís Cláudio Cunha, da revista Veja, Scalco foi mantido sob a mira de revólveres por 20 minutos e liberado depois de um breve interrogatório. O fotógrafo reconheceu um dos seqüestradores: um policial que tinha sido jogador de futebol. Os jornalistas conseguiram provar o envolvimento de brasileiros no crime, e seus autores foram condenados por abuso de autoridade. O caso repercutiu no Brasil e no exterior, e um de seus desdobramentos no plano político foi a criação da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia gaúcha, a primeira do país em âmbito legislativo. Scalco morreu de infarto no dia 3 de janeiro de 1983.



Breve tratado dos chatos de eleição

(Elio Gaspari)


Faltando pouco para o segundo turno, está à solta o chato de eleitoral. É um personagem que tenta transformar qualquer conversa em discussão política para defender seu candidato. Assim como sempre haverá gente que enfia o dedo no nariz, não há como evitar que ele exista. Pode-se limitar o alcance de sua chateação cortando-se polidamente o assunto. O general Alfredo Malan tinha uma fórmula: “Política e jogo de cartas me dão sono”. (Não era verdade, mas funcionava.)

Há dois tipos de chatos eleitorais.

O primeiro, benigno, é o militante. Ele supõe que sua palavra iluminada pode conseguir um voto para seu candidato. Esse chato pode ser neutralizado com uma simples mudança de assunto. O melhor remédio é deixá-lo falar o tempo que quiser. Interrompê-lo será estimulá-lo.

O segundo chato eleitoral, maligno, quer vender seu candidato, mas há nele algum tipo de insegurança. Fez sua escolha, mas busca apoio, cumplicidade.

Esse é o tipo mais desagradável e perigoso, porque precisa de uma discussão. Afinal, só assim poderá se convencer que fará o certo, pois mais gente decidiu como ele. Quanto mais corda recebe, mais enfático ou radical se torna. Nesse caso o culpado pela chateação será quem lhe deu corda (...).

Se nenhum recurso der certo, pode-se recorrer ao truque do deputado Temperani Pereira. Depois de ouvir uma exposição de um colega ele lhe disse:

“Sua opinião me deixa incorrobúvel e imbafefe”.

Depois comentou: “Quero ver ele achar essas palavras no dicionário.”




Esta imagem está se movendo?

Ilusão de ótica viraliza nas redes sociais



Ilusão de ótica apresentada pela neurocientista Alice Provérbio
(Crédito: Reprodução/Twitter)

→ Uma imagem publicada no Twitter da neurocentista Alice Proverbio tem viralizado pelas redes sociais por conta de uma ilusão de ótica. Essa imagem faz parte de um trabalho que analisa o funcionamento do cérebro humano.

→ O desenho, de acordo com informações da BBC, foi criado pela artista Beau Deeley e mostra uma esfera deslizando. A sensação é de que é um vídeo ou um gif, enganando quem está vendo.

→ Segundo a neurocientista, a imagem é estática, mas nosso cérebro acaba sendo enganado e imagina que existe um movimento. Ela ainda afirma que o efeito é produzido no nosso córtex visual, o responsável por processar tudo que vemos.

→ Na entrevista para a BBC, Alice ainda diz que em telas não muito grandes, como as de celular, a imagem pode não ganhar o efeito desejado.

ISTOÉ, outubro de 2018.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Os sapos



(Arriscar, às vezes, é a melhor coisa a se fazer.)

Existem três sapos na beira de um lago, e um deles decide pular da beira para a água. 

Quantos sapos restam na beira do lago?

A resposta certa é: Restam três sapos. Porque o sapo apenas decidiu pular na água. Ele não fez isso.

Nós não somos como sapo muitas vezes? Que decide fazer isso, fazer aquilo, mas, ao final, acabamos não fazendo nada? 

Na vida, temos que tomar muitas decisões. 

Algumas fáceis; algumas difíceis.

A maior parte dos erros que cometemos não se deve às decisões erradas, mas sim, às indecisões. 

Temos que viver com as consequências das nossas decisões. 

E isto é arriscar. 

Tudo é arriscar. 

Ser feliz é a consequência de muitos riscos.



quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O Caso do Padre Ventríloquo

Por Rolando Boldrin


O Zequinha, menino de uns 10 anos de idade, era na fazenda do meu padrinho o que se pode chamar de “charrete boy”. Na cidade tem o motoboy, não tem? Então! Nas fazendas tem – ou tinha naquele tempo, que já vai longe – o charrete boy. O menino que com a charrete do fazendeiro vai buscar as coisas ou as pessoas na cidade.

Pois naquele dia, o Zequinha tinha ido buscar na cidade o Padre Antônio, que estava iniciando sua temporada por lá. Era um padre novo e tinha uma particularidade que a gente só ficou sabendo depois desse causinho que tô contando aqui e agora: ele era ventríloquo. Um dom que poucas pessoas possuem que é o de falar sem abrir a boca. Dizem que é uma técnica de emitir os sons pelo estômago. Aliás, um grande ventríloquo que existiu no Brasil foi o pai das cantoras Linda e Dircinha Batista. Chamava-se Batista Junior e se apresentava em circos e teatros. E, de lambuja, era um grande compositor.

Mas, seguindo no causo. O Padre Antônio sobe na charrete com o caipirinha Zequinha, ruma a fazenda do meu padrinho pra rezar uma missa. Logo na saída, o padre pergunta se era longe a tal fazenda, ao que o menino prontamente e muito espertamente lhe responde que levaria uns pares de horas. O que dava pra entender que era longe pra cacete e a viagem ia ser dolorosa ou dolorida para um padre que não estava acostumado a meter a bunda no banco duro de uma charrete velha conduzida por uma eguinha lerda.

Padre: – Oh, menino! Você sabia que os animais conversam?

Zequinha: – Entre eles, eu sabia, sim sinhô. Eles cunvérsa bastante.

Padre: – Não, filho. Estou dizendo que os animais conversam com a gente. Conosco. Mas para isso é preciso conversar com eles com muito amor. Você quer ver os animais conversando comigo?

Aí o menino, esperto, se encanta e atiça.

Zequinha: – Ara, sêo padre. Essa eu tô pagando pra vê. Animar conversa cum gente. Essa nunca vi não sinhô. E o sinhô me adiscurpa, mas num querdito.

Padre (falando para a égua): – Dona eguinha! Está muito pesada a charrete? (E faz a voz da égua sem abrir a boca) − Tááá... sêo padre.

O menino, num susto, para a charrete.

Zequinha (gaguejando): – Sêo... padre... a égua falô... a minha égua... respondeu pru sinhô... eu escutei...

Padre: – Todos os animais conversam com a gente. Quer ver mais?

O padre olha um urubu nos céus e fala:

Padre: – Bom dia, urubu. (E faz voz.) Bom dia, parceiro. Bom dia, sêo padre.

E assim, o Padre Antônio foi se divertindo com a surpresa encantada daquele caboclinho, que viu com os próprios olhos e ouvia ali, in loco, os bichos falando com aquele padre. Com isso, a viagem, que poderia ser longa, terminou logo, logo.

Zequinha: – Óia, sêo Padre! O sinhô tá vendo aquela cabrita branca ali na grama? Por favor, o sinhô num querdite em nada que ela falá prô sinhô, viu!