Sérgio Gaúcho Azevedo
Tenho
o prazer de postar a doçura da nossa infância do anos 60 e fim de 70 em
Sant'Ana do Livramento! Nosso ícone era o “velho Pinga” e suas balas de mocotó!
Todo
domingo eu ficava esperando
o
velho Pinga aparecer,
numa
guampa ele vinha tocando
anunciando
o que era gostoso de ver.
O
som ia chamando e a gurizada
freneticamente
se punha a correr.
As
balas eram as mais gostosas
que
não dava para comer uma só
e
o velho Pinga docemente tocava
anunciando
balas de leite e mocotó.
Era
toda a semana essa doce espera
ouvir
o som da “guampa” tocar.
Fazer
esse tempo voltar... Quem dera!
Ver
novamente o velho pinga passar.
Sabor
que adoça minhas lembranças
eternizando
o gosto no meu paladar
em
sonhos volto sempre à infância
onde
a saudade jamais vem só
e
não há tempo que a extinga,
pois
é nela que abraço o velho Pinga.
saboreando
suas balas de mocotó.
Tenho
o prazer de postar a doçura da nossa infância do anos 60 e fim de 70 em
Sant'Ana do Livramento! Nosso ícone era o “velho Pinga” e suas balas de mocotó!
Nosso
doble chapa “Gaúcho da Fronteira” fala nesse ícone santanense em uma de suas
músicas...
Música do Gaúcho da Fronteira:
Cerro
do Marco quero levantar pandorgas,
Na
rua d′água cruzar levantando pó;
Ouvir
um grito pelas ruas da cidade ééé...
O
velho Pinga vendendo balas de mocotó;
Mocotó
com leite dá força e dá vigor,
Mocotó
com leite dá força e dá vigor;
Minha
terra, minha gente,
o
meu povo quero ver tudo de novo...
quero
ver tudo de novo...
“Mocotó com leite dá força e dá
vigor. Do Pinga cinco. Do Pinga, por favor!” Assim cantava o Velho Pinga, entre
toques de berrante, a sua canção pelas ruas e praças de Sant’Ana do Livramento,
nos anos 1970 e 1980. A
gurizada corria, alegremente, ao seu encontro, louca para saborear as balas de
mocotó-com-leite. O “Viejo de la guampa”, antes de entregar o produto ao
infante cliente, contava e recontava as balas e dizia “vai uma de inhapa”,
ainda que entregasse apenas as cinco balas compradas.
Nas histórias das balas, contadas
de geração em geração, sempre se faz presente, junto ao Pinga, uma saudosa
atmosfera do passado desta Fronteira. É como se o berrante, a canção, a caixa
de balas enroladas em papel branco, a piada e os passos do Velho Pinga tivessem
o poder de reconstruir uma cidade que não mais existe, mas que ainda está por
aí… viva nas memórias de quem o conheceu ou escutou as histórias contadas a seu
respeito.
Pensando nas famosas balas de
mocotó-com-leite me ocorreram várias ideias, tais como: resgatar a receita
original; propor ao curso binacional de gastronomia do IFSul-UTU a realização
de uma pesquisa sobre essa originalíssima iguaria; articular as forças
políticas para declará-la, oficialmente, como patrimônio imaterial da
Fronteira; e ainda, produzi-la com a finalidade de distribuí-la aos turistas
que acorrem às cidades de Rivera e Sant’Ana do Livramento.
Comecei a conversar com as
pessoas sobre essas ideias, e a partir dos diálogos, cheguei à conclusão de que
o meu intento é irrealizável. Primeiramente, é impossível refazer a bala porque
a receita morreu junto como seu criador. Pinga tinha segredos culinários que
nunca contou para ninguém. E, em segundo lugar, porque uma bala de
mocotó-com-leite similar não seria a mesma bala do Pinga, faltar-lhe-ia o ser
social do passado que a gerou, sobretudo, os espaços urbanos e as pessoas que
não mais existem. A bala do Pinga, sem o Pinga, seria uma ideia tão absurda e
ilógica como uma chuva sem água.
Além dos ingredientes essenciais
à sua fabricação, o mocotó e o leite, a bala do Pinga, guardada na caixa da
memória, é adocicada pela saudade dos amigos de infância; pela recordação das
ruas, esquinas, prédios, sinaleiras e praças do passado; pela lembrança dos
jogos no estádio de futebol ou dos desfiles no Dia da Pátria; pela
reminiscência da companhia de uma vó, de um tio, ou, até mesmo, dos pais que
pagavam pelo doce mais famoso e característico da Fronteira – ou seja, por
ingredientes que residem apenas na memória coletiva do povo fronteiriço e que,
portanto, não caberiam numa panela.
De toda essa história, talvez o
dado mais interessante, seja o quanto a intangível bala do Pinga suscita um
desejo, ainda maior, em quem não viveu aquele tempo. A famosa guloseima é
inesquecível até mesmo para quem nunca a provou com o paladar, mas teve a
oportunidade de devorá-la por meio das histórias, carregadas de emoções e
saudades, contadas e recontadas pelas crianças de ontem para as crianças de
hoje.
Por isso, a melhor homenagem que
se pode fazer ao Pinga, e ao seu mundo, não reside na recriação da bala de
mocotó-com-leite “que dá força e dá vigor”. Tal feito não passaria de um
simulacro incapaz de recriar a bala original. Por isso, quem quiser encontrar a
bala do Pinga que a busque lá onde ela sempre esteve viva, presente e
disponível para a degustação. Busquem-na na memória e nas histórias do povo da
Fronteira. Ah! E parece que ainda leva uma de inhapa.
(Do saite: www.aplateia.com.br)