sábado, 29 de março de 2014

Ao entardecer da vida



Vem sentar-te ao meu lado, no banco diante de nossa casa, minha mulher! É teu direito – vai fazer quarenta anos que estamos juntos.

Esta tarde é também a tarde de nossa vida. Já agora nossos filhos estão arranjados, foram-se embora. E novamente estamos apenas nós dois como começamos.

Lembra-te, minha mulher: nada tínhamos para começar, tudo estava por fazer. E pusemos mãos à obra! É trabalhoso, mas é preciso coragem, perseverança. Para isso, é preciso amor, e o amor não é aquilo em que a gente pensa ao começar. Não são apenas esses beijos mutuamente dados, essas palavrinhas ditas ao ouvido, ou conservarem-se juntinhos os dois. Longo é o tempo da vida, o dia das núpcias é apenas um dia...

Vêm os filhos; é necessário alimentá-los, vesti-los, educá-los: é um nunca acabar. Sucede também ficarem doentes. Tu ficavas de pé toda à noite. Quanto a mim, trabalhava da manhã à noite.

Às vezes a gente se desesperava. Seguem-se os anos, e não se progride. Tem-se a impressão de que se está voltando atrás. Lembras-te disso?

Quantos cuidados, quantas contrariedades! Todavia, aí estavas tu. Fomos fiéis um ao outro. E assim tenho conseguido apoiar-me em ti, e tu te apoiavas em mim. Tivemos muita sorte de estarmos juntos. Entregamo-nos ambos ao trabalho, suportamos e vencemos as dificuldades.

O verdadeiro amor não é o que se pensa. O amor verdadeiro não é de um dia, mas de todos os dias. É ajudar, é compreender um ao outro. E, pouca apouco, vê-se que tudo se arranja. Os filhos ficaram grandes, fizeram-se gente de préstimo. Nós lhes havíamos dado o exemplo. Consolidaram-se os fundamentos da casa. Se forem sólidas todas as casas do país, este também será sólido.

Por isso, põe-te ao meu lado e olha – pois é o tempo da colheita e de ajuntar no paiol, quando o céu está róseo e uma poeira dourada se ergue por toda parte entre as árvores!

Encosta-te bem a mim, não falaremos: não precisamos mais dizer nada um ao outro. Só queremos estar juntos mais uma vez e deixar chegar a noite, no contentamento da tarefa cumprida.

(Esta comovedora história figura na caderneta de família 
que os recém-casados recebem do Registro Civil, 
no Cantão de Vaud, Suíça.)




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