sábado, 26 de abril de 2014

O Pif Paf

Cinquenta anos depois...

Em abril de 1964, estava Millôr Fernandes em Lisboa numa festa, quando o cantor e humorista Juca Chaves deu-lhe a notícia que ele havia sido dispensado de O Cruzeiro. Ele foi acusado de ter colocado na revista, sem que ninguém visse, 12 páginas em 4 cores de uma matéria especial comprada seis meses antes, A Verdadeira História do Paraíso. A revista O Cruzeiro tinha sido tão odiosa e tão tosca, na sua agressão, que reuniu toda a imprensa contra ela.

Depois disso, Millôr lançaria a uma revista independente chamada Pif Paf, um êxito rotundo, menos para a censura, que acabou com a publicação de apenas 8 números.

 

(O primeiro editorial de O Pif Paf)

Como princípio

I      – Estamos convencidos de que a pior da nossa Democracia, é que ela acaba sempre na mão dos democratas.

II     – Precisamos rever todos os princípios da Justiça Brasileira. Nossa justiça ainda tão complicada, tão cheia de burocracia, que dentro em breve ninguém mais terá coragem de ser malfeitor.

III    – Pretendemos meter o nariz exatamente onde não formos chamados. Humorismo não tem nada a ver e não deve absolutamente confundido com a sórdida campanha do “Sorria Sempre”. Essa campanha é anti-humorística por natureza, revela um conformismo primário, incompatível com a alta dignidade do humorista. Quem sorri sempre ou é um idiota total ou tem a dentadura mal ajustada.

IV    – Nossa intenção básica é fazer com que os homens de bem se arrependam.

V     – Os comunistas são contra o lucro. Nós somos contra os prejuízos.

VI    – Jamais esqueceremos o fundamental: da vida ninguém escapa.

VII  – Procuramos mostrar que este país não pode melhorar enquanto o governo gastar todo o seu dinheiro na propaganda da rosca e a oposição colocar todos seu esforço na condenação do furo.

VIII – Esta revista será de esquerda nos números pares e de direita nos números ímpares, As páginas em cor serão, naturalmente, reacionárias, e as em preto e branco populistas e nacionalistas. Todos os comerciantes e industriais que não anunciarem serão olhados com suspeitas, pois “quem não anuncia, se esconde”.

IX   – Devemos rever tudo, pois estamos seguros de que mais vale um pássaro voando do que dois não mão, cão que ladra só não morde enquanto ladra, e, se o hábito não faz o monge, contudo fa-lo-á parecer de longe. Por isso a cavalo dado deve-se olhar os dentes com atenção redobrada.

X     – Todo homem tem o sagrado direito de torcer pelo Vasco na arquibancada do Flamengo.


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