“Rosa”
é de 1917 e chamou-se originalmente “Evocações”, só recebendo letra mais tarde.
“O autor dessa letra” - esclarece Pixinguinha (Alfredo da
Rocha Viana Filho), que fez música, é Otávio
de Souza, um mecânico do Engenho de Dentro (bairro carioca) muito
inteligente e que morreu novo. Sobre a gravação original, há um erro de
concordância e palavra de Orlando Silva, que canta “sândalos dolentes” (olentes=odorantes).
Aliás, o cantor abandonou esta música após a morte de sua mãe, dona Balbina,
1968. Era sua canção favorita, e o sensível Orlando jamais conseguiu voltar a
cantá-la sem chorar.
“Rosa” é uma linda valsa-canção “de
breque”, mas de difícil interpretação vocal, especialmente para o uso de
legatos, já que as pausas naturais são preenchidas por segmentos que restringem
os espaços para o cantor tomar fôlego. Quanto à letra, é também um exemplo do
estilo poético rebuscado em moda da época.
Rosa
(Letra de Otávio de Souza e
Música de Pixinguinha)
Tu és divina e graciosa, estátua majestosa
Do amor, por Deus esculturada e formada com ardor!
Da alma da mais linda flor, de mais ativo olor,
Que da vida, é preferida pelo beija-flor.
Se Deus me fora tão clemente,
aqui neste ambiente,
De luz, formada numa tela
deslumbrante e bela.
O teu coração junto ao meu,
lanceado, pregado
E crucificado sobre a rósea e a cruz
do arfante peito teu.
Tu és a forma ideal, estátua
magistral,
Oh! Alma perenal, do meu
primeiro amor, sublime amor.
Tu és de Deus a soberana flor.
Tu és de Deus a criação, que em
todo coração,
Sepultas o amor, o riso, a fé e
a dor
Em sândalos olentes cheios de
sabor,
Em vozes tão dolentes como um
sonho em flor.
És láctea estrela,
És mãe da realeza,
És tudo, enfim, que tem de belo
Em todo o esplendor da santa
natureza.
Perdão, se ouso confessar-te,
Eu hei de sempre amar-te.
Oh! Flor, meu peito não resiste,
Oh, meu Deus, quanto é triste
A incerteza de um amor que mais
me faz penar
Em esperar em conduzir-te, um
dia, ao pé do altar.
Jurar, aos pés do Onipotente, em
prece comovente,
De dor e receber a unção de tua
gratidão.
Depois de remir meus desejos em
nuvens de beijos,
Hei te envolver até meu padecer,
de todo o fenecer.
Colaboração do
jornalista Jair Teixeira e pesquisa no livro: “A Canção no tempo –
85 anos de Músicas Brasileiras – Vol. 1: 1901-1957, de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello.
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