segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Só mesmo trepando em árvore



Aconteceu na revolução dos mineiros e paulistas, que agente não gosta de lembrar, porque irmão brigar com irmão é coisa muito feia. Onde já se viu? Mas naquele tempo, eles brigaram feio!

Pois bem. Vinha por uma estrada o nosso personagem. Um caipira que não queria nada com essa briga que eu falei. E ele era paulista. Estava, portanto, em território dele. Eis que surge um punhado de guerrilheiros, que o nosso caipira pensou ser de procedência paulista. Engano! Era uma turma de mineiros à procura de paulista pra móde descer, como lá diz o outro, o cacete!

Ao chegar perto do capiau, um dos integrantes do grupo de mineiros perguntou:

 Ocê aí, capiau? Ocê é paulista ou mineiro?

Caipira (pensando que eram paulistas):

 Ué. Eu sô polista quiném ocêis. Tô na minha terra.

Foi só falar que era paulista e já recebeu a primeira paulada da turma. E daí se seguiu um punhado de soco e pontapé, até deixarem o coitado estendido.

Dali a pouco, já refeito e cheio de hematomas, lá vai o nosso caipira pela estrada, quando surge agora outro grupo. Desta vez, de paulistas.

 Ocê aí, caipira duma figa. Ocê é paulista ou mineiro?

Caipira (pensando que era outro grupo de mineiros):

 Eu? Eu sô das Minas Gerais, uai!

Foi só falar e receber uma pancada surda de cacete bem dada. E, como antes, porrada pra cá e pra lá, de todo o jeito. Lá ficou o nosso bom capiau quase desacordado.

Dali a pouco, lá estava ele, pela estrada, andando até com certa dificuldade, quando avista outro grupo de guerrilheiros se aproximando. Mais do que depressa, procura uma árvore frondosa e nela se atrepa pra se esconder da turma, pois já não saberia se era um grupo de paulistas ou de mineiros. E apanhar de novo era o que ele não queria.

Pois bem. Ficou ali atrepado, escondido, esperando que os marvados passassem direto. Mas qual! Pararam justamente embaixo da tal árvore pra descansar ou fumar um de palha gostoso.

De repente, um dos guerrilheiros, olhando distraidamente para o alto, ali descobre o nosso capiau atrepado. Chama a atenção do grupo e, em voz de comando, pergunta ao capiau asperamente:

 Ocê aí? Ô capiau duma figa. Diga pra gente aqui: ocê é paulista ou mineiro?

Então o nosso capiau responde com voz tremida:

 Hein? Quem eu? Eu... eu...sou... sou... Eu sou fruita!

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 (Rolando Boldrin “Contando Causos”)


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