Estação Férrea da
Tristeza - 1902
Tristeza
não seria denominação escolhida por um especialista em marketing, para vender terrenos, casas ou sítios de lazer. Mas o
subúrbio porto-alegrense que adotou esse nome há século e meio, longe de ser
aborrecido ou melancólico, sempre foi bairro inclinado à alegria e à recreação.
Depois de um passado agrícola como
produtor de frutas e hortigranjeiros, veio a ser a primeira estação de veraneio
dos porto-alegrenses ricos, que ali mantinham chácaras e mansões de lazer à
margem do Guaíba. Foi o tempo em que os trenzinhos da Estada de Ferro do Riacho
– uma ferrovia municipal que durou até a década de 1930 – faziam seis viagens
por dia até o subúrbio, obrigando-se a nove viagens nos domingos, para atender
à demanda dos excursionistas dominicais. Depois disso, sem trens mas servida
por ônibus, a estação de veraneio se fez bairro, cresceu e multiplicou-se,
ganhou clubes náuticos, bares, restaurantes, colégios, comércio forte. Mas
nunca perdeu o rótulo de Tristeza,
desafio e enigma para os que não sejam familiarizados com a crônica da cidade e
de seus arrabaldes.
Estação da Estrada de Ferro do Riacho
A origem desse nome singular foi bem
estudada pelo historiador Ruben Neis, que identificou perfeitamente no
português José da Silva Guimarães Tristeza a origem do topônimo. Personagem e
caso muito antigos, da virada do século 18 para 19.
Talvez porque tivesse perdido,
recém-nascidos, seus dois filhos mais velhos, José da Silva Guimarães, ao batizar
sua terceira filha, Senhorinha, registrou-a com o sobrenome fantasioso de
Tristeza, que desde então incorporou ao nome de seus filhos e ao seu próprio.
Para completar sua má sorte, José faleceu em 1826, aos 42 anos, fulminado por
um raio, deixando quatro filhos na orfandade. E nunca mais deixou de ser
referido por seus vizinhos e descendentes como o “finado Tristeza”, cuja grande chácara tinha sede precisamente na atual
“Vila Conceição”, parcela expressiva do bairro.
Na planta de uma mediação judicial de
1833, de que possuímos cópia, na área da atual Tristeza são mencionadas apenas
duas casas, ambas na proximidade da Ponta dos Cachimbos: a morada de Bernardino
José Sanhudo e a “casa de moradia do falecido Tristeza”.
Sérgio da Costa Franco – “A Velha Porto Alegre” – Edigal
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