Momento
Tudo acaba, meu filho, nesta vida:
o poder, a fortuna, a sorte dura,
a mesma glória, ainda a mais subida
e o próprio pó da fria sepultura.
Que seja sempre nobre e comedida
tua ânsia de progresso e de ventura:
Raro palmilha a Terra Prometida
o tolo visionário que a procura.
Tudo acaba, meu filho. Resta apenas,
o espírito a boiar nas trevas plenas,
ou no abismo de luz da Divindade.
Os teus problemas, pois, enquadra-os nisto:
Não te afastes jamais da lei de Cristo
e trabalha, fitando a Eternidade!
Conselho paterno
Ao preto velho, trôpego, alquebrado,
aos pobres anciãos de mão tremente,
atende-os tu, meu filho, paciente,
e nunca lhes recuses um bocado.
Além de te prostares cristãmente,
presta um preito ao lidador cansado,
um herói, bem possível, do passado,
nas lutas pela glória do presente.
Atende-os. São a própria experiência,
que, justa e sábia, quase sempre iguala
ao mesmo verbo, à luz da Providência.
Meu filho: Deus, que fala no Evangelho,
muitas vezes ao mundo também fala
pela boca de um pobre negro velho.
→ Ezechias Jerônimo da Rocha
nasceu a 8 de dezembro de 1898, em Sertãozinho (hoje Major Isidoro – homenagem
que os alagoanos prestaram ao velho patriarca fundador daquelas brenhas e avô
do poeta). Faleceu no Rio de Janeiro em 8 de abril de 1983.
→ Fez os preparatórios no
«Colégio II de Janeiro» e o curso de Medicina na Bahia. Clinicou em Maceió
durante trinta anos. Foi diretor da Saúde Pública, deputado estadual e
catedrático de História Natural do Colégio Estadual.
→ Foi senador federal pelo Estado
de Alagoas. Publicou: «Musa Antiga» Maceió, 1947, coletânea de versos
condoreu»; com que ganhou o «Prêmio Otton Bezerra de Melo», conferido pela
Academia Alagoana de Letras, de que é sócio e ocupante da cadeira de Cassiano
de Albuquerque; «A Vida dos Cristais», tese para a cadeira de História Natural,
do Liceu Alagoano.
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