Por Darcy Ribeiro
A bunda, meus amigos, é a flor do
corpo. Coitado de quem não a tem ou de quem a perdeu, desbundado. Ela cumpre
altas funções heráldicas. Prescreveu a cauda, muito útil mas deselegante. Opera
maravilhosamente como almofada belamente partida ao meio, que protege o cóccix.
É também boa para castigar crianças e pra gente beliscar mulher. Tem, porém,
ambos altos usos, de que falarei adiante. Um dos meus orgulhos maiores de
brasileiro é que essa palavra é só nossa: b. u. n. d. a. Os portugas falam de
traseiro, quartos, poto, nádegas, cu, expressões todas elas indignas do que há
de mais belo e que caracteriza universalmente a mulher brasileira, tida em toda
parte como heroicamente bunduda.
A expressão nos vem dos escravos
hotenti, que são a gente mais bunduda desse mundo, e que falam a língua
quibundo. No Brasil, ao apontar e distinguir uma negra diziam: “Olha lá aquela
quibunda”. Daí a expressão africana se concentrou no essencial, e não só as
hotentotes, mas todos os homens e mulheres bem providos de traseiros passaram a
ser chamados bundudos. Não é maravilhoso termos uma expressão linguística só
nossa para indicar a flor do corpo?
(In revista Bundas –
5 de julho de 1999)
Desenho de Paolo
Serpieri
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