Resumo prático para professores de Literatura Brasileira
1. Impressionismo: → Movimento de
vanguarda europeu, nascido no território das artes plásticas, em especial a
pintura, no final do século XIX.
“Não às coisas, mas à impressão das coisas.”
(Claude Monet)
2. Características do Impressionismo:
→ O impressionismo é uma fusão de elementos realísticos e
simbólicos. A reprodução da realidade de uma maneira objetiva, minuciosa,
constituía a norma realista.
→ Para o impressionista a
realidade ainda é foco de interesse, mas o que ele pretende registrar e a
impressão que a realidade provoca no espírito do artista, no momento mesmo em
que se dá a impressão.
→ O importante não o objeto, e
sim as sensações e emoções que o objeto desperta num determinado instante.
→ O impressionista capta o
instante, o fragmentário, o instável. O tempo constitui, portanto, o elemento
básico do movimento.
3. Principal escritor do impressionismo brasileiro:
→ Raul Pompeia nasceu em 1863, no
Rio de Janeiro, onde se suicidou na noite de Natal de 1895.
→ Militante radical nos
movimentos abolicionistas e republicano, suas opiniões e atitudes políticas
custaram-lhe caro: perdeu o emprego de diretor da Biblioteca Nacional e teve
várias polêmicas azedíssimas. Devido a essas disputas
políticas, Pompeia teve um sério atrito com Olavo Bilac e
Luís Murat, que escreveu um artigo chamado “Um Louco no Cemitério”. Tais
perturbações o levaram ao suicídio em 25 de dezembro de 1895, no escritório da
casa que morava com sua mãe, que assistiu à morte. Nunca se casou e nem teve
filhos. Suas últimas palavras foram deixadas em um bilhete: “Ao jornal A
Notícia, e ao Brasil, declaro que sou um homem de honra”.
4. Obras:
a) Romances:
→ Uma tragédia no Amazonas (1880);
→ As Joias da Coroa (1882);
→ O Ateneu (Crônicas de Saudade) (1888) - principal obra do
autor.
5. Comentário sobre a principal obra de Raul Pompeia:
“O Ateneu - Crônicas de Saudade”
como o próprio subtítulo indica, é um livro de memórias, ou seja, o tempo da ação
é anterior ao tempo da narração: o personagem Sérgio, já adulto, narra seu
tempo de aluno interno no Ateneu; a narrativa é feita em primeira pessoa, e
Sérgio é o personagem-narrador, o que permite ao autor entrar no complexo mundo
das revelações que só se fazem à consciência. E mais ainda: O Ateneu é um
romance autobiográfico; a fronteira entre a ficção e a realidade é muito
frágil. As identidades são claras: Sérgio é Raul Pompéia; o Dr. Aristarco
Argolo de Ramos, Visconde de Ramos, do Norte, é na realidade o Dr. Abílio César
Borges, Barão de Macaúbas, do Norte; o Ateneu é o Colégio Abílio; Sérgio, assim
como Raul Pompeia, entra no colégio com 11 anos de idade.
O Ateneu é uma obra que permite
duas leituras: uma no campo individual, fruto da vivência de Sérgio/Raul
Pompeia como interno no Ateneu/Colégio Abílio e representa a “vingança” do
autor contra a estrutura do internato; outro no campo político-social,
ampliando o universo, sendo o Ateneu a própria representação da Monarquia
decadente e Aristarco, do governo. Ambas as leituras, no entanto, não podem ser
vistas isoladamente e independente; ao contrário, elas se fundem, as
interpenetram, se completam. (artistarco = aristocrata = aristocracia)”.
O Ateneu
(Fragmento)
Os companheiros de classe eram
cerca de vinte; uma variedade de tipos que me divertia. O Gualtério, miúdo,
redondo de costas, cabelos revoltos, motilidade brusca e caretas de símio -
palhaço dos outros, como dizia o professor; o Nascimento, o bicanca, alongado
por um modelo geral de pelicano, nariz esbelto, curvo e largo uma foice;
o Álvares, moreno, cenho carregado, cabeleira espessa e intonsa de vate de
taverna, violento e estúpido, que Mânlio atormentava, designando-o para o
mister das plataformas de bonde, com a chapa numerada dos recebedores, mais
leve de carregar que a responsabilidade dos estudos; o Almeidinha, claro,
translúcido, rosto de menina, faces de um rosa doentio, que se levantava para
ir à pedra com um vagar lânguido de convalescente; o Maurílio, nervoso,
insofrido, fortíssimo em tabuada: cinco vezes três, vezes dois, noves fora,
vezes sete?... lá estava Maurílio, trêmulo, sacudindo no ar o dedinho
esperto... olhos fúlgidos no rosto moreno, marcado por uma pinta na testa; o
negrão, de ventas acesas, lábios inquietos, fisionomia agreste de cabra, canhoto
e anguloso, incapaz de ficar sentado três minutos, sempre à mesa do professor e
sempre enxotado, debulhando um risinho de pouco vergonha, fazendo agrados ao
mestre, chamando-lhe bonzinho, aventurando a todo ensejo uma tentativa de
abraço que Mânlio repelia, precavido de confianças; Batista Carlos, raça de
bugre, válido, de má cara, coçando-se muito, como se o incomodasse a roupa no
corpo, alheio às coisas da aula, como se não tivesse nada com aquilo,
espreitando apenas o professor para aproveitar as distrações e ferir a orelha
aos vizinhos com uma seta de papel dobrado. Às vezes a seta do bugre
ricochetava até a mesa de Mânlio. Sensação; suspendiam-se os trabalhos;
rigoroso inquérito. Em vão, que os partistas temiam-no e ele era matreiro e
sonso para disfarçar.
Dignos de nota havia ainda o Cruz,
tímido, enfiado, sempre de orelha em pé, olhar covarde de quem foi criado a
pancadas, aferrado aos livros, forte em doutrina cristã, fácil como um
despertador para desfechar as lições de cor, perro como uma cravelha para ceder
uma idéia por conta própria; o Sanches, finalmente, grande, um pouco mais moço
que o venerando Rebelo, primeiro da classe, muito inteligente, vencido apenas
por Maurílio na especialidade dos noves fora vezes tanto, cuidadoso dos
exercícios, êmulo do Cruz na doutrina, sem competidor na análise, no desenho
linear, na cosmografia.
O resto, uma cambadinha indistinta,
adormentados nos últimos bancos, confundidos na sombra preguiçosa do fundo da
sala.
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