quinta-feira, 23 de junho de 2016

Aviso de sinistro de acidentes pessoais


Companhia Fidelidade Lisboeta de Seguros Gerais
Filial de Cascais – Comarca de Sintra
Aviso de sinistro de acidentes pessoais

Segurado: CONSTRUTORA ALENTEJANA RESP. - LTDA./Apólice n° 012.3-45/001/Prazo de validade real: 30 de outubro de 1987.

Elemento sinistrado: Manoel João Torres Borges/data do acidente: 20 de setembro de 1987.

Horário local: 14:30 / idade: 34 anos/casado/nacionalidade portuguesa/branco/80 quilos/contratado em horário integral.

Exmos. Senhores:

Em resposta ao vosso pedido de informações adicionais, declaro:

No quesito 3, mencionei “tentando fazer o trabalho sozinho” como causa de meu acidente. Como em vossa carta é solicitada uma explicação mais pormenorizada, espero que os detalhes abaixo sejam efectivamente suficientes.

Sou assentador de tijolos e, no dia do acidente, estava eu trabalhando sozinho no telhado dum edifício novo de seis andares. Quando acabei meu trabalho, percebi que havia sobrado 250 quilos de tijolos intactos. Ao invés de usar a escada dos trabalhadores e levá-los nas mãos para baixo, decidi-me por colocá-los dentro dum barril e com a ajuda de uma roldana que, inclusive, estava fixada num dos lados do edifício, iniciei ao que me propunha.

Desci até o rés-do-chão e atei o barril com uma corda, fui para o telhado e puxei-o para cima e deitei-lhes os tijolos adentro. Voltei para baixo e desatei a corda segurando-a com força de modo que os 250 quilos de tijolos descessem devagarinho (notem que no devido quesito menciono que o meu peso é de 80 quilos).

Devido a minha enorme surpresa por ter saltado repentinamente do chão, perdi minha presença de espírito e esqueci-me de largar a corda. É desnecessário dizer que fui içado para o alto e com grande velocidade. Nas proximidades do terceiro andar, embati-me contra o barril que vinha a descer. Isso explica a fractura de crânio e a quebra de uma das clavículas.

Continuei a subir, porém com uma velocidade ligeiramente menor e somente fui parar, lá no alto, quando os nós de meus dedos ficaram entalados nas roldanas. Felizmente eu já tinha recuperado minha presença de espírito e, apesar das dores, consegui agarrar-me à corda. Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu no chão, quando o fundo partiu-se. Sem os referidos tijolos, o barril pesava somente 25 quilos (confiram, por favor, meu peso no quesito 1) e como podem imaginar Vossas Senhorias, comecei a descer rapidamente. Quando eu estava próximo do terceiro andar, encontro novamente o barril vazio que vinha a subir e isso justifica a natureza dos tornozelos partidos e das lacerações nas pernas e inclusive nas partes inferiores do corpo. O encontro com o barril fez com que diminuísse a velocidade de minha descida, o que de facto minimizou os meus sofrimentos provocados pela queda em cima dos tijolos, no momento em que, felizmente, só fracturei três vértebras.

Profundamente constrangido pelo prejuízo que acabei provocando para Vv.Sas. lamento informar que quando me encontrava deitado no chão, por cima dos tijolos, acometido de dores e incapacitado de levantar-me, perdi novamente minha presença de espírito e larguei a corda, sem perceber que o barril estava lá no alto, sobre minha pessoa. Portanto, ele pesava mais que a corda (vide parágrafo 5), ele desceu rapidamente e caiu em cima de mim, ocasião em que me partiu as duas pernas. Pronto.

Na certeza de que tenha dado as informações esclarecedoras, com apreço, subscrevo-me.

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Manoel João Torres Borges


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