Texto de Arnaldo
Branco
Hoje todos estão familiarizados com
programas que tiram dúvidas sobre sexo na TV. Mas poucos se lembram da primeira
tentativa de levar ao ar uma atração desse tipo, no tempo em que não se podia
nem usar a palavra “sexo”.
Segredos
da Alcova (1962), com esse nome lúbrico, enganava o telespectador sedento
por informações e, quem sabe, a visão de alguma coisa que pudesse servir como
enredo masturbatório. Mas a censura da época, que obrigava os apresentadores
(Glória Menezes e José Lewgoy) a usar termos científicos e parábolas, fazia com
que muitos se perguntassem se estavam mesmo falando sobre relações sexuais.
Eram tempos em que ainda não havia farta disponibilidade de pornografia e a virgindade era um item tão valorizado em um casamento quanto hoje são os acordos pré-nupciais. Portanto algumas das dúvidas dos telespectadores eram bem básicas; boa parte delas tinha a ver com a exata localização do órgão sexual feminino.
Além de responder as perguntas dos
telespectadores, havia um “Quiz”* com convidados famosos. Alguns deles pagaram
vexames incríveis por desconhecimento de causa, como o governador da Guanabara,
Carlos Lacerda, que disse que Trompa de Falópio
era uma prática sexual condenada pela Bíblia.
É preciso lembrar que o
relatório Kinsey e outras pesquisas na área começavam a se popularizar ‒
portanto os próprios apresentadores também nem sempre sabiam do que estavam
falando. Glória certa vez afirmou que masturbação (“coito solitário” foi o
termo que ela usou) realmente provocava o crescimento de cabelos na palma da
mão e Lewgoy perguntou, em voz alta para a produção, se cunilingus era mesmo o que ele estava pensando.
Segredos de Alcova acabou porque os produtores entenderam que o público respondia melhor a estímulos audiovisuais do que ao intelecto. No lugar do programa entrou a novela Senhora de Engenho, que apelou para várias cenas sensuais
*Quiz termo americano para programa de perguntas e
respostas.
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