Domingos Pellegrini
Confira se
as melhores coisas não são baratas ou grátis:
– Café coado em coador de pano,
cheiroso, adoçado com açúcar mascavo e mel, enquanto o Sol levanta na janela.
– Sanduíche
de mortadela cortada fininha e pão fresquinho e crocante, com guaraná.
– Caminhada no final da tarde com
belo poente, seguida de banho de chuveiro com aquela velha toalha.
– Cheiro de
florada de repente.
– Apreciar a tempestade se formando,
desabando, ventando, serenando, acabando, o céu abrindo de novo.
– Suspirar aliviado depois de grandes
problemas que chegaram e como tempestades também se foram.
– Chegar em casa com tudo resolvido
num dia cheio, aí sentar na cama e tirar os sapatos, e tirar as meias dos pés e
andar descalço pela casa.
– Ligar a
televisão e ver que está começando um bom filme.
– Cochilar no sofá e acordar
com a pessoa amada te olhando com amor.
– Levantar cedo e trabalhar com gosto
e vontade, esquecendo de tudo, até a hora do almoço; aí almoçar com a fome boa
que o trabalho dá.
– Encontrar
cheio de moedas aquele moedeiro há tempo dado por perdido.
– Tomar um copo de água com muita
sede e bastante calma, sentindo com o a água não tem gosto, nem cor, nem cheiro
e, por isso mesmo é inconfundivelmente e maravilhosamente água!
– Ver abrir
a primeira flor da planta que você plantou e já tinha até esquecido.
– Andar sem pressa pela chuva,
igual cachorro de rua.
– Abrir a porta depois que toca
a campainha e dar de cara com o seu amor.
– Receber uma carta carinhosa e
alegre num dia frio e nublado.
– Estar num ponto de ônibus e
um conhecido parar oferecendo carona.
– O olhar de afeto e gratidão
de um filho.
– O olhar de admiração dos
colegas de trabalho.
– Sentir uma dor de repente e
depois sentir que ela se vai como veio.
– Esvaziar gavetas se enchendo
de emoções diante de velhos papéis.
– Deitar queijo ou passar
manteiga em pão quente.
– Dormir com chuva no telhado,
acordar com céu azul.
– Verificar como você não mudou
revendo fotos antigas.
– Jogar de longe a bolota de
papel no cesto de lixo e acertar.
– O silêncio emocionado.
– O barulho de crianças
alegres.
– Canto de passarinho.
– Gente cantando no trabalho.
– Cantar no chuveiro.
– Esquecer
as preocupações depois de lembrar que se preocupar não adianta, nem resolve.
– Receber elogio por trabalho
bem feito.
– Elogiar trabalho bem feito.
– Receber e dar um presente
inesperado.
– Olhar com atenção as pequenas
coisas.
– Apreciar o nascente ou o
poente.
– Tomar chá em silêncio e em paz.
– Sorrisos e carinhos.
– Frutas e flores.
– Acordar ao lado de quem se
ama.
– Receber um abraço apertado
que aplaca a saudade sentida.
– A frescura da brisa na pele
suada.
– Amar e sentir-se amado.
– Um olhar carinhoso.
– Fazer o bem e sentir-se bem.
– Desejar o bem, mesmo a quem
te faz mal.
– Perdoar, esquecer,
renascer...
*****
Do livro “Crônica
Brasileira Contemporânea”,
Organização de Manuel
da Costa Pinto
Editora Moderna
Editora Moderna
Domingos
Pellegrini Jr. (Londrina-PR, 1949). Romancista, contista, cronista, poeta,
jornalista e publicitário. Passa a maior parte de sua vida em Londrina, Paraná,
onde mora. As narrativas de tropeiros, mascates e viajantes que passam pela
barbearia de seu pai e pela pensão comandada por sua mãe são a base de seus
contos e de seu universo romanesco. Conduzido pelo permanente desejo de
desenvolvimento da escrita a partir de uma linguagem cada vez mais simples e
direta, Domingos Pellegrini Jr. dedicou-se progressivamente a produção de
textos destinados ao público infanto-juvenil, principal interlocutor de sua
obra. Estuda letras e publicidade na Universidade Estadual de Londrina − UEL,
entre 1967 e 1975, e mais tarde vai para Assis, São Paulo, estudar na Universidade
Estadual Paulista - Unesp, onde se especializa em teoria literária. Trabalha
como redator de agências de propaganda e escreve para jornais e revistas,
especialmente para o Jornal de Londrina. Depois de seu primeiro
livro, O Homem Vermelho, escreve mais de uma dezena de outras coletâneas de
contos, novelas e romances. Seu primeiro livro infanto-juvenil, A Árvore
que Dava Dinheiro, de 1981, tem mais de 3 milhões de exemplares publicados, 2
milhões deles para o Plano Nacional de Bibliotecas do Ministério da Educação.
Entre 1989 e 1992, assume a Secretaria de Cultura do município de Londrina.
Lança seu primeiro livro de poesias, Gaiola Aberta, em 2005, com versos
escritos no decorrer dos últimos 40 anos.
Enciclopédia Itaú
Cultural
Nenhum comentário:
Postar um comentário