sábado, 9 de setembro de 2017

As melhores coisas

Domingos Pellegrini


Confira se as melhores coisas não são baratas ou grátis:

– Café coado em coador de pano, cheiroso, adoçado com açúcar mascavo e mel, enquanto o Sol levanta na janela.

– Sanduíche de mortadela cortada fininha e pão fresquinho e crocante, com guaraná.

– Caminhada no final da tarde com belo poente, seguida de banho de chuveiro com aquela velha toalha.

– Cheiro de florada de repente.

– Apreciar a tempestade se formando, desabando, ventando, serenando, acabando, o céu abrindo de novo.

– Suspirar aliviado depois de grandes problemas que chegaram e como tempestades também se foram.

– Chegar em casa com tudo resolvido num dia cheio, aí sentar na cama e tirar os sapatos, e tirar as meias dos pés e andar descalço pela casa.

– Ligar a televisão e ver que está começando um bom filme.

– Cochilar no sofá e acordar com a pessoa amada te olhando com amor.

– Levantar cedo e trabalhar com gosto e vontade, esquecendo de tudo, até a hora do almoço; aí almoçar com a fome boa que o trabalho dá.

– Encontrar cheio de moedas aquele moedeiro há tempo dado por perdido.

– Tomar um copo de água com muita sede e bastante calma, sentindo com o a água não tem gosto, nem cor, nem cheiro e, por isso mesmo é inconfundivelmente e maravilhosamente água!

– Ver abrir a primeira flor da planta que você plantou e já tinha até esquecido.

– Andar sem pressa pela chuva, igual cachorro de rua.

– Abrir a porta depois que toca a campainha e dar de cara com o seu amor.

– Receber uma carta carinhosa e alegre num dia frio e nublado.

– Estar num ponto de ônibus e um conhecido parar oferecendo carona.

– O olhar de afeto e gratidão de um filho.

– O olhar de admiração dos colegas de trabalho.

– Sentir uma dor de repente e depois sentir que ela se vai como veio.

– Esvaziar gavetas se enchendo de emoções diante de velhos papéis.

– Deitar queijo ou passar manteiga em pão quente.

– Dormir com chuva no telhado, acordar com céu azul.

– Verificar como você não mudou revendo fotos antigas.
– Jogar de longe a bolota de papel no cesto de lixo e acertar.

– O silêncio emocionado.

– O barulho de crianças alegres.

– Canto de passarinho.

– Gente cantando no trabalho.

– Cantar no chuveiro.

– Esquecer as preocupações depois de lembrar que se preocupar não adianta, nem resolve.

– Receber elogio por trabalho bem feito.

– Elogiar trabalho bem feito.

– Receber e dar um presente inesperado.

– Olhar com atenção as pequenas coisas.

– Apreciar o nascente ou o poente.

– Tomar chá em silêncio e em paz.

– Achar logo uma vaga no estacionamento cheio.

– Sorrisos e carinhos.

– Frutas e flores.

– Acordar ao lado de quem se ama.

– Receber um abraço apertado que aplaca a saudade sentida.

– A frescura da brisa na pele suada.

– Amar e sentir-se amado.

– Um olhar carinhoso.

– Fazer o bem e sentir-se bem.

– Desejar o bem, mesmo a quem te faz mal.

– Perdoar, esquecer, renascer...

*****
  
Do livro “Crônica Brasileira Contemporânea”,
Organização de Manuel da Costa Pinto
Editora Moderna


Domingos Pellegrini Jr. (Londrina-PR, 1949). Romancista, contista, cronista, poeta, jornalista e publicitário. Passa a maior parte de sua vida em Londrina, Paraná, onde mora. As narrativas de tropeiros, mascates e viajantes que passam pela barbearia de seu pai e pela pensão comandada por sua mãe são a base de seus contos e de seu universo romanesco. Conduzido pelo permanente desejo de desenvolvimento da escrita a partir de uma linguagem cada vez mais simples e direta, Domingos Pellegrini Jr. dedicou-se progressivamente a produção de textos destinados ao público infanto-juvenil, principal interlocutor de sua obra. Estuda letras e publicidade na Universidade Estadual de Londrina − UEL, entre 1967 e 1975, e mais tarde vai para Assis, São Paulo, estudar na Universidade Estadual Paulista - Unesp, onde se especializa em teoria literária. Trabalha como redator de agências de propaganda e escreve para jornais e revistas, especialmente para o Jornal de Londrina. Depois de seu primeiro livro, O Homem Vermelho, escreve mais de uma dezena de outras coletâneas de contos, novelas e romances. Seu primeiro livro infanto-juvenil, A Árvore que Dava Dinheiro, de 1981, tem mais de 3 milhões de exemplares publicados, 2 milhões deles para o Plano Nacional de Bibliotecas do Ministério da Educação. Entre 1989 e 1992, assume a Secretaria de Cultura do município de Londrina. Lança seu primeiro livro de poesias, Gaiola Aberta, em 2005, com versos escritos no decorrer dos últimos 40 anos.

Enciclopédia Itaú Cultural


Nenhum comentário:

Postar um comentário