João Gilberto por Leo Martins
Festa na casa da família Menescal,
Rio de Janeiro, 1957. Champanhe e rodas de bate-papo rolam na sala quando se
ouve a campainha. Pensando tratar-se de mais um convidado, o jovem Roberto
Menescal, então com 19 anos, atende a porta. Depara-se com um completo
desconhecido: “Você tem um violão aí? Podíamos tocar alguma coisa.” O rapaz
ficou sem reação, e o sujeito completou: “Eu sou João Gilberto. Quem me deu seu
endereço foi seu professor de violão.”
Menescal, então um violonista
promissor, já tinha ouvido falar do baiano “meio louco, genial, afinadíssimo”.
Convidou-o para o quarto do fundo. Postado num canto, João empunhou o
instrumento e fez soar os primeiros acordes. Até que soltou a voz: É amor /
hô-bá-lá-lá...
O dono da casa ficou em estado de
êxtase. Achou espetacular a maneira como a mão direita passeava pelas cordas. E
a capacidade vocal, então? A voz soava como instrumento de alta precisão, ao
mesmo tempo em que o canto surgia suave, natural, quase falado. Sem os pais
perceberem, pegou João pelo braço e levou-o para conhecer Ronaldo Bôscoli, um
de seus parceiros musicais. Mais apresentações, agora com a inclusão de
Bim-Bom. Outro jovem boquiaberto. Segundo Ruy Castro em Chega de Saudade, o
grupo varou a madrugada e parte do dia seguinte de casa em casa. Ninguém
dormiu.
Naquele momento começava a se formar
o que seria conhecida como “a turma bossa nova”, todos seguidores desse novo
mestre. Um ano depois, com a gravação do LP Chega de Saudade, era a vez de o
mundo todo conhecer a genialidade de João Gilberto.
Chega de Saudade – A
história e as histórias da bossa nova,
de Ruy Castro – Companhia das Letras, 1990.
de Ruy Castro – Companhia das Letras, 1990.
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