sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Mário Cinco Paus, um rábula de Porto Alegre


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Travessa Mário Cinco Paus, atrás da Prefeitura Nova.

Além de repórter, Mário Cinco Paus também era advogado, ou melhor, rábula: advogado não formado, mas conhecedor do Direito, que recebia autorização para atuar como provisionado. “Com a constituição positivista (de 1891), no início do século 20, ele virou advogado, por ser uma espécie de benfeitor. O Mário tinha uma vida comunitária ativa. Era uma pessoa bem conhecida na cidade”, explica Guimaraens. Outro episódio marcante envolvendo o repórter-rábula se refere a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, em 1942. A população de Porto Alegre entrou em fúria e fez um quebra-quebra contra o comércio de imigrantes alemães e italianos − a Alemanha e Itália agora eram inimigas do Brasil. Enquanto isso, a Brigada Militar e o Exército apenas assistiam às cenas de vandalismo. “Um comerciante ia ser linchado pela população e o Mário o defendeu, evitando o linchamento”, relembra Guimaraens.

Mário Cinco Paus circulou por várias publicações. Uma delas foi A Reforma, jornal dirigido por Francisco de Leonardo Truda, que hoje dá nome a uma pequena travessa localizada também no Centro, ligando a Avenida Mauá à Rua Siqueira Campos. Truda foi um dos fundadores do Diário de Notícias, criado em 1925. O jornal que incomodou a concorrência após ser comprado pelo magnata Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, encerraria suas atividades em 1979. Anos depois, acabou homenageado com uma larga avenida de quase dois quilômetros de extensão, na Zona Sul.

Texto do artigo: O jornalismo pelas ruas de Porto Alegre,
por Italo Bertão Filho

O Curioso Perfil

A propósito do assunto foi estabelecida uma curiosa conotação com repórter policial e rábula de sucesso em Porto Alegre do passado – o Mário Cinco Paus. Além do nome pitoresco, era um tipo vistoso, alto, de tez morena achocolatada e nariz aquilino. Tinha uma cabeleira basta que se derramava pela nuca em voltas encaracoladas – “uma cabeleira de poeta” como se dizia na época, e que despontava mesmo com chapéu sempre desabado. E ainda como detalhe bem chamativo, Mário Cinco Paus trazia pendente no braço esquerdo uma bengala grande.

Cruzava as ruas em passadas largas, vigorosas e rápidas, constituindo-se em figura muito popular que mais tarde viria a ser nome de rua* na capital.
     
Certa vez essa interessante figura de destaque na paisagem humana local, assomava na Rua da Praia distribuindo sorrisos e cumprimentos sob um chapéu de abas caídas, e, sobretudo com a indefectível bengala dependurada na curva do cotovelo esquerdo. Na roda de animado papo, um gaiato comentou:

− Lá vem o Mário Sete Paus!

− Não, o nome dele é Mário Cinco Paus – tentou corrigir outro.

− É Sete Paus, sim – sustentou o gozador.

− Ué, e esta, agora!

− Não reparaste que ele usa bengala?...


(Do livro O Sexo... Como Humor na Medicina”,
Dr. Caio Flávio Prates da Silveira)

*Na verdade, Mário Cinco Paus foi homenageado pela cidade com o nome de uma travessa.

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Mário Cinco Paus, foto acima, foi um famoso rábula (advogado não formado, mas apenas provisionado) da cidade de Porto Alegre. Teve destaque nos júris que defendeu e era muito apreciado pela classe jurídica de Porto Alegre. Conta a lenda que esta alcunha, de cinco paus, deriva de sua maestria no popular jogo de pausinho, onde, nos finais da manhã, junto ao restaurante do Chalé da Praça XV de Novembro, costumam se reunir os intelectuais, frequentadores da antiga Livraria do Globo, e os jovens advogados. Eram, invariavelmente, depenados, pelo Dr. Mário, no jogo do palitinho. No governo do Prefeito Loureiro da Silva, foi homenageado esta figura quase folclórica, com um pequenino trecho de rua, com pouco mais de 30 metros, entre as Ruas Uruguai e Avenida Borges de Medeiros, na capital dos gaúchos.

(Garimpeiro Velho, no Yahoo)

O homem que eu invejava


Foi o sempre atento Carlos Urbim quem postou no Face a foto da placa de uma rua de Lisboa, que segundo o talentoso escritor, dá medo de passar. Pudera, o logradouro lisboeta chama-se Rua do Capado.

São coisas assim que atiçam a minha imaginação. Quem seria o pobre sujeito que teve extirpado seu órgão? O que teria feito para merecer esse infortúnio? Deve ter sido algo de magnitude para ganhar uma rua só pra ele. É o tipo da homenagem da qual eu abriria mão, primeiro pelo motivo que deu causa ao tributo – o único órgão que admito perder e já perdi é o apêndice; e depois, como bem disse o nosso Quintana, “um engano em bronze é um engano eterno” – no caso do Capado, um engano em azulejo português, menos mal.

A postagem do Urbim remeteu-me quase de imediato para o nome de um espaço público em Porto Alegre que sempre me intrigou e não poucas vezes foi motivo de piadas de baixa extração. Trata-se da Travessa Mário Cinco Paus! Fica no centro, entre a chamada Prefeitura Nova e um prédio do INSS, ligando o final da avenida Borges de Medeiros ao terminal de ônibus da rua Uruguai. Em tempos idos, já foi um beco, mas recebeu um trato, foi ajardinado e hoje é local de grande circulação.

Isso posto, eis a pergunta que não quer calar: quem foi Mário Cinco Paus, o homem que sempre invejei desde a adolescência, quando só pensava naquilo? Teria mesmo o nosso Mário cinco órgãos genitais? Como funcionariam: em paralelo, se completando, como pistões de um carro, uns subindo outros descendo? Era um homem realizado e de bem com a vida com seu instrumental diferenciado? E as parceiras do bom Mário como reagiam diante de cinco espetáculos do crescimento? E as pobres filhas do Mário, com esse sobrenome invulgar, como devem ter sofrido com brincadeiras de mau gosto, o antigo nome do bulling, nas escolas e outros locais que frequentavam?

Essas indagações, pertinentes e profundas acerca de um personagem da cidade, me acompanharam até os dias de hoje, quando resolvi pesquisar para saber quem foi Mário Cinco Paus. Aí todas as bobagens que imaginei caíram por terra. O Mário Cinco Paus nada mais era do que um rábula, advogado não formado, que viveu na cidade no século passado. Ficou famoso pelos júris que defendeu e era apreciado pela classe jurídica de Porto Alegre. A alcunha que acompanha o sóbrio nome de Mário seria derivada de sua maestria no popular jogo do pausinho, que reunia intelectuais, frequentadores da Livraria do Globo e jovens advogados em animadas rodadas no Chalé da Praça XV. O Dr. Mário costumava limpar seus oponentes no jogo dos palitinhos. No primeiro governo do prefeito Loureiro da Silva (1937 a 1943) esta figura quase folclórica foi homenageada com o pequeno trecho de pouco mais de 30 metros.

A placa de identificação do trecho revela que foi um filantropo, talvez por falta de outros predicados para ser em destacados, além de algo como O Rei do Pauzinho ou O Mestre do Palitinho. Convenhamos, não ficaria bem.

E lá se foi minha inveja e meu complexo de inferioridade.

(Do Blog do Flávio Dutra)

Curiosidades sobre Mário Cinco Paus

Mário Cinco Paus, Porto Alegre, 1890 − Porto Alegre, 4 de maio de 1949, foi um jornalista e advogado brasileiro. Iniciou sua carreira como repórter do jornal A Federação, e, em 1911, foi admitido na redação de O Diário, onde permaneceria até 1917.

Iniciou sua carreira como repórter do jornal A Federação, e em 1911 foi admitido na redação de O Diário, onde permaneceria até 1917. Depois passaria por vários outros jornais, ganhando muita popularidade como repórter policial. Em 1911 testemunhou o assalto da Casa de Câmbio localizada na Rua da Praia, saindo em perseguição dos assaltantes de arma em punho antes mesmo da chegada da polícia. Os criminosos acabaram encurralados, mas o cerco policial durou uma semana, sempre acompanhado pelo jornalista. O caso virou sensação, e as reportagens que produziu tiveram grande impacto.

Devido ao seu interesse pelos temas policiais, enfronhou-se em estudos jurídicos de maneira autodidata, chegando a obter conhecimentos suficientes para ser habilitado como advogado provisionado. Também no Direito obteve um amplo reconhecimento, sendo um dos mais requisitados criminalista de Porto Alegre em sua geração, muito procurado pela população de baixa renda em virtude de sua fama como defensor e benfeitor dos pobres. Um dos casos de maior repercussão em que se envolveu foi a conquista do direito das meretrizes de permanecerem na rua diante de suas casas, o que havia sido proibido pela polícia. Em 1942, durante uma onda de depredações contra estabelecimentos de italianos e alemães, impediu o linchamento de um comerciante. Segundo Rafael Guimaraens, autor do livro A tragédia da Rua da Praia, Mário Cinco Paus “tinha uma vida comunitária ativa. Era uma pessoa bem conhecida na cidade”, marcando a vida e a história local. Hoje seu nome batiza uma travessa no Centro Histórico de Porto Alegre.

Piada contada pelo Sant'Anna no Gaúcha Hoje:

− Macedo, já ouviu falar da travessa Mário Cinco Paus?
− Já. É aquele que fica atrás da prefeitura, junto ao prédio da Previdência.
− Pois eu não sei quem foi o Mário Cinco Paus, mas dizem que não usava cuecas. Ele colocava uma luva no lugar delas.

Habeas Corpus em favor das prostitutas 1928

Em março, o superintendente do 1º distrito baixou uma portaria proibindo as prostitutas de manterem abertas as portas de suas casas até às 11 da noite, de assomarem as janelas e de manterem acesos focos de luz. Os advogados  Alberto Gigante e Mario Cinco Paus impetraram um habeas corpus em favos das 23 meretrizes da rua Riachuelo, contra as normas impostas pelas autoridades, sendo o seu texto publicado no “Correio do Povo”.

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