(Fábulas e Lendas Japonesas)
Certo dia, ao anoitecer,
voltava para casa um montanhês que vivia de quebrar pedras. Sentia-se todo
dolorido pelo dia exaustivo de trabalho. Passando diante de uma venda, viu
atrás do balcão um homem gordo, de pele lisa e brilhante. Pensou:
“Bom mesmo é ser comerciante.”
Nesse momento, ouviu uma voz que lhe disse:
-
Então você será comerciante.
Em pouco tempo, ele também
engordou atrás do balcão de uma venda. Seus negócios iam muito bem e tinha até
tempo de ficar na porta da venda observando as pessoas que passavam. Um dia viu
passar um mandarim em sua liteira:
“Bom mesmo é ser mandarim”, pensou.
E
a mesma voz se fez ouvir, persuasiva:
-
Então você será um mandarim.
Envolto em vestes de seda,
sua vida passou a ser movimentada, ele corria para todos os lados seguindo as
ordens do Filho do Sol, o imperador. Apesar de satisfeito com a nova vida,
pensou:
“Bom mesmo é ser Filho do Sol.”
E
no ar, a mesma voz de sempre:
-
Então você vai ser Filho do Sol.
Sempre que saía de seu
reino, o novo imperador se sentia castigado pelos raios ardentes do sol.
“O
Pai é mais poderoso que o Filho. Bom mesmo é ser o Sol.”
E
de novo aquela voz poderosa:
-
Então você será o Sol.
Esplêndido, todo dourado,
aureolado de raios resplendentes, eis o Sol no meio do céu. Mas passa uma nuvem
que o esconde.
“A
nuvem é mais poderosa que o Sol. Bom mesmo é ser nuvem.”
E
a mesma voz sussurrou:
-
Então você vai ser uma nuvem.
Transformado em nuvem,
navegava tranqüilamente pelo céu quando um vento forte o empurrou,
dissipando-o.
“O
vento é mais forte que a nuvem. Bom mesmo é ser vento.”
E
de novo a voz sibilante:
-
Então você será vento.
Correu como louco,
dissipando nuvens, perturbando mares, arrastando árvores, destelhando casas.
Mas, ao atingir a montanha, percebeu que nada a transtornava, ela continuava
firme e impassível. Claro que a montanha era mais forte que o vento.
“Bom mesmo é ser montanha.”
E
a mesma voz lhe disse:
-
Então você será uma montanha.
Firme e inabalável, ali estava a montanha.
Mas, certo dia, ouviu um martelar que parecia vir de suas encostas.
A montanha parou para
escutar aquele som insistente. Os golpes continuavam, regulares. A pedra se
fendia e as rochas pareciam despregar das encostas.
“Será que existe alguém
mais forte que a pedra?”, pensou a montanha. “Quem será?”
Olhou, olhou bem e viu...
Viu um homem que martelava, martelava. Então se lembrou de que ele também
quebrava pedras e pensou:
“Eu era o mais forte e não o sabia.”
Desta vez a voz não
apareceu. O homem voltou a ser o que era e passou a martelar a pedra da
montanha com sua velha picareta.
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