sábado, 16 de dezembro de 2017

A Guerrilha do Riso



Capa assinado pelo jornalista uruguaio Rodolfo Porley Corbo, explica a ilustração da capa, em que o sorriso de um humorista contrasta com a carranca de um militar quando o desenho é virado.

Humor de Carlos Nobre:

“Se, como afirmava Darwin, o homem descende do gorila, então não houve evolução alguma. O gorila apenas botou um uniforme.” (Última Hora, 10/7/1963)

“Ah, meus amigos, quando a gente olha o Brasil para 64, fica-se torcendo para que os bombeiros não cheguem muito atrasados.” (Última Hora, 30/12/1963 – o golpe militar foi dado três meses depois)

“Gorilas do Brasil e da Argentina festejam a derrubada do Jango. Bom, se vale a expressão dos argentinos a nosso respeito, os gorilas deles são gorilas mesmo, mas os nossos são apenas macaquitos.” (Última Hora, 27/3/1964)

“O recesso parlamentar de julho foi interrompido pelas cassações. Engraçado, eu pensei que as cassações é que davam o maior recesso ainda.” (Zero Hora, 27/71964)

“Sim, só falta agora alguns governadores telegrafarem ao Castelo Branco solidarizando-se com sua feiura.” (Zero Hora, 7/4/1965)

“Milhares e milhares de pessoas cumpriram seu alistamento eleitoral recentemente na renovação de seus títulos. Agora estão aptas finalmente a não votar.” (Zero Hora, 9/9/1965)

“A nova lei de imprensa é clara: fará com que os jornais falem dos defeitos do governo como se eles fossem defeitos maravilhosos.” (Zero Hora, 17/10/1966)

“Com a nova lei de imprensa os jornais das TVs continuarão em circuito aberto. Os jornalistas é que poderão ser fechados.” (Zero Hora, 24/10/1966)

“Já está autorizado convênio autorizando jornalistas a gozar 20% de desconto no Pronto Socorro Particular. Esse negócio veio em boa hora. Os cassetetes estão cada vez mais aperfeiçoados.” (Zero Hora, 12/11/1966)

“No Rio de Janeiro o DOPS prendeu dois estudantes. Motivo: eles estavam soltos.” (Zero Hora, 12/7/1965)

“A eleição veio em boa hora. Já não há muito deputado aí para ser cassado.” (Zero Hora, 10/10/1966)

“Padres foram presos em Volta Redonda. Que ironia, hein? Justamente em Volta Redonda os padres estão vendo o sol nascer quadrado.” (Zero Hora, 27/11/1967)

“A ONU diz que brasileiro é o povo do mundo formado com a maior mescla de raças. Não duvido: aqui temos pretos, amarelos, brancos e agora já estão começando a aparecer os roxos de tanto apanhar.” (Zero Hora, 6/2/1968)

“Estudantes agora vão fazer plebiscito. Escolherão se preferem cassetete de borracha ou de madeira.” (Zero Hora, 14/4/1968)

“A sorte de muitos estudantes presos é que os presídios não cobram entrada.” (Zero Hora, 27/5/1968)

“O Ministro da Justiça vai publicar o livro branco justamente para desmentir este negócio de torturas. Eis algo que eu acho muito prudente, pois se tratando de um país de analfabetos, imaginem se o livro fosse escrito.” (Folha da Tarde, 5/10/1970)

“Acho uma baita injustiça dizer que até agora não se descobriu muita coisa sobre os chamados esquadrões da morte… E este baita número de cadáveres descobertos todos os dias?” (Folha da Tarde, 10/7/1970)

“Sorte é Jesus Cristo não passar pela Rua da Praia, senão pode ir em cana como cabeludo subversivo.” (Folha da Tarde, 23/1/1971)

“Conselho para perfeita liberdade de expressão na democracia. 1 – Não pense. 2 – Se pensar, não fale. 3 – Se por acaso alguém descobrir seu pensamento, desminta logo. 4 – Se o pensamento aparecer publicado, pelo amor de Deus, diga que é apócrifo. 5. Se não acreditarem prepare um baita desmentido. 6 – Se mesmo assim não adiantar, refugie-se na Embaixada do Senegal.” (Folha da Tarde, 20/7/1973)

“Ao receber a notícia de que as eleições continuariam indiretas, o MDB se declara perplexo. Besteira do MDB. Onde já se viu ficar perplexo com as coisas que acontecem neste país, né? Vai ficar perplexo a vida inteira.” (Folha da Tarde, 5/5/1972)

“Leio no jornal que o resultado da eleição para as prefeitura sairá oito dias depois. Por isso é que o resultado da eleição para governador é melhor. O resultado sai uma porção de dias antes.” (Zero Hora, 2/1/1976)

“A transmissão do ballet ‘A Morte do Cisne’ foi proibida pela censura. Aliás, a censura nem sabia que o cisne tava doente.” (Zero Hora, 3/4/1976)

“Ontem saiu nesta coluna que anteontem foi o dia da liberdade de imprensa. Em seguida todo mundo me cumprimentou. Foi a maior piada que eu escrevi até hoje.” (Zero Hora, 4/4/1976)

“Leio que a greve de 200 presos políticos agora é nacional. Isto não é nada. Precisa ver a fome sem greve de milhões que não tão nem presos.” (Zero Hora, 6/5/1978)

“Dizem que o AI-5 vai cair. Então sai de baixo, porque durão como ele é, se cair na cabeça de alguém mata na hora.” (Zero Hora, 14/11/1977)

“Com tudo o que o Figueiredo anda dizendo fica difícil ser humorista neste país com a concorrência cada vez mais forte.” (Zero Hora, 17/6/1978)

“Se os democratas deste país estão loucos para que prendam os terroristas que enviam cartas e pacotes explosivos pelo correio, imaginem os carteiros.” (Zero Hora, 30/8/1980)

“No ABC paulista Lula foi em cana. Em Ouro Preto 50 estudantes também. Não tô entendendo bem esta abertura. Vai ver que sou burro mesmo.” (Zero Hora, 22/4/1980)

“Delfim diz que não é o culpado pela inflação. Claro que não. Todo mundo sabe que o culpado pela inflação sou eu.” (Zero Hora, 16/1/1981)

“Dom Urbano Algayer espera a confirmação das eleições de 1982. Padre é assim mesmo: quase sempre acredita em milagre.” (Zero Hora, 30/12/1981)

“Nunca concordei que houvesse no Brasil uma maioria silenciosa. Para mim o que houve foi uma maioria silenciada.” (Zero Hora, 16/7/1982)

“E se não tiver eleições no Brasil? Ué, nada de mais. O país volta à normalidade.” (Zero Hora, 3/8/1982)

“Quando se diz que alguns povos não estão preparados para a democracia, quer dizer que estão preparados para a ditadura?” (Zero Hora, 18/10/1982)

“Pichar um muro a favor das diretas é fácil. É só correr o risco.” (Zero Hora, 8/7/1984)

“Eleições só em 1988, mas até lá, dada a incapacidade de governar este país, já devemos ter devolvido ele aos índios.” (Zero Hora, 18/4/1984)

“No regime da baioneta calada, a imprensa também tem que calar a boca.” (Zero Hora, 24/4/1984)

“O general Ludwig votando no Clube Militar: ‘Gostei de votar, já nem lembro quando foi a última vez’. Nós também, general. Aliás, brasileiro precisaria ter uma memória de elefante para se lembrar de uma coisa dessas.” (Zero Hora, 19/5/1984)

“Junto meu desejo ao do Presidente Figueiredo. Também tô contando os dias para que este governo acabe logo.” (Zero Hora, 8/8/1984)

“A preocupação agora no Brasil é que, além da democracia, voltem a funcionar também os intestinos do Tancredo.” (Zero Hora, 27/3/1985)


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