Mário Bárbara:
22.10.1954 – 02.05.2018
O maior sucesso de Mário Bárbara*,
escrita junto com Sérgio Napp (1939-2015), “Desgarrados” tornou-se um a marco
na música nativista gaúcha, sendo considerada uma crônica do êxodo rural e
venceu, em 1981, a
11ª Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana, RS.
P.S. A música abaixo está na internet na voz do autor da melodia: Mário Barbará.
Desgarrados
Mário Bárbara e
Sérgio Napp
Eles se encontram no cais do
porto, pelas calçadas,
Fazem biscates pelos mercados,
pelas esquinas,
Carregam lixo, vendem revistas,
juntam baganas,
E são pingentes nas avenidas da
capital.
Eles se escondem pelos botecos,
entre os cortiços,
E pra esquecerem contam bravatas,
velhas histórias,
E então são tragos, muitos
estragos, por toda a noite,
Olhos abertos, o longe é perto, o
que vale é o sonho.
Sopram ventos desgarrados,
carregados de saudade,
Viram copos, viram mundos,
mas o que foi, nunca mais será,
mas o que foi, nunca mais será,
mas o que foi, nunca mais será.
Cevavam mate, sorriso franco, palheiro
aceso
Viraram brasas, contavam causos,
polindo esporas,
Geada fria, café bem quente,
muito alvoroço,
Arreios firmes e nos pescoços
lenços vermelhos.
Jogo do osso, cana de espera e o
pão de forno.
O milho assado, a carne gorda, a
cancha reta.
Faziam planos e nem sabiam que
eram felizes,
Olhos abertos, o longe é perto, o
que vale é o sonho.
Sopram ventos desgarrados,
carregados de saudade.
Viram copos, viram mundos,
mas o que foi, nunca mais será,
mas o que foi, nunca mais será,
mas o que foi, nunca mais será.
Do Ensaio:
→ Em Desgarrados, a grande
vencedora da XI Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, nós temos um gaúcho
que vem parar no grande centro urbano por motivos não esclarecidos. Se a razão
de seu êxodo pode ser as mudanças econômicas relatadas por Cyro Martins em sua Trilogia do
gaúcho a pé, também pode ser a busca de melhores condições de vida, de uma nova
situação que se insinua nos versos “faziam planos e nem sabiam que eram
felizes”, como se esses planos fossem a intenção de se mudar de um lugar que
eles habitavam e “nem sabiam que eram felizes”. Essa possibilidade
interpretativa fica reforçada no poema Retirante, também acima descrito.
→ Independente dos motivos, na
letra de Desgarrados o gaúcho que sai de sua terra e vem para a cidade acaba
marginalizado e envolvido nos bolsões de pobreza. É um indivíduo cujas
habilidades que o faziam útil e importante em seu elemento original não possuem
valor nos centros urbanos. E essa é uma realidade não apenas do gaúcho, mas de
todos aqueles que, em conseqüência de mudanças sociais e econômicas se vêem
obrigados a enfrentar novos desafios para os quais não estão preparados. Velhas
habilidades que garantiam seu sustento e sua sociabilidade em velhos tempos não
correspondem às necessidades de novas circunstâncias. Essa é uma realidade que
esteve sempre presente na história da humanidade, e que se reproduz no
microcosmo do gaúcho.
→ Essa inadaptabilidade, essa
marginalidade no novo ambiente acaba valorizando as lembranças de um passado
que talvez fosse pouco valorizado. O verso “faziam planos e nem sabiam que eram
felizes” deixa bem claro uma tentativa de mudança, de melhoria que acaba
fracassando.
Do Ensaio:
“O campo na poesia e na música de Mário Barbará e Sérgio Napp”
“O campo na poesia e na música de Mário Barbará e Sérgio Napp”
Orientadora: Maria
Tereza Amodeo, Aluno: Kleber de Oliveira Boelter.
*Mário Bárbara faleceu em 2 de
maio, aos 63 anos. Natural de São Borja, RS, ele morava em Porto Alegre para
tratamento. Era casado e tinha uma filha de 33 anos do primeiro casamento, do
qual era viúvo.
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