quinta-feira, 5 de julho de 2018

Negrinho do Pastoreio



No tempo em que “os campos ainda eram abertos e não havia entre eles nem divisas e nem cercas”, nasceu a única lenda “genuinamente rio-grandense” – a história de um menino escravo sacrificado por ter perdido uma tropilha de cavalos de seu patrão.

Açoitado até a morte, o negrinho foi colocado sobre um formigueiro no campo. “A tradição do Negrinho do Pastoreio é nascida no estrume da escravidão”, atesta Augusto Meyer, que identificou a versão mais antiga da lenda, de autoria de Javier Freyre e publicada no almanaque El pasatiempo, de Montevidéu, em 1890.

O causo já havia sido mencionado numa novela de Apolinário Porto Alegre, mas foi o uruguaio Javier Freyre que, além de publicar pela primeira vez uma versão completa, acrescentou detalhes sobre o surgimento da lenda, com base num fato real, ocorrido “allá por los años 1784”, na propriedade de “um rico estancieiro português”, em terras da Banda Oriental (“em el departamento de Paisandu”, precisa o autor). Mais tarde, o mesmo Apolinário Porto Alegre publicou uma versão inteira com o título Crioulinho do Pastoreio. O mesmo fizeram o historiador Alfredo Varela (em 1897), o folclorista Cezimbra Jaques e o escritor Simões Lopes Neto, que compôs a versão mais conhecida em 1906, afirmando tê-la recolhido de uma negra velha na região de Pelotas.

Há pequenas variantes em cada versão: Apolinário menciona a “sinhá moça”, filha do estancieiro, “meiga criatura” que defendia o negrinho. Simões Lopes Neto coloca o filho “raivoso e mau” que enxota a tropilha e precipita o castigo. Os elementos básicos – latifundiário, o gado, o cavalo, o escravo, o Pampa – estão em todas as versões. Um século depois, o Negrinho do Pastoreio já estava consagrado pela tradição oral, simbolizando o regime pastoril na sua formação e já impregnado de religiosidade, atribuindo-se ao negrinho a capacidade de ajudar pessoas com objetos perdidos, desde que lhe oferecessem um toco de vela.
  
(Do livro “História Ilustrada do Rio Grande do Sul”,
editado pela CEEE gaúcha)

Negrinho do Pastoreio

Thais Pacievitch


Negrinho do Pastoreio é uma lenda do folclore popular brasileiro que conta a história de um garoto escravo que passa por maus tratos e morre em um formigueiro.

Segundo a lenda, há muito tempo, no Rio Grande do Sul, havia um fazendeiro muito rico, que tinha muita maldade no coração. O negrinho do pastoreio era escravo desse fazendeiro. O fazendeiro dava muito trabalho para o Negrinho que era mal alimentado. O garoto dizia que sua madrinha, Nossa Senhora, aparecia para ajudá-lo.

Um dia, o patrão apostou uma corrida a cavalo com um vizinho que dizia possuir um cavalo mais rápido. Mandaram o negrinho treinar e montar o famoso baio.

Depois das apostas feitas, iniciou-se a corrida. Os cavalos permaneceram juntos em grande parte do percurso. Negrinho sabia o que seria surrado se não vencesse.

Aos poucos, tomou a frente e quase não havia dúvida da vitória. Mas algo assustou o cavalo, que empinou e quase derrubou Negrinho. Foi o suficiente para que o adversário ultrapassasse e ganhasse a corrida. O fazendeiro, furioso, teve de cobrir as apostas.

Ao retornarem à fazenda, o Negrinho teve pressa para guardar o cavalo, mas o fazendeiro disse que teria um castigo: o negrinho ficaria trinta dias e trinta noites com o cavalo perdedor no pasto e cuidaria de outros 30 cavalos. Não bastando isso, o fazendeiro lhe deu trinta chibatadas.

Dias depois, Negrinho resolveu rezar para a Nossa Senhora e adormeceu.

Os cavalos soltaram-se. O Negrinho acordou assustado, e quando percebeu a fuga dos cavalos, sentou-se e chorou.

O filho do fazendeiro estava perto, e vendo tudo, por maldade, foi contar ao pai a respeito da fuga. O fazendeiro mandou outros escravos buscarem o garoto.

O menino até tentou explicar para o fazendeiro, mas de nada adiantou.

Ele foi amarrado no tronco e açoitado pelo patrão. Após a surra, o fazendeiro mandou-o procurar os cavalos.

Negrinho achou os cavalos e amarrou-os, e deitou-se no chão para descansar. O filho do fazendeiro, vendo isso, fez uma nova maldade: soltou os cavalos e depois, correu novamente até o pai e contou que o Negrinho tinha achado os cavalos, mas deixou-os fugir.

O patrão o amarrou pelos pulsos e bateu nele mais que nunca. Negrinho rezou para Nossa Senhora e desmaiou de dor. Achando que o havia matado, o senhor não soube o que fazer com o corpo e avistando um enorme formigueiro, jogou-o lá.

No outro dia, o fazendeiro, curioso para ver o corpo do menino, foi até o formigueiro. Viu-o em pé, sorrindo ao lado de Nossa Senhora. Em volta dele estavam os cavalos perdidos. O garoto montou um deles e partiu com trinta cavalos atrás.

Até hoje, em alguns lugares do país, quando as pessoas perdem algo, acendem uma vela para o Negrinho do Pastoreio, acreditando que o garoto vai ajudar a achar o objeto perdido.




Nenhum comentário:

Postar um comentário