sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A Odisseia da Palavra



Dois mil anos. E se elege o livro a maior invenção da era. Nem a vacina, nem o computador, nem o relógio, sequer a nave espacial. Mas um pacote de folhas ordenadas, cobertas de signos. Eis onde culmina a saga da escrita, esta sim a mais importante das invenções, de tal magnitude, que situa a própria saga humana: antes da escrita, Pré-história; só depois da escrita.

Alfabeto → palavra formada pelos nomes dos dois primeiros sinais da coleção de letras gregas: alfa e beta. Recentes descobertas sugerem que o alfabeto pode ter nascido no Egito há 4.200 anos.

Biblioteca → coleção de livros. Alexandria, cidade do atual Egito, ficou célebre pela sua: nenhuma outra na Antiguidade a superou em riqueza.

Chineses → e outros orientais desenvolveram a escrita por ideograma: desenho de uma coisa ou combinação de coisas que resultam em novos significados.

Digitar → neologismo informático, do latim digitus, dedo. Substitui datilografar – que se refere a máquina de escrever −, significando o mesmo, e deriva do grego: escrever (gráphein) utilizando o dedo (dáktylos). É o progresso.

Escrita → busca representar a fala. Ao falarmos, usamos numerosos níveis de estruturas, com sentenças, palavras, sílabas, entonações, contexto. A saga da escrita é, em parte, a aventura das descobertas para representar com fidelidade a fala.

Fidípides → mártir da notícia. Em 490 a.C., os gregos vencem os persas na aldeia de Maratona. Milcíades encarrega-o de avisar a capital. Fidípides corre 42.195 metros até Atenas. Chega, diz: “Vencemos” e cai morto. A prova mais difícil e emocionante dos jogos olímpicos homenageia Fidípides: o atleta deve correr 42.195 m.

Gutenberg → O ourives alemão funde tipos móveis de chumbo em 1436. Ordena-os formando textos e leva-os à prensa de imprimir. Podem ser usados indefinidamente. Livros e jornais se multiplicam. Começa o período da educação moderna.

Hieroglifos → sinais da escrita egípcia. Ao invadir o Egito em 1798, Napoleão levou arqueólogos. Em Raschid (Roseta), encontraram uma pedra com inscrição em três línguas: hieroglífica, demótica (egípcio popular) e grega. Champollion (1790-1832) dedicou a vida a decifrar aquilo. Era a descrição de assembleia de sacerdotes em 196: agradeciam benefícios do faraó Ptolomeu Epifânio. O conhecimento sobre a Antiguidade deu um salto monumental.

Internet → neologismo inglês para rede (net) interligada (de computadores).

João Francisco de Azevedo padre paraibano, inventou uma máquina de escrever em 1861, doze anos antes da fabricação da primeira Remington.

Latim → língua-mãe dos irmãos português, catalão, espanhol, francês, italiano, ladino (judeu romântico), provençal, romeno – todos parecidos. Tome o numeral 5, quinque em latim: espanhol, cinco; francês, cinq; italiano, cinque; português, cinco; romeno, cinci.

Machado de Assis → o maior escritor brasileiro.

Notícia → No século 5 a.C., gregos copiaram método de chineses e egípcios para acelerar a difusão: pombo-correio. Usavam-no para anunciar pela Grécia, em poucas horas, os vencedores dos jogos olímpicos.

Oratória → dom de quem fala claro, convincente. Propaga-se para a posteridade graças à escrita.

Papiro → planta da foz do Nilo, deu o primeiro papel 5 mil anos atrás. Chineses aperfeiçoaram o processo, trançando fibras de linho.

Quirinal → Roma: nesse lugar se encontrou um vaso com inscrição latina do século 6 a.C.

Romanos → davam valor à instrução. Mantinham escolas e professores particulares. Sabiam da importância da linguagem para a dominação de outros povos.

Sumérios → criaram o mais remoto sistema de escrita, a cuneiforme, gravada com estilete em placas de argila. Dominaram a Mesopotâmia até 2000 a.C.

Tipografia → a primeira instalou-se no Brasil por ordem de D. João VI em 1808, 372 anos depois dos tipos móveis de Gutenberg.

Universidade → nasce pelo fim da Idade Média, evolução das escolas que existiam apenas em mosteiros e preparavam as pessoas para o sacerdócio.

Vogais → não existiam antigamente, só consoantes. Um gênio criou signos para elas. Note o critério para a ordem a-e-i-o-u; no a, boca aberta, que vai fechando até o u.

Xanto → era dono do escravo grego Esopo, autor das fábulas que há 2600 anos instruem e divertem. Certo dia, Xanto quis almoçar o que houvesse de melhor no mercado. Esopo trouxe língua, explicando: transmite ciência, verdades. Xanto pediu, no dia seguinte, que cozinhasse o pior. Esopo trouxe língua: transmite insultos, erros, provoca discórdia, guerras.

Zerar → recomeçar. Hoje você tem meios para guardar milhares de informações, mas o mais perene é a escrita. Sem ela a humanidade não teria desenvolvido essas modernas máquinas que armazenam e transmitem o conhecimento humano. Foi a escrita que nos permitiu chegar aonde estamos.


Do “Brasil Almanaque de Cultura Popular”
de Elifas Andreato e João Rocha Rodrigues


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