domingo, 7 de outubro de 2018

Erreaguês



Temos aqui um extraordinário caso de inovação semântica. Os departamentos chamados de Recursos Humanos são a última evolução de um dos mais antigos setores de atividade social econômica da Humanidade. Em resumo, eles tratam do relacionamento entre quem manda e quem obedece, quem paga e quem recebe (quando recebe).

Antes de virar RH, a sutil arte de mediar este complicado nó era conhecido como Pessoal e, um pouco antes ainda, como Feitoria. Pelo amor de Deus, não me culpem por ser fiel à História!

Pois bem... para tentar superar as más conotações destes períodos distantes, em que apenas mesquinhos interesses monetários regiam as relações trabalhistas, foi inventado um novo idioma, composto por palavras suaves e insinuantes que apenas acobertam velhos significados. Em resumo, o problema é de tradução.

Exemplos de aplicação

Fato: Greve.
Idioma antigo: Isso é caso de polícia!
Erreaguês: Relação Sindical Conflitante.

Fato: Corte de pessoa.
Idioma antigo: Põe todo mundo na rua!
Erreaguês: Política Gerencial Litigiosa.

Fato: Abono de Natal.
Idioma antigo: Paga que eles merece!
Erreaguês: Cultura Grupal Paternalista.

Fato: Acidente de trabalho.
Idioma antigo: Manda pro SUS.
Erreaguês: Relação Assistencial Distributiva.

Fato: Negociação salarial.
Idioma antigo: Nem um tostão a mais!
Erreaguês: Avaliação Negociada Decisória.

Fato: Comissão de Fábrica.
Idioma antigo: Aqui quem manda sou eu!
Erreaguês: Gestão Coletiva Socializante.

(Do livro “Manual do Cara-de-Pau”, de Carlos Queiroz Telles)


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