sábado, 13 de outubro de 2018

Henry Louis Mencken



Henry Louis Mencken (1988-1956), mais conhecido como L. H. Mencken, de Baltimore, Maryland, foi um dos mais influentes jornalistas e escritores americanos do seu tempo. Suas frases satíricas, abordando os mais diversos temas, tornaram-se célebres e repetidas à exaustão nos EUA e no mundo inteiro. Para os leitores do almanaque, uma amostra do talento de L. H. Mencken. Soda cáustica pura.

01. Digam o que quiserem sobre os Dez Mandamentos, devemos dar-nos por felizes por eles não passarem de dez.

02. As únicas pessoas realmente felizes são as mulheres casadas e os homens solteiros.

03. Quando se ouve um homem falar de seu amor por seu país, podem saber que ele espera ser pago por isto.

04. O pior governo é o mais moral. Um governo composto de cínicos é frequentemente mais tolerante e humano. Mas, quando os fanáticos tomam o poder, não há limite para a opressão.

05. Todos os homens são fraudes. A única diferença é que alguns admitem isso. Eu mesmo nego...

06. A consciência é aquela voz interior que nos adverte de que alguém pode estar a olhar.

07. Nenhum homem merece uma confiança ilimitada - na melhor das hipóteses, a sua traição espera uma tentação suficiente.

08. Só há uma coisa na qual homens e mulheres concordam: nenhum dos dois confia nas mulheres.

09. É difícil acreditar que um homem está a dizer a verdade quando você sabe que mentiria se estivesse no lugar dele.

10. Pode ser um pecado pensar mal dos outros. Mas raramente será um engano.

11. Os homens casados vivem mais do que os solteiros - ou, pelo menos, queixam-se durante mais tempo.

12. Na democracia, um partido sempre dedica suas principais energias tentando provar que o outro partido não está preparado para governar. Em geral, ambos são bem-sucedidos e têm razão.

13. Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada.

14. Nunca pus um charuto na boca antes dos nove anos.

Henry Louis Mencken

Por Francisco Botelho
  
   
Altas horas da noite, o crítico e jornalista norte-americano Henry Louis Mencken acendia um charuto, sentava-se em frente à máquina de escrever e dava início a seu entretenimento favorito. Golpeando as teclas num ritmo frenético, em meio a intermináveis baforadas, ele se lançava em mais uma sessão de diatribes e impropérios: o alvo de seus ataques, dependendo do dia e do estado de espírito, podia ser algum escritor de talento duvidoso, a moral da classe média americana, o New Deal – política norte-americana de investimentos em obras públicas para enfrentar a recessão na década de 30 – ou a humanidade como um todo. De tempos em tempos, Mencken fazia uma pequena pausa, lia o que acabara de escrever, dava um tapa na perna e soltava uma gargalhada. Depois de recuperar o fôlego, suspirava com satisfação e começava o próximo parágrafo.

A cena, descrita por um colega de trabalho, é perfeita para ilustrar a obra e a personalidade de Mencken, um dos grandes mitos do jornalismo norte-americano e um dos maiores críticos da mentalidade do seu país. Fustigou sem piedade as instituições, as crenças e os costumes de seus conterrâneos. Inimigo jurado de toda forma de puritanismo, atacava a moral burguesa, onde quer que a encontrasse. E poucas coisas lhe davam mais prazer que assistir, com um olhar lânguido e complacente, à indignação generalizada que seus textos despertavam.

Mencken nasceu em Baltimore, em 1880, e ali ficou até o fim da vida, em 1956. Suas palavras, no entanto, alcançavam os quatro cantos dos Estados Unidos, levadas por revistas como Smart Set e American Mercury. Pródigo, abundante, ele escreveu durante quatro décadas e incomodou na mesma medida em que foi lido por todos – até por aqueles que o detestavam.

No auge da sua carreira, ele se tornou algo como o superego do seu país – uma espécie de “má consciência” nacional, pronta a denunciar toda espécie de mesquinharia e provincianismo. Sua inteligência transgressora tornou-o o ídolo de muitos; outros tantos, talvez a maioria, jamais perdoaram sua iconoclastia. Entre seus admiradores, encontrava-se o crítico Edmund Wilson – um dos maiores pensadores norte-americanos, autor de Rumo à Estação Finlândia, que cresceu lendo os textos de Mencken na revista Smart Set e para sempre o consideraria uma de suas influências decisivas. O escritor F. Scott Fitzgerald, que devia às resenhas literárias de Mencken muito da sua fama, apontava o “Sábio de Baltimore” como um dos maiores inspiradores da Geração Perdida – o grupo de jovens intelectuais americanos que, no período do pós-guerra, dedicou-se a retratar a “morte de todos os deuses” e o esgotamento dos antigos ideais.

Mencken jamais se sentiu à vontade com essa posição de guru intelectual: afinal, sempre se esforçou em evitar o proselitismo e poucas coisas o deixavam mais desconfiado que a unanimidade – mesmo quando ela estava do seu lado.

Hoje, muitos o veem como o exemplo do intelectual cético e belicoso, descrente de todas as convicções, avesso a certezas absolutas e a tudo o que possa servir de obstáculo para o uso da razão. Suas armas foram o cinismo e a hipérbole. Seu legado, a sugestão de que o homem é uma criatura desastrada e que só a cultura é capaz de redimi-lo. Em uma entrevista, no final da vida, disse que “a humanidade sofre de uma idiotice patológica; ela jamais será feliz”. No entanto, seu vigoroso ceticismo guarda espaço para uma firme, ainda que discreta, esperança: “Acredito que é melhor ser livre do que ser um escravo. Acredito que é melhor dizer o que se pensa do que mentir. E acredito que é melhor saber do que ser um ignorante”.

(Da revista Superinteressante)

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