segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Tardes alegres no Cine Castelo

Por Carlos Urbim


Em (9 de junho de) 1956, o maior sucesso do rádio gaúcho era o Programa Maurício Sobrinho, transmitido diretamente do Cine Castelo*, em Porto Alegre, pela Rádio Farroupilha. No palco, Maurício Sirotsky Sobrinho comandava uma festa de música, prêmios e alegra. Terno impecável, bigode aparado com capricho, cabelo penteado para trás, sorriso permanente nos lábios. Maurício Sobrinho foi, nessa época, o rei dos programas de auditório do Rio Grande do Sul.


Maurício Sobrinho e Salomé Parísio
(22 de junho de 1957)

Todos os sábados, a partir das 14 horas, o Castelo lotava. A Rua da Azenha ficava apinhada de gente que queria ver os calouros e as grandes estrelas que passavam pelo palco. Eram apresentados quadros de humor e os últimos sucessos da música popular. Entre uma atração e outra, um balaio de prêmios. Maurício animava a multidão com o “Golaço Sudam”, as “Surpresas Nescafé” e anunciando a chegada ao cinema dos grandes ídolos: Ângela Maria, Cauby Peixoto, Trio Irakitan, Emilinha Borba.

Na frente do Cine Castelo, a multidão se agitava. Todos queriam ver os artistas, que vinham escoltados pela polícia desde o City Hotel, no Centro, até a Azenha. O burburinho logo se transformava numa sequência interminável de aplausos. Ainda não havia emissoras de televisão no estado e ver de perto as estrelas do rádio era uma apoteose popular.

Além dos ídolos, o Programa Maurício Sobrinho promovia um desfile de calouros que vinham buscar a fama. Podiam ser duplas sertanejas formadas por irmãos gêmeos ainda imberbes, cantores de tango, clones de Carlos Galhardo, Orlando Silva ou Marlene. Foi nas tardes do Cine Castelo que os gaúchos viram surgir uma menina vesga, nascida no bairro IAPI. Tinha um vozeirão, se chamava Elis Regina e, na década seguinte, se tornaria a maior cantora do Brasil.


Maurício Sobrinho, sentado à esquerda, Elis Regina assinando, em 1959,
seu primeiro contrato com a Rádio Gaúcha. Atrás, em pé, seus pais.
Acervo pessoal/Fernando Morgado

Também nos anos 60, Maurício Sirotsky iria lançar as bases da Rede Brasil Sul de Comunicação. Mas, naquelas tardes de sábado de 1956 a 1957 no Cine Castelo, o que interessava era emocionar a plateia. Depois de cada programa, a multidão saía da Azenha recompensada. E certa de que voltaria na próxima semana: no palco, diante dos microfones, Maurício Sobrinho estaria reservando novas surpresas para todos.

(Do livro “Rio Grande do Sul – Um século de História)

*27 de abril de1939, inauguração do cinema Castelo, na avenida Azenha, nº 666, no bairro Azenha. Funcionou por cerca de 40 anos, fechando em 1979.

**Em 1957, uma sociedade capitaneada por Maurício adquiriu a Rádio Gaúcha. Cinco anos depois, em 1962, ele criou, com Frederico Arnaldo Ballvé e Nestor Rizzo, a TV Gaúcha, antiga filiada da TV Excelsior. Em 1967, a TV Gaúcha se filia à Rede Globo de Televisão.

Adendo à matéria:

No meio dos anos 60, o Programa Maurício Sobrinho passou a ser apresentado pela manhã, das 10 ao meio-dia. Havia uma orquestra completa, um conjunto melódico e um regional. A atração gaúcha principal era Elis Regina, assim apresentada pelo animador: “Há uma estrela no céu, há uma estrela terra, há uma estrela na Rádio Gaúcha; Elis Regina!” O auditório vinha abaixo. No final do programa sempre havia uma atração principal vinda de São Paulo ou do Rio de Janeiro, como Germano Matias, Isaurinha Garcia, Jamelão, Maysa, Moacyr Franco e outros mais. Pelo menos foram esses que eu vi se apresentarem no Castelo. Também tive a felicidade de assistir, gratuitamente, ao Programa Maurício Sobrinho.

Nilo da Silva Moraes


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