Por Carlos Urbim
Em (9 de junho de) 1956, o maior
sucesso do rádio gaúcho era o Programa Maurício Sobrinho,
transmitido diretamente do Cine Castelo*, em Porto Alegre , pela
Rádio Farroupilha. No palco, Maurício Sirotsky Sobrinho comandava uma festa de
música, prêmios e alegra. Terno impecável, bigode aparado com capricho, cabelo
penteado para trás, sorriso permanente nos lábios. Maurício Sobrinho foi, nessa
época, o rei dos programas de auditório do Rio Grande do Sul.
Maurício Sobrinho e
Salomé Parísio
(22 de junho de 1957)
Todos os sábados, a partir das 14
horas, o Castelo lotava. A Rua da Azenha ficava apinhada de gente que queria
ver os calouros e as grandes estrelas que passavam pelo palco. Eram
apresentados quadros de humor e os últimos sucessos da música popular. Entre
uma atração e outra, um balaio de prêmios. Maurício animava a multidão com o
“Golaço Sudam”, as “Surpresas Nescafé” e anunciando a chegada ao cinema dos
grandes ídolos: Ângela Maria, Cauby Peixoto, Trio Irakitan, Emilinha Borba.
Na frente do Cine Castelo, a multidão
se agitava. Todos queriam ver os artistas, que vinham escoltados pela polícia
desde o City Hotel, no Centro, até a Azenha. O burburinho logo se transformava
numa sequência interminável de aplausos. Ainda não havia emissoras de televisão
no estado e ver de perto as estrelas do rádio era uma apoteose popular.
Além dos ídolos, o Programa
Maurício Sobrinho promovia um desfile de calouros que vinham buscar a
fama. Podiam ser duplas sertanejas formadas por irmãos gêmeos ainda imberbes,
cantores de tango, clones de Carlos Galhardo, Orlando Silva ou Marlene. Foi nas
tardes do Cine Castelo que os gaúchos viram surgir uma menina vesga, nascida no
bairro IAPI. Tinha um vozeirão, se chamava Elis Regina e, na década seguinte,
se tornaria a maior cantora do Brasil.
Maurício Sobrinho,
sentado à esquerda, Elis Regina assinando, em 1959,
seu primeiro contrato
com a Rádio Gaúcha. Atrás, em pé, seus pais.
Acervo pessoal/Fernando
Morgado
Também nos anos 60, Maurício
Sirotsky iria lançar as bases da Rede Brasil Sul de Comunicação. Mas, naquelas
tardes de sábado de 1956 a
1957 no Cine Castelo, o que interessava era emocionar a plateia. Depois de cada
programa, a multidão saía da Azenha recompensada. E certa de que voltaria na
próxima semana: no palco, diante dos microfones, Maurício Sobrinho estaria
reservando novas surpresas para todos.
(Do livro “Rio Grande
do Sul – Um século de História)
*27 de abril de1939, inauguração
do cinema Castelo, na avenida Azenha, nº 666, no bairro Azenha. Funcionou por
cerca de 40 anos, fechando em 1979.
**Em 1957, uma sociedade
capitaneada por Maurício adquiriu a Rádio Gaúcha. Cinco anos depois, em 1962,
ele criou, com Frederico Arnaldo Ballvé e Nestor Rizzo, a TV Gaúcha,
antiga filiada da TV Excelsior. Em 1967, a TV Gaúcha se filia à Rede Globo de
Televisão.
Adendo à matéria:
No meio dos anos 60, o Programa
Maurício Sobrinho passou a ser apresentado pela manhã, das 10 ao meio-dia.
Havia uma orquestra completa, um conjunto melódico e um regional. A atração
gaúcha principal era Elis Regina, assim apresentada pelo animador: “Há uma
estrela no céu, há uma estrela terra, há uma estrela na Rádio Gaúcha; Elis Regina!”
O auditório vinha abaixo. No final do programa sempre havia uma atração
principal vinda de São Paulo ou do Rio de Janeiro, como Germano Matias,
Isaurinha Garcia, Jamelão, Maysa, Moacyr Franco e outros mais. Pelo menos foram
esses que eu vi se apresentarem no Castelo. Também tive a felicidade de
assistir, gratuitamente, ao Programa Maurício Sobrinho.
Nilo da Silva Moraes
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