terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Ladrão de Galinha

Nei Lopes


Foi num salão, ali no Baixo Cinelândia,
perto da Espaguetelândia, na Francisco Serrador,
que eu descobri que não tem bem que sempre dure,
conhecendo a manicure Ana Luzia Eleonor,
(Com seu jeitinho encantador.)

Foi a melhor dentre as comadres que eu já tive,
mulher de um detetive, ex-polícia especial.
Era um vulcão e um pedação de mau caminho,
tudo isso embrulhadinho num rostinho angelical.
(Se eu vacilasse na parada eu podia me dar mal.)

Seu lindo corpo parecia uma escultura:
metro e meio de altura, 120 de quadris.
Mais 100 de busto, 25 de cintura,
com uma pintinha escura um pouco abaixo do nariz.
E esse nariz tão bonitinho, arrebitado,
parecia modelado pelas mãos de um Pitanguy.
E ainda por cima tinha covinha no queixo
e muitos outros apetrechos, de fazer queixo cair.
(E eu passeava por ali...)

Mas certa noite, na rua Riachuelo,
um tremendo pesadelo fez a gente despertar.
Passos na escada, ela gritou:
− É o Nascimento! Ele é um cara violento,
é melhor tu te arrancar!

Pulei janela, estava já pulando muro
quando, no meio do escuro,
Ana Luzia Eleonor gritou pra rua:
− Peguem e lixem esse gatuno,
ladrão inoportuno, ventanista e arrombador!
Ai, Nascimento, esse bandido me detesta,
se eu não sou mulher honesta, ele ofendia o meu pudor...

E o Nascimento consolava:

− Fica fria, meu amor,
é um larápio sem passado, é um pé inchado, é um amador,
é um ladrãozinho de galinha, não levou nenhum valor.
Vamos de volta pra caminha, tá quentinho o cobertor...

P.S. Escute essa música na internet na voz do próprio autor, Nei Lopes.

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