sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Teoria das duas probabilidades



Quando o humorista Apparício Torelly, o Barão de Itararé foi preso pelo Estado Novo, sendo encarcerado no presido na rua Frei Caneca, Rio de Janeiro, onde permaneceria de março a dezembro de 1936. Outros presos políticos haviam sido transferidos do navio-presídio, mas a chegada do humorista, devido à sua popularidade, foi a que despertou maior interesse.

“Mais tarde, a notícia da chegada do Barão seria divulgada oficialmente pela ʽRádio Libertadoraʼ durante sua programação. Improvisada graças à criatividade dos presos, a ʽrádioʼ era gritada para as galerias. Da sua cela, Apporelly confortou os companheiros, inquietos a respeito do que os esperava. Todo o seu otimismo baseava-se na sua ʽteoria das duas probabilidadesʼ. Ali onde eles estavam não havia motivo para receio, explicava. Que poderia acontecer? Duas coisas: ou seriam postos em liberdade ou continuariam presos. Se fossem soltos, muito bem, era o que queriam. Se os deixassem na prisão, permaneceriam sem processo ou com processo. Se não fossem processados, melhor: poderiam ser soltos mais tarde. Se processados, seriam julgados e, portanto, absolvidos ou condenados. Se fossem absolvidos, ótimo. Se fossem condenados, seriam condenados à prisão ou então à morte. Se ficassem na prisão, melhor: descansariam algum tempo à custa do governo e iriam para a rua. Mas se fossem condenados à morte, seriam indultados ou fuzilados. Se fossem indultados, excelente, não teriam com que se preocupar. Mas se fossem fuzilados, ótimo, porque também não teriam mais com que se preocupar.

A rádio era um artifício para manter o moral elevado, circular informações ou simplesmente se distrair. Assim, todas as noites, após o jantar, eles ouviam um dos presos, o médico Campos da Paz Jr., eleito speaker devido à sua voz possante, anunciar cada emissão com o slogan criado pelo Barão: ʽAgrade ou não agrade, todos à grade para ouvir a PR-ANL − A Voz da Liberdade.ʼ A emissora, ainda segundo Apporelly, transmitia em grande potência: ʽ1.600 velocípedes.ʼ”

(Do livro “Entre sem bater − A vida de Apparício Torelly
O Barão de Itararéde Cláudio Figueiredo)


O Barão por Edgar Vasques


Nenhum comentário:

Postar um comentário