Fábula de Monteiro
Lobato
Meteu-se um mono* a falar numa roda
de sábios e tais asneiras disse que foi corrido a pontapés.
– Quê? Exclamou ele. Enxotam-me
daqui? Negam-me talento? Pois hei de provar que sou um grande figurão e vocês
não passam duns idiotas.
Enterrou o chapéu na cabeça e
dirigiu-se à praça pública onde se apinhava copiosa multidão de beócios*. Lá
trepou em cima duma pipa e pôs-se a declamar.
Disse asneiras* como nunca, tolices
de duas arrobas, besteiras de dar com um pau. Mas como gesticulava e berrava
furiosamente, o povo em delírio o aplaudiu com palmas e vivas – e acabou
carregando-o em triunfo.
– Viram? – resmungou ele ao passar ao
pé dos sábios. Reconheceram a minha força?
Respondam-me
agora: que vale a opinião de vocês diante desta vitória popular?
Um dos
sábios retrucou serenamente:
“A opinião
da qualidade despreza a opinião da quantidade”.
*****
* mono: macaco;
* beócio: relativo à Beócia,
região da antiga Grécia ao Norte e Noroeste da Ática, ou o seu natural ou
habitante. Por extensão pejorativo, que ou o que apresenta as características
atribuídas (pelos atenienses) aos beócios, ou seja, espírito pouco cultivado,
indiferença à cultura; grosseiro, boçal;
* asneira: ato ou dito tolo ou
impensado; bobagem, dislate, tolice. Asneira vem de asno mais – eira, do Latim arius,
um sufixo formador de adjetivos. E asno é do Latim asinus, “asno”, de provável
origem no Sumério ansu.
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