sexta-feira, 22 de março de 2019

Marchinhas de Carnaval politicamente incorretas


→ “A marchinha é de tal maneira simpática que você nem presta atenção nos preconceitos que volta e meia aparecem nas letras. É assim com...” 

(Sérgio Cabral, pai)

→ O teu cabelo (ruim) não negaria a cor da pele. Mas como a cor não seria nenhum problema, por ela, apesar de negra ser bela, ele (o autor) queria anda assim o seu amor. Lamartine Babo nunca foi racista, mas os tempos mudaram, os conceitos mudaram. As palavras ficaram perigosas...

O teu Cabelo não Nega

Lamartine Babo e Irmãos Valença, 1931


O teu cabelo não nega, mulata,
porque és mulata na cor.
Mas como a cor não pega, mulata,
mulata, quero o teu amor.

Tens um sabor bem do Brasil,
tens a alma cor de anil.
Mulata, mulatinha, meu amor,
fui nomeado teu tenente-interventor.

Quem te inventou, meu pancadão,
teve uma consagração.
A lua te invejando fez careta,
porque mulata tu não és deste planeta.

Quando, meu bem, vieste a terra,
Portugal declarou guerra.
A concorrência, então, foi colossal:
Vasco da Gama contra o Batalhão Naval.

→ No final dos anos 60, homem de cabelo comprido sofria muito preconceito. Por usar uma cabeleira comprida, só podia ser homossexual. Esta música foi censurada por ser homofóbica e islamofóbica por conta do verso “Será que ele é Maomé*?”.

Cabeleira do Zezé

João Roberto Kelly, 1964


Olha a cabeleira do Zezé!
Será que ele é?
Será que ele é?

Olha a cabeleira do Zezé!
Será que ele é?
Será que ele é?

Será que ele é Bossa Nova?
Será que ele é Maomé*?
Parece que é transviado,
mas isso eu não sei se ele é?

Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!

→ Blocos carnavalescos trocaram algumas palavras dessa marchinha. No caso da Cabeleira do Zezé, a solução foi intermediária: substituiu-se o verso “corta o cabelo dele” por “solta o cabelo dele”.

*João Roberto Kelly nunca teve a intenção de ofender ou se referir ao islamismo. Usou a palavra “Maomé” apensa para rimar com “mas isso eu não sei se ele é?”. Mas, outra vez, os tempos mudaram, a patrulha do politicamente correto não perdoa nada...

→ Mulheres que não gostavam de homens eram passíveis de gozação. Esta marchinha é considerada lesbofóbica.

Maria Sapatão

João Roberto Kelly


Maria Sapatão,
Sapatão, Sapatão,
de dia é Maria,
de noite é João!

Maria Sapatão
Sapatão, Sapatão,
de dia é Maria,
de noite é João.

O sapatão está na moda,
o mundo aplaudiu.
É um barato, é um sucesso,
dentro e fora do Brasil!

 → A gíria “Sapatão” ao definir uma lésbica, é considerada muito pejorativa pelo público LGBT, para nomear uma mulher gay, porque foi dada por homens preconceituosos.

E outra: “de dia é Maria, de noite é João”, dá uma ideia que elas só assumiriam a sua sexualidade à noite, não tendo coragem de demonstrar o que são durante o dia.

→ Outra marchinha considerada preconceituosa quanto a fatores estéticos e antiecológico, pela frase: Pode matar que é bicho! Mulher feia mereceria morrer só por ser feia?

Pode matar que é bicho

Haroldo Lobo e Milton de Oliveira


Quando a mulher é boa,
é boa, é muito boa,
o homem deve ter,
cuidado e capricho.
Também quando ela é feia,
é feia e muito feia,
pode matar que é bicho!

(bis)

A mulher quando é um pedaço,
faz o homem até bancar o carrapicho,
Mas quando não é bonita,
ele mesmo, às vezes, grita:
Pode matar que é bicho!

→ E a gozação dos problemas de impotência dos velhos, quando, na velhice, não conseguem mais ter ereção. Onde o órgão sexual masculino (pipa para não dizer pica) é ridicularizado.

A pipa do vovô

Manoel Ferreira e Ruth Amaral


A pipa do vovô não sobe mais,
a pipa do vovô não sobe mais.
Apesar de fazer muita força,
o vovô foi passado pra trás!

(bis)

Ele tentou mais uma empinadinha,
a pipa não deu nenhuma subidinha.
Ele tentou mais uma empinadinha,
a pipa não deu nenhuma subidinha.

A pipa do vovô não sobe mais
A pipa do vovô não sobe mais
Apesar de fazer muita força
O vovô foi passado pra trás!
(bis)

Não se brinca com a velhice alheia, não se debocha da miserável condição humana de definhar fisicamente no auge da expertise intelectual. Mas hoje, com os comprimidos azuizinhos, a pipa do vovô sobe que é uma beleza!

→ Mulher casada não podia andar sozinha na rua, que seria assediada por algum inoportuno (gavião). Ir ao cinema sozinha, ficar na praia lendo ou fazendo qualquer outra atividade desacompanhada era taxada de andorinha (mulher frágil), logo disponível aos gaviões...

Andorinha

Haroldo Lobo,1961


Mulher casada,
que anda sozinha,
é andorinha,
é andorinha.

(bis)

É andorinha,
que sozinha,
faz verão.
Andorinha, cuidado,
homem casado,
sozinho, é gavião

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