→ “A marchinha é de tal maneira
simpática que você nem presta atenção nos preconceitos que volta e meia
aparecem nas letras. É assim com...”
(Sérgio Cabral, pai)
→ O teu cabelo (ruim) não negaria a
cor da pele. Mas como a cor não seria nenhum problema, por ela, apesar de negra ser bela, ele (o autor) queria anda assim o seu amor. Lamartine Babo nunca foi racista, mas os tempos mudaram, os conceitos mudaram. As palavras ficaram perigosas...
O teu Cabelo não Nega
Lamartine Babo e Irmãos
Valença, 1931
O teu cabelo não nega, mulata,
porque és mulata na cor.
Mas como a cor não pega, mulata,
mulata, quero o teu amor.
Tens um sabor bem do Brasil,
tens a alma cor de anil.
Mulata, mulatinha, meu amor,
fui nomeado teu tenente-interventor.
Quem te inventou, meu pancadão,
teve uma consagração.
A lua te invejando fez careta,
porque mulata tu não és deste planeta.
Quando, meu bem, vieste a terra,
Portugal declarou guerra.
A concorrência, então, foi colossal:
Vasco da Gama contra o Batalhão Naval.
porque és mulata na cor.
Mas como a cor não pega, mulata,
mulata, quero o teu amor.
Tens um sabor bem do Brasil,
tens a alma cor de anil.
Mulata, mulatinha, meu amor,
fui nomeado teu tenente-interventor.
Quem te inventou, meu pancadão,
teve uma consagração.
A lua te invejando fez careta,
porque mulata tu não és deste planeta.
Quando, meu bem, vieste a terra,
Portugal declarou guerra.
A concorrência, então, foi colossal:
Vasco da Gama contra o Batalhão Naval.
→ No final dos anos 60, homem de
cabelo comprido sofria muito preconceito. Por usar uma cabeleira comprida, só
podia ser homossexual. Esta música foi censurada por ser homofóbica e
islamofóbica por conta do verso “Será que ele é Maomé*?”.
Cabeleira do Zezé
João Roberto Kelly,
1964
Olha a cabeleira do Zezé!
Será que ele é?
Será que ele é?
Olha a cabeleira do Zezé!
Será que ele é?
Será que ele é?
Será que ele é Bossa Nova?
Será que ele é Maomé*?
Parece que é transviado,
mas isso eu não sei se ele é?
Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!
Será que ele é?
Será que ele é?
Olha a cabeleira do Zezé!
Será que ele é?
Será que ele é?
Será que ele é Bossa Nova?
Será que ele é Maomé*?
Parece que é transviado,
mas isso eu não sei se ele é?
Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!
→ Blocos carnavalescos trocaram
algumas palavras dessa marchinha. No caso da Cabeleira do Zezé, a solução foi
intermediária: substituiu-se o verso “corta o cabelo dele” por “solta o cabelo
dele”.
*João Roberto Kelly nunca teve a intenção de ofender ou se referir ao islamismo. Usou a palavra “Maomé” apensa para rimar com “mas isso eu não sei se ele é?”. Mas, outra vez, os tempos mudaram, a patrulha do politicamente correto não perdoa nada...
*João Roberto Kelly nunca teve a intenção de ofender ou se referir ao islamismo. Usou a palavra “Maomé” apensa para rimar com “mas isso eu não sei se ele é?”. Mas, outra vez, os tempos mudaram, a patrulha do politicamente correto não perdoa nada...
→ Mulheres que não gostavam de
homens eram passíveis de gozação. Esta marchinha é considerada lesbofóbica.
Maria Sapatão
João Roberto Kelly
Maria Sapatão,
Sapatão, Sapatão,
de dia é Maria,
de noite é João!
Maria Sapatão
Sapatão, Sapatão,
de dia é Maria,
de noite é João.
O sapatão está na moda,
o mundo aplaudiu.
É um barato, é um sucesso,
dentro e fora do Brasil!
E outra: “de dia é Maria, de noite é João”, dá uma ideia que
elas só assumiriam a sua sexualidade à noite, não tendo coragem de demonstrar o
que são durante o dia.
→ Outra marchinha considerada
preconceituosa quanto a fatores estéticos e antiecológico, pela frase: Pode
matar que é bicho! Mulher feia mereceria morrer só por ser feia?
Pode matar que é bicho
Haroldo Lobo e Milton
de Oliveira
Quando a mulher é boa,
é boa, é muito boa,
o homem deve ter,
cuidado e capricho.
Também quando ela é feia,
é feia e muito feia,
pode matar que é bicho!
(bis)
A mulher quando é um pedaço,
faz o homem até bancar o
carrapicho,
Mas quando não é bonita,
ele mesmo, às vezes, grita:
Pode matar que é bicho!
→ E a gozação dos problemas de
impotência dos velhos, quando, na velhice, não conseguem mais ter ereção. Onde
o órgão sexual masculino (pipa para não dizer pica) é ridicularizado.
A pipa do vovô
Manoel
Ferreira e Ruth Amaral
A pipa do vovô não sobe mais,
a pipa do vovô não sobe mais.
Apesar de fazer muita força,
o vovô foi passado pra trás!
a pipa do vovô não sobe mais.
Apesar de fazer muita força,
o vovô foi passado pra trás!
(bis)
Ele tentou mais uma empinadinha,
a pipa não deu nenhuma subidinha.
Ele tentou mais uma empinadinha,
a pipa não deu nenhuma subidinha.
A pipa do vovô não sobe mais
A pipa do vovô não sobe mais
Apesar de fazer muita força
O vovô foi passado pra trás!
a pipa não deu nenhuma subidinha.
Ele tentou mais uma empinadinha,
a pipa não deu nenhuma subidinha.
A pipa do vovô não sobe mais
A pipa do vovô não sobe mais
Apesar de fazer muita força
O vovô foi passado pra trás!
(bis)
Não se brinca com a velhice
alheia, não se debocha da miserável condição humana de definhar fisicamente no
auge da expertise intelectual. Mas hoje, com os comprimidos azuizinhos, a pipa do vovô sobe que é uma beleza!
→ Mulher casada não podia andar
sozinha na rua, que seria assediada por algum inoportuno (gavião). Ir ao cinema
sozinha, ficar na praia lendo ou fazendo qualquer outra atividade
desacompanhada era taxada de andorinha (mulher frágil), logo disponível aos gaviões...
Andorinha
Haroldo Lobo,1961
Mulher casada,
que anda sozinha,
é andorinha,
é andorinha.
que anda sozinha,
é andorinha,
é andorinha.
(bis)
É andorinha,
que sozinha,
faz verão.
Andorinha, cuidado,
homem casado,
sozinho, é gavião
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