domingo, 3 de março de 2019

Saudade do Castello



Inaugurado em 1939 com uma chuva de papel picado atirado de um avião, o Cinema Castelo fechou em 1980, e foi demolido em 1981, seguindo a sina da maioria das salas de exibição de rua de Porto Alegre.

Leia abaixo um texto publicado em Zero Hora

O Cinema Castelo, na Avenida Azenha de Porto Alegre, ficou na história da cidade não apenas por ter sido o palco do programa Maurício Sobrinho, que era a celebração dominical obrigatória nos anos 50 e 60. Com seus 2.997 lugares, atraía espectadores de todas as idades para as sessões de cinema que projetavam os lançamentos de sucessos. Francisco Carlos S. da Silva, autor do bico de pena que ilustra esta página, lembra com saudades de uma infância e adolescência marcada pelos filmes do Castello. Eram duas fitas distintas em duas sessões diárias, uma às 14h, outra às 18h. Às segundas, terças, quintas e sextas-feiras projetavam-se dois filmes. Nas quartas, sábados e domingos eram outros dois.

(...)

E era nessas sessões duplas que faziam sucesso os bangue-bangue e italianos.

(Texto do Almanaque Gaúcho – Zero Hora – 3.7.2009)


Vou fazer alguns reparos no texto acima, uma vez que o Castelo foi o primeiro cinema da minha vida e onde aprendi amar essa que, para mim, é a minha melhor forma de entretenimento.

Eu morava perto do Castelo e, quando tinha seis ou sete anos, não me lembro bem, um garoto de minha idade, o mais cara-de-pau, deu a ideia: “Vamos furar o Castelo!” Não houve muito papo, e ele se mandou para a frente do cinema, seguido por cinco garotos da mesma idade. Eu era o segundo da fila. A sessão dominical começava às 14h; eram 13h50min, e Negão, o líder da turma, passou batido pelo porteiro, que só olhou, incrédulo, para aqueles garotos que entraram resolutos no cinema. O primeiro filme, se não me engano, era o desenho animado “Branca de Neve e os Sete Anões”. Hoje, creio que entendo o que ocorreu. Antes do filme começar, era comum muitos garotos saírem para comprar pipoca e voltar para dentro do cinema. Nunca que um porteiro, cara vivo e escolado na manha dos furões, iria acreditar que estava sendo passado pra trás por cinco garotos daquela idade, e foi o que aconteceu: ele foi passado pra trás!

Creio que o nome do cinema, no artigo de ZH, esteja errado (Castello). A frente do cinema tinha a forma de um castelo, por isso Cine Castelo. As sessões ocorriam às 14 e 20h (e não às 18h), sendo que os filmes de segunda, terça e quarta eram uns; quinta, sexta, sábado e domingo outros dois filmes diferentes. Na sessão de domingo, além dos dois filmes de ação (quase sempre capa-espada ou de mocinho). Havia um desenho animado e um pequeno filme com “Os três Patetas”. Sempre se disse que o Castelo tinha 3.500 lugares. Havia, ao redor da parte de baixo, um mezanino que fazia toda a volta no cinema e, na parte do fundo, era mais alta e com mais lugares. As cadeiras eram de madeira, e, quando havia um corte no filme, todos batiam com os assentos no espaldar das cadeiras, o que fazia um barulho ensurdecedor.

Quase defronte ao Cine Castelo ficava a 2ª Delegacia de Polícia. As sessões da tarde estavam sempre lotadas de vagabundos. Às vezes, os policiais faziam um corredor da frente do Castelo até a entrada da DP. Quem não tivesse carteira assinada, ou carteira de estudante, e ainda que não estivesse sendo procurado pela polícia, ficava detido por algumas horas.

Uma vez por ano, passava um filme educativo sobre doenças venéreas. À tarde era só para mulheres. À meia-noite, uma sessão só para homens. Nesses filmes, em algumas cenas, apareciam algumas mulheres nuas (sempre gordas e doentes), o que provocava um grande alvoroço na rapaziada. Entrei de terno e gravata para aparentar mais idade, quando tinha 16 anos. Era uma zorra total! Assovios, palavrões, uma catarse geral, pois era uma forma para berrar, num cinema, toda a sorte de impropérios e não ser punido.
  
Nilo S. Moraes
  
Conforme Sérgio da Costa Franco, o bairro ganhou relevo no romance de Josué Guimarães, “Camilo Mortágua”, cujo principal personagem residiu, durante algum tempo, numa casa de cômodos fronteira ao antigo Cinema Castelo. Este cinema, aliás, foi considerado o maior da história de Porto Alegre, com mais de 3 mil lugares. O bairro Azenha foi criado pela Lei 2022 de 7/12/59, com limites alterados pela Lei 4685 de 21/12/79. Trata-se de um bairro que é uma das principais vias de passagem de Porto Alegre, possuindo um forte comércio, especialmente com relação às lojas de autopeças. Situa-se, no bairro, um dos mais antigos hospitais da cidade, o Ernesto Dornelles, inaugurado em 1962, localizado entre a Avenida Ipiranga e Rua Freitas de Castro, em uma área de 11 mil quadrados.

10 comentários:

  1. Saudade do Castelo.

    Marcou uma geração.
    Inesquecíveis lembranças ...

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  2. Sou da familia Castello,o nome do cienma eranpor causa do sobrenomme Castello q e com dois LL

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  3. Morávamos na rua Bernardo Pires esquina com a Princesa Isabel eu meu irmão era nosso passeio de domingo cinema Castelo, Roma éramos felizes 👏👏

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    1. Castelo, Roma, Oásis... quem, dessa época, não feliz num desses cinemas?

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    2. Eu ia muito com a minha mãe. No Castelo e no Roma. Quanta saudade

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    3. Dois grandes cinemas que fizeram uma geração muito feliz...

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  4. Teve até baile do jara ali , não foi demolido em 81 ,e sim depois nos anos 90

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  5. Verdade... Sou de 1980 e muito peguei ônibus na frente do Cine Castelo. Lembro até de inaugurar uma casa de show no local. Impossível ele ter sido demolido em 1981.

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  6. A Casa de Show ficava na parte da frente do Castelo, subindo uma escada para o primeiro andar.

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