segunda-feira, 24 de junho de 2019

Gildo de Freitas

O Rei dos Trovadores


“O Rei dos Trovadores”, biografia de Gildo de Freitas, cuja primeira edição saiu pela Tchê, em 1985, de Juarez Fonseca.

O que se lê na biografia: as peripécias de um homem carismático, espontâneo, andarilho, volta e meia preso por se meter em brigas, talentoso, indomável, cantando, trovando e, muitas vezes, pegando no pesado para ganhar o necessário pão de cada dia. Viveu para a sua música: “Foi enterrado como pediu, pilchado, sem caixão, direto na terra. Da região da Fronteira, mandaram uma cruz de pau-ferro para o túmulo. Na lápide, ficou inscrita uma frase ditada por ele: ʽAqui descansa um gaúcho que honrou a tradiçãoʼ. E pelo sim, pelo não, muita gente resolveu santificar Leovegildo José de Freitas, o Gildo”.

Juarez caprichou: “No dia de Finados, no dia de sua morte e no dia de seu aniversário, o velho cemitério da velha Viamão, primeira capital gaúcha, amanhece e anoitece com romarias e promessas, velas e flores. Há quem o receba em sonhos, transmitindo recados. Mas o que ele possa fazer agora, depois de morto, perde em importância para tudo o que fez em vida. A marca da história é que Gildo de Freitas foi um homem comum, cheio de virtudes e defeitos. E foi como um homem assim, brotada do meio do povo, que ele forjou seu lugar especial”.  

(Parte de uma crônica de Juremir Machado da Silva,
no Correio do Povo de junho de 2019)

Eu Reconheço que sou um Grosso

Gildo de Freitas

Me chamam de grosso, eu não tiro a razão.
Eu reconheço a minha grossura,
Mas sei tratar a qualquer cidadão
Até representa que eu tenho cultura.
Eu aprendi na escola do mundo,
Não foi falquejado em bancos colegiais.
Eu não tive tempo de ser vagabundo,
Porque quem trabalha vergonha não faz.

Eu trabalhava, ajudava meus pais.
Sempre levei a vida de peão,
Porque, no tempo, que eu era rapaz,
Qualquer serviço era uma diversão.
Lidava no campo cantando pros bichos,
Porque pra cantar eu trouxe vocação,
Por isso, até hoje, eu tenho por capricho
De conservar a minha tradição.

Eu aprendi a dançar aos domingos,
Sentindo o cheiro do pó do galpão.
Pedia licença, apeava do pingo
E dizia adeus assim de mão em mão.
E quem conhece o sistema antigo,
Reclame por carta se eu estou mentindo.
São documentos que eu trago comigo,
Porque o respeito eu acho muito lindo.

Minha Sociedade é o meu CTG,
Porque nela enxergo toda a antiguidade
E não se confunda eu explico por quê,
Os trajes das moças não são à vontade,
E se, por acaso, um perverso sujeito
Querer fazer uso e abusos de agora,
Já entra o machismo impondo respeito
E arranca o perverso em seguida pra fora.

Ô mocidade associem com a gente,
Vá no CTG e leve um documento.
Vão ver de perto o que dança os decentes
E que sociedade de bons casamentos.
Vá ver a pureza, vá ver alegria.
Vá ver o respeito dessa sociedade.
Vá ver o encanto das belas gurias,
Que possam lhe dar uma felicidade.


Gildo de Freitas (Porto Alegre, 19 de junho de 1919 − Porto Alegre, 4 de dezembro de 1982), nome artístico do cantor e compositor brasileiro Leovegildo José de Freitas.

Possuía um estilo muito próximo ao do também tradicionalista Teixeirinha, com quem, apesar de algumas divergências, por vezes fez parcerias e rivalizava em popularidade.

Trabalhou em diversas profissões, mas era a rigor um trovador e cantador popular.

4 de dezembro, data de sua morte, foi instituído como Dia Estadual do Poeta Repentista Gaúcho no Rio Grande do Sul, pela Lei Estadual RS 8.819/89, no mesmo dia, em 1985, morria o cantor Teixeirinha.


Um comentário:

  1. Muito bom o texto sobre Gildo de Freitas, primeiro devemos conhecer os nossos artistas.

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