segunda-feira, 3 de junho de 2019

O Poder e o Valor das Moedas



Embora alguns estudiosos queiram atribuir a origem da palavra “moeda” aos fenícios, povo que deu origem ao mercantilismo internacional, o mais provável é que o étimo provenha do latim “moneta” − uma referência ao lugar onde os romanos cunhavam suas moedas: o templo de Juno Moneta. O uso e a cunhagem de moedas, no entanto, era costume anterior ao apogeu de Roma e remonta ao século VIII a.C. O rei Creso, da Lídia, teria sido o primeiro a usar o ouro para cunhar suas moedas. No século III da era Cristã, o ouro − devido à escassez e valor − caiu em desuso. Mas, no século XII, o costume de utilizar o metal foi ressuscitado pelas moedas comerciais das repúblicas italianas de Veneza e Florença. Em 1283, o doge Giovanni Dandolo (1280-1289) cunhou em ouro a moeda chamada “zecchino” (de Zecca: Casa da Moeda). O zecchino (imagem acima) − chamadas “sequin” em Portugal − tinha 3,5 gramas de ouro e trazia a seguinte inscrição em latim: Sit Tibi, Christie Datus Quem Tu Regis Iste Ducatus, que quer dizer: “Seja a Ti, Cristo, dedicado esse Ducado” (“Ducado”, nesse caso, era a própria nação que cunhara a moeda). Por causa disso, o zecchino ficou conhecido por ducado. Durante cinco séculos, a moeda manteve o valor equivalente ao seu peso em ouro: 3,5 gramas.

Na Europa do século XVI, os preços eram praticados em ducados. Por exemplo: um quintal (ou 60 kg) de pimenta valia cerca de 35 ducados e um quintal de pau-brasil, 2,5 ducados (8,75 gramas de ouro). Uma nau valia aproximadamente mil ducados (ou 3,5 kg de ouro) e uma arroba (ou 15 kg) de açúcar, meio ducado. Conforme dito neste livro*, Portugal pagou à Espanha 350 mil ducados (ou 1.200 kg de ouro) pela posse das ilhas Molucas.

O ducado circulava em Portugal, mas a principal moeda da nação era o cruzado. Vinte e cinco cruzados valiam um ducado. Embora a moeda circulante fosse o cruzado, a moeda de conta em Portugal era o real (plural réis) − que não circulava mais desde fins do século XV. Um cruzado valia 400 réis. Uma nau valia 25 mil cruzados e a sua artilharia equivalia a dez mil cruzados. Um escravo negro valia cerca de três mil cruzados e um nativo do Novo Mundo, 1 mil cruzados. A manutenção de um pelotão de 150 soldados durante um ano, em Angola, na África, custava 7,5 mil cruzados em 1536. Um serralheiro ganhava 175 cruzados por ano; um ferreiro, 150 e um condutor de carroças, 25 cruzados anuais.

Havia muitas moedas em circulação em Castela − entre elas a dobra, a onça, o dobrão e o peso. Mas a principal moeda de contas era o maravedi (ou morabitino, maravedim ou ainda amaravidil), moeda de origem árabe, cujo nome remete à dinastia dos Almoravides, que reinou na Espanha. Os Reis Católicos Fernando e Isabel desvalorizaram 18 vezes o maravedi. Ainda assim, 375 maravadis equivaliam a um ducado. Um maravedi valia 27 réis e um quintal de pau-brasil era vendido, em 1504, por 1.865 maravedis.


* “Náufragos, Traficantes e Degredados – As Primeiras Expedições ao Brasil”, de Eduardo Bueno. Coleção Terra Brasilis − Volume II − Objetiva.
  
(Do livro citado acima)

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