quinta-feira, 25 de julho de 2019

Histórias do Coronel Militão Fagundes



Durante a II Guerra Mundial, afirmava serem tantos os casos de brigas, ferimentos e homicídios ocorridos no município onde tinha suas terras, que a maioria dos jovens da região para escapar de tamanha violência, preferira alistar-se na FEB e proteger-se na Itália.

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Presidente do clube de futebol de sua cidadezinha, assim o coronel descreveu, no Largo dos Medeiros, as ocorrências em jogo realizado com equipe visitante:
-  ... Para alegrar a festança, contratei a banda de música. Mas pediram muito dinheiro para se apresentar o tempo todo. Aí propus pagar a metade do preço: tocariam apenas na hora da abertura dos portões, no intervalo do match e quando saísse um golo, mas tocaram tanto, que no final do jogo as clarinetas estavam rachadas e os tambores furados. Os metais de sopro ficaram em brasa; para resfriá-los, tiveram que pular o muro e fazer fila, a fim de trazer água em baldes do vizinho. O sujeito da corneta criou papada de tanto assoprar, o maestro ficou de braço duro e tiveram de dar oxigênio para o da tuba. O mais interessante aconteceu com o tocador de pratos: pegou resfriado de tanto vento que apanhou.

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O coronel Militão narrava a seleto grupo, numa festa, como enfrentara certa cobra sucuri:
- ...Levantei a Winchester com todo o cuidado, fiz a pontaria, descansei lentamente o dedo no gatilho...
Nesse instante, chamaram-no ao telefone. Quinze minutos depois, quando Militão voltou, alguém lembrou:
- E daí, coronel, como é que terminou a história da Winchester?
- Onde é que eu estava mesmo?
- O senhor ia apertando o gatilho...
- Mas bah, tchê, nunca errei uma – exclamou Militão.
- Quando dei o tiro, foi pena pra tudo que é lado!

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Determinada ocasião, pespegou tamanha mentira que o ouvinte, farto de tudo aquilo, decidiu revidar:
- Pois o senhor sabe, coronel, uma vez eu também experimentei o revólver em um bem-te-vi pousado numa árvore. Mirei bem e, quando ele cantou “bem... eu, pá!, tirei o bico dele fora. O “...te vi” ficou preso na garganta, pois não teve por onde sair.
Militão suspirou fundo, olhou para o outro com ar triste e comentou, derrotado:
 - É, há homens que atiram muito bem...

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Militão, em visita ao Rio de Janeiro, foi convidado para jantar solene na mansão de milionário a quem conhecera recentemente. Terminada a cerimoniosa refeição, passaram todos à confortável e espaçosa biblioteca. Não tardou muito e a conversa recaiu sobre a famosa coleção de moedas do anfitrião. Tinha ele todas as peças cunhadas no Brasil, desde a época colonial até os tempos atuais, inclusive o império. Tranqüilo e imponente, o coronel disse ser também numismata. Animado com a presença de um colega, o dono da casa perguntou:
- O senhor também coleciona moedas brasileiras?
- Não – respondeu Militão, sereno. – As minhas são de diversos países do mundo, bem antigas e variadas, algumas muito raras mesmo.
- E quais são elas? – interessou-se outro conviva.- O senhor certamente já leu a Bíblia, é claro – disse o coronel. – Pois saiba que tenho, por exemplo, um dos trintas dinheiros pagos a Judas para trair Cristo...

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A pontaria do coronel era infalível. Sempre que via algum tico-tico pousado em cerca, cortava o arame a bala, justamente entre as patinhas do passarinho. Divertia-se depois com o bichinho tentando segurar as extremidades do fio recém-arrebentado...

(Renato Maciel de Sá Júnior. Anedotário da Rua da Praia)

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