segunda-feira, 22 de julho de 2019

O brilhante Professor Brilhante



Foto de Antônio Carlos Mafalda

As pessoas que circulavam nas proximidades da rua Vigário José Ignácio, no início da década de 60 e meados da de 80, provavelmente lembram de um homem que exercia seu ofício sob os arcos da Igreja do Rosário. Baixo, com barba e cabelos escassos e brancos, sempre com uma boina colocada displicentemente sobre a cabeça. Francisco Brilhante tinha uma função diferente da que as floristas que ali estão hoje: retratava as pessoas que por ali passavam.

Filho de portugueses, Brilhante se formou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal, em 1920, em Porto Alegre, sua cidade natal. Seguiu para o Rio de Janeiro para completar seus estudos, na Escola de Belas Artes, custeando seus estudos e sustento através das pinturas que fazia nos jardins da Quinta da Boa Vista. Falecido em 1987, deixou um legado estimado em mais de 40 mil quadros, espalhados pelo país. Entre as inúmeras personalidades que retratou, constam nomes como Pinheiro Machado, Washington Luís, Borges de Medeiros, Getúlio Vargas, Ildo Meneghetti, Monteiro Lobato, Erico Veríssimo, Mario Quintana, Pedro Weing'rtner e Athos Damasceno Ferreira.

Nas escadarias da Igreja do Rosário, ele permaneceu durante 25 anos, utilizando, além da calçada, as dependências da casa paroquial, onde mantinha um ateliê para ministrar aulas. Os retratos que pintava na rua eram feitos, muitas vezes, com ausência de modelo, baseando-se apenas em uma pequena foto 3x4. Com estilo considerado 'parisiense', realizou incontáveis exposições na Capital e no Interior.

Brilhante, a nostalgia de um traço


Professor Brilhante por Bier

Francisco Brilhante nasceu no dia 2 de abril de 1901 e, aos 12 anos, já manifestava seu gosto pela pintura, quando desenhava para dois jornais humorísticos da época, o Bem-Te-Vi e o Sova. Na Escola de Belas Artes, foi aluno dos mestres Libindo Ferrás e Francis Pelichek. Depois de formado, foi para a capital carioca, onde permaneceu por quatro anos, para aperfeiçoar os estudos.

De volta a Porto Alegre, começou seu trabalho junto a parques e praças, fixando-se, finalmente, na Igreja do Rosário. Aos 33 anos casou-se com Edelmira Posada, estabelecendo-se no bairro São Geraldo, com os filhos Domingos e Ivaniza. Viveu por mais de 30 anos numa modesta casa, na rua Pernambuco: 'a pintura não me deu dinheiro, vivo com muito pouco, mas, em compensação, trabalhar da forma como escolhi me ensinou a viver e a conhecer os homens', costumava dizer. Apesar de popular, manifestou sua mágoa, várias vezes, por não ter o apoio das autoridades gaúchas responsáveis pela cultura.

Em 14 de julho de 1987 morreu em decorrência de problemas broncopulmonares e de infecção renal. Suas telas foram parar na Argentina e na Itália e um documentário de sua vida, nos Estados Unidos. Integrante da paisagem porto-alegrense, empresta seu nome ao espaço localizado em frente ao McDonald's da Rua da Praia. A área é conhecida como Passeio Professor Brilhante.

(Do Blog Porto Alegre - Histórias/Personagens)

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