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A charge da revista O Malho, de
29 de outubro de 1904, parecia prever a revolta que se instalaria na cidade
poucos dias depois: nem com um exército, o “Napoleão da Seringa e Lanceta”,
como muitos se referiam a Oswaldo Cruz na época, conseguia conter a fúria da
população contra a vacinação compulsória (Crédito: Leonidas/Acervo Fiocruz).
P.S. Na charge, vê-se o doutor Oswaldo Cruz, à frente de um exército de enfermeiros, com o instrumento para vacinar, e o povo revoltado com algo que o livraria de uma doença terrível.
P.S. Na charge, vê-se o doutor Oswaldo Cruz, à frente de um exército de enfermeiros, com o instrumento para vacinar, e o povo revoltado com algo que o livraria de uma doença terrível.
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Em meados de 1904, chegava a
1.800 o número de internações devido à varíola no Hospital São Sebastião. Mesmo
assim, as camadas populares rejeitavam a vacina, que consistia no líquido de
pústulas de vacas doentes. Afinal, era esquisita a ideia de ser inoculado com
esse líquido. E ainda corria o boato de que quem se vacinava ficava com feições
bovinas.
No Brasil, o uso de vacina contra
a varíola foi declarado obrigatório para crianças em 1837 e para adultos em
1846. Mas essa resolução não era cumprida, até porque a produção da vacina em
escala industrial no Rio só começou em 1884. Então, em junho de 1904, Oswaldo
Cruz motivou o governo a enviar ao Congresso um projeto para reinstaurar a
obrigatoriedade da vacinação em todo o território nacional. Apenas os
indivíduos que comprovassem ser vacinados conseguiriam contratos de trabalho,
matrículas em escolas, certidões de casamento, autorização para viagens etc.
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Charge retratando o
cientista Oswaldo Cruz como "esfolador" do Zé Povo
Após intenso bate-boca no
Congresso, a nova lei foi aprovada em 31 de outubro e regulamentada em 9 de
novembro. Isso serviu de catalisador para um episódio conhecido como Revolta da
Vacina. O povo, já tão oprimido, não aceitava ver sua casa invadida e ter que tomar
uma injeção contra a vontade: ele foi às ruas da capital da República
protestar. Mas a revolta não se resumiu a esse movimento popular.
Toda a confusão em torno da
vacina também serviu de pretexto para a ação de forças políticas que queriam
depor Rodrigues Alves – típico representante da oligarquia cafeeira. “Uniram-se
na oposição monarquistas que se reorganizavam, militares, republicanos mais
radicais e operários. Era uma coalizão estranha e explosiva”, diz o historiador
Jaime Benchimol.
Em 5 de novembro, foi criada a
Liga Contra a Vacinação Obrigatória. Cinco dias depois, estudantes aos gritos
foram reprimidos pela polícia. No dia 11, já era possível escutar troca de
tiros. No dia 12, havia muito mais gente nas ruas e, no dia 13, o caos estava
instalado no Rio. “Houve de tudo ontem. Tiros, gritos, vaias, interrupção de
trânsito, estabelecimentos e casas de espetáculos fechadas, bondes assaltados e
bondes queimados, lampiões quebrados à pedrada, árvores derrubadas, edifícios
públicos e particulares deteriorados”, dizia a edição de 14 de novembro de 1904
da Gazeta de Notícias.
Tanto tumulto incluía uma
rebelião militar. Cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha enfrentaram
tropas governamentais na rua da Passagem. O conflito terminou com a fuga dos combatentes
de ambas as partes. Do lado popular, os revoltosos que mais resistiram aos
batalhões federais ficavam no bairro da Saúde. Eram mais de 2 mil pessoas, mas
foram vencidas pela dura repressão do Exército.
Após um saldo total de 945
prisões, 461 deportados, 110 feridos e 30 mortos em menos de duas semanas de
conflitos, Rodrigues Alves se viu obrigado a desistir da vacinação obrigatória.
“Todos saíram perdendo. Os revoltosos foram castigados pelo governo e pela
varíola. A vacinação vinha crescendo e despencou, depois da tentativa de
torná-la obrigatória. A ação do governo foi desastrada e desastrosa, porque
interrompeu um movimento ascendente de adesão à vacina”, explica Benchimol.
Mais tarde, em 1908, quando o Rio foi atingido pela mais violenta epidemia de
varíola de sua história, o povo correu para ser vacinado, em um episódio avesso
à Revolta da Vacina.
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Osvaldo Cruz, na charge de J. Carlos, é retratado de forma
autoritária, dando ordem para que o mata-mosquito não perturbe o sossego dos
ricos e concentre a atenção nas moradias dos pobres.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias.
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Oswaldo Cruz, (1872-1917)
o gênio incompreendido.
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