Morava no terceiro andar. Não havia
vizinho, do quarto andar para cima, que não jogasse lixo na sua área. Sua
mulher era uma dessas conformadas que só existem duas no mundo, sendo que a
outra ninguém viu:
− Deixa
isso pra lá, Antônio, pior seria se a gente morasse no térreo.
Antônio não se controlava, ficava uma
fera quando via cair cascas de banana, de laranja, restos de comida. Em época
de melancia ficava quase louco, tinha vontade de se mudar. A mulher dizia:
− Tenha
calma, Antônio, daqui a pouco as melancias acabam e você esquece tudo.
Mas ele não
esquecia:
− Acabam as melancias, vêm as jacas,
acabam as jacas, vêm os abacates. Já pensou, Marieta? Caroço de abacate é fogo!
Um dia chegou na área, e viu até lata
de sardinha. Procurou para ver se tinha alguma sardinha, mas a lata tinha sido
raspada. Se queimou. Falou com o síndico. Ele disse que era impossível
fiscalizar todos os quarenta e oito apartamentos para ver quem é que atirava as
coisas. Pensou em fechar a área com vidro. Mas pediram um dinheirão e, não
decidisse dentro de sete dias, ia ter um aumento de trinta por cento. Foi à
polícia dar queixa dos vizinhos. O delegado achou muita graça, disse que não
podia dar educação aos vizinhos e, se pudesse, daria aos seus, pois ele morava
no térreo e era muito pior.
Leon Eliachar: do
livro “O homem ao zero”, Expressão e Cultura
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