(...)
O
que aconteceu, para que estejamos metidos nesta enrascada? Ora, teve um chinês
que gostava de tomar sopa de morcego. Onde já se viu uma coisa dessas? Bom, ele
gostava, paciência. Aí ele foi a uma feira em Wuhan e comprou um morcego para
fazer sopa, o morcego tinha coronavírus, o coronavírus deu um jeito de se
adaptar para invadir as células do chinês, invadiu-as e, pronto, estava feita a
confusão planetária, gente morrendo, gente desempregada, meio mundo trancado em
casa.
(...)
E o que os chineses comem? E o que eles não comem?
(...)
Diálogo travado entre uma ocidental e um chinês durante uma festa em Londres. A ocidental
pergunta:
−
Você poderia dizer o que os chineses não comem?
−
Posso responder o contrário? − rebate o chinês.
−
Sim, é claro. Você pode dizer o que os chineses comem?
−
Escute com atenção. Tudo o que voa no céu e você pode ver, exceto aviões; tudo
o que nada no rio e no mar, exceto submarinos; tudo o que tem quatro pernas
sobre a terra, exceto mesas e cadeiras. É isso que nós comemos.
Sopa
de morcego, portanto, é batatinha frita para chinês.
Mas
acho que talvez isso esteja entre as mudanças. Talvez as autoridades mundiais
se tornem mais atentas às necessidades calóricas e aos hábitos de higiene dos povos.
Espero que sim.
A
propósito de hábitos de higiene, eis outra provável mudança. Nós nunca mais
vamos lavar as mãos como lavávamos antes. É que, fala a verdade, nós não
lavávamos como tem de ser, não é?
Às
vezes, só dávamos uma passadinha de água e pronto. Mas depois do corona seremos
mais asseados.
O
que mais? O home office está consagrado, sem dúvida. E muitos sentirão nojinho
de apertar as mãos ao se cumprimentar. Teremos também algumas outras novidades
localizadas, uma que outra evolução, um que outro retrocesso, mas acredito que
não será desta vez que alcançaremos a redenção da humanidade.
(...)
Melhor pensarmos no grande Réveillon que teremos em dezembro. Será
imensa a alegria, será inesquecível a festa. Porque, melhor do que a sensação
de viver, só mesmo a de sobreviver.
Excertos e título
adaptado da crônica
“O que mudará no mundo”,
de David Coimbra, em Zero Hora de abril de
2020
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