terça-feira, 14 de abril de 2020

O chinês e o morcego



(...)

O que aconteceu, para que estejamos metidos nesta enrascada? Ora, teve um chinês que gostava de tomar sopa de morcego. Onde já se viu uma coisa dessas? Bom, ele gostava, paciência. Aí ele foi a uma feira em Wuhan e comprou um morcego para fazer sopa, o morcego tinha coronavírus, o coronavírus deu um jeito de se adaptar para invadir as células do chinês, invadiu-as e, pronto, estava feita a confusão planetária, gente morrendo, gente desempregada, meio mundo trancado em casa.

(...)

E o que os chineses comem? E o que eles não comem?

(...) Diálogo travado entre uma ocidental e um chinês durante uma festa em Londres. A ocidental pergunta:

− Você poderia dizer o que os chineses não comem?

− Posso responder o contrário? − rebate o chinês.

− Sim, é claro. Você pode dizer o que os chineses comem?

− Escute com atenção. Tudo o que voa no céu e você pode ver, exceto aviões; tudo o que nada no rio e no mar, exceto submarinos; tudo o que tem quatro pernas sobre a terra, exceto mesas e cadeiras. É isso que nós comemos.

Sopa de morcego, portanto, é batatinha frita para chinês.

Mas acho que talvez isso esteja entre as mudanças. Talvez as autoridades mundiais se tornem mais atentas às necessidades calóricas e aos hábitos de higiene dos povos. Espero que sim.

A propósito de hábitos de higiene, eis outra provável mudança. Nós nunca mais vamos lavar as mãos como lavávamos antes. É que, fala a verdade, nós não lavávamos como tem de ser, não é?

Às vezes, só dávamos uma passadinha de água e pronto. Mas depois do corona seremos mais asseados.

O que mais? O home office está consagrado, sem dúvida. E muitos sentirão nojinho de apertar as mãos ao se cumprimentar. Teremos também algumas outras novidades localizadas, uma que outra evolução, um que outro retrocesso, mas acredito que não será desta vez que alcançaremos a redenção da humanidade.

(...) Melhor pensarmos no grande Réveillon que teremos em dezembro. Será imensa a alegria, será inesquecível a festa. Porque, melhor do que a sensação de viver, só mesmo a de sobreviver.

Excertos e título adaptado da crônica
 “O que mudará no mundo”,
de David Coimbra, em Zero Hora de abril de 2020

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