Por Joel Rufino dos Santos*
Execução de Joaquim
José da Silva Xavier o Tiradentes, no dia 21 de Abril de 1792 (Reconstrução
histórica feita sob apontamentos do Sr. Barão Homem de Mello).
Joaquim
José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi executado, como todos sabem, em 21 de
abril de 1792, por volta do meio-dia, no centro do Rio. Do espetáculo
participaram três bichos da terra tão
pequenos. Essa é de Camões: bichos da
terra tão pequenos...
O
primeiro, seu escravo, foi passado nos cobres quando o amo precisou de cash para fugir. O cortejo fúnebre saiu
da cadeia pública, atual Assembleia Legislativa, entre oito e nove horas de um dia lindo. Percorreu a Rua do Piolho (atual Assembleia), chegou ao Campo de São
Domingos (hoje Teatro João Caetano) e parou na igreja da Lampadosa (que ainda
está lá) para a oração final. Moças nas sacadas, rufo de tambores, o comandante
da brigada em cavalo ajaezado, de cima pra baixo. No meio do cortejo, bandeiras
da misericórdia, cestos de marmelada, pães-de-ló e vinhos para levantar o ânimo
do condenado. Na rabeira, a carreta para os seus pedaços, empurrada por 12
forçados. Parecia desfile de escola de samba, mas sem alegria.
Tiradentes,
entre dois meirinhos, suando muito, enfiava a cara no crucifixo de dois palmos.
Já se avistando a forca especial, 24 degraus, surgiu de um corredor uma mulher
preta, descalça, com água salobra para o coitado. Apesar da bondade, não entrou
para a História.
O
conde de Rezende ordenara a frei José de Jesus do Desterro pregar contra aqueles
que fugiam à obediência aos reis e seus ministros. Um colega seu, Penaforte, se
irritou com o espetáculo. José exagerou, deu pulos para simbolizar o coração
batendo de devoção à Rainha, espancou o ar com mãos enormes para dizer que o
próprio vento levaria ao palácio conversas de conspiradores, choveu enxofre
sobre o público. Não satisfeito, rezou o credo dos apóstolos com paradas de
ator, para que o condenado repetisse palavra por palavra.
A
essa altura, o carrasco, forte como um estivador, recolheu o crucifixo, passou
a corda no braço da forca, segurou a outra ponta. Tiradentes já conhecia
Jerônimo Capitania − haviam sido apresentados antes de sair o cortejo.
Era
galé, não sabemos de que crimes.
−
Lhe peço perdão pelo que vou fazer. É meu trabalho.
−
Não tem problema.
Deixa
pra lá. A história pôs no lugar outras frases, solenes. Essas seriam mais ou
menos as verdadeiras, se o condenado e o carrasco não tivessem passado à
História. Capitania lhe pediu que tirasse a roupa, ia vestir-lhe o camisolão
branco.
−
Meu Redentor também por mim morreu nu! − teria respondido Tiradentes, frase
também maquiada.
Para
que o condenado nada visse, ou não lhe vissem os olhos de horror, Capitania os
escondeu com uma tira de bretanha preta. Devia feder a sangue.
Frei
José de Jesus já descia os degraus.
−
Ó Pátria, recebe meu sacrifício − gemeu Tiradentes, ou algo que as testemunhas
entenderam assim.
Capitania
o empurrou com força.
Depois,
com as pernas em volta do seu pescoço, cavalgou rodopiando.
*****
*
Joel Rufino dos Santos é escritor e historiador
(Do “Almanaque de Cultura Popular”, TAM, junho de
2007)
Você sabia?
Por Diego Braga Norte
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Entre suas propostas, os inconfidentes previam a instalação da capital federal em São João Del Rey, Minas Gerais.
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Outra proposta: criar universidade em Vila Rica.
O Brasil era carente em instituições de ensino superior.
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Em 1873, visando combater ideais republicanos, Joaquim Norberto de Souza Silva
publicou História da Conjuração Mineira.
Tratava Tiradentes como louco irresponsável que entrou no meio dos revoltosos e
pôs tudo a perder. Por décadas foi a única fonte de informação sobre os
inconfidentes.
→
A cabeça de Tiradentes foi roubada na terceira noite. Nunca mais a encontraram.
→
Alferes, do árabe al faris (o
cavaleiro, o herói), era patente abaixo de tenente. A denominação foi
substituída por segundo-tenente.
→
Preocupados com o povoamento do País, a natalidade seria incentivada por meio
de pensões para mães com muitos filhos.
→
O escravo Jerônimo Capitânia, condenado à morte, aceitou prisão perpétua em
troca da missão de carrasco oficial. O destino lhe reservou a tarefa de
enforcar Tiradentes.
→
Tomás Antônio Gonzaga (parceiro de Tiradentes), enquanto preso no Rio, escreveu
um dos poemas de amor mais belos de nossa literatura: Marília de Dirceu, declaração a Maria Doroteia de Seixas.
→
Grande parte dos quadros e gravuras representa Tiradentes de barba e cabelo
compridos. Mas, militar, mantinha-os aparados. Talvez tenham crescido durante a
prisão; mas no dia da morte estava careca e barbeado, como se fazia com os
condenados.
→
Joaquim Silvério dos Reis, perdoado da dívida de 220 mil-réis e salvo da
condenação, foge para Portugal em 1794. Tentaram assassiná-lo no Rio e em Minas. Foi condecorado
como “Fidalgo da Casa Real em foro e moradia” pelo príncipe-regente João VI.
Fugindo de Napoleão, a Corte vem para o Brasil em 1808. Silvério vem junto e
assume um cargo administrativo.
(Almanaque de Cultura Popular, TAM, abril de 2006)
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