quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A morte de Anita Garibaldi



No dia 8 de março de 1848, numa quarta-feira, chegava a Nice, cidade natal de Giuseppe Garibaldi (1807-1882), a brasileira Anita, acompanhada dos três filhos deles − Menotti (o primogênito, nascido no Brasil em 1840), Teresa (ou Teresita, 1846) e Ricciotti (1874), estes dois nascidos no Uruguai, assim como Rosa (1843), que morreu aos dois anos de idade. Nice tornou-se uma cidade francesa somente a partir de 1860. Antes, pertencia à Itália, mais precisamente ao reino da Sardenha. Lá, Anita encontrou a mãe de Garibaldi. Sua chegada virou notícia, e o jornal L’Echo des Alpes Maritimes registrou o fato. Era a mulher do compatriota que lutara na América do Sul pela causa da liberdade. Mulher que lutara ombreando lado a lado com os homens − os gaúchos − na Revolução Farroupilha. Anita morreria pouco mais de um ano depois, lutando pela reunificação da Itália ao lado do marido.

                                                  Hora de voltar

Durante a guerra no Uruguai, em dezembro do ano anterior, Anita parte, de Montevidéu, com os filhos, para a Europa. Garibaldi permanece mais alguns meses no país vizinho, mas sem nunca ter perdido de vista a situação de seu povo. Já é herói internacionalmente conhecido, treinado nos duros combates no mar e em terra. De longe, vê uma Itália esfacelada, com mapas confusos e pequenos reinos e cidades-Estado.

Finalmente, em 15 de abril de 1848, Giuseppe Garibaldi decide retornar a seu país.

                                                       Na Itália

No país europeu, Anita deu múltiplas manifestações de aprimoramento intelectual, aparecendo como esposa condigna do herói italiano, cuja estrela começa a brilhar internacionalmente. Infelizmente, a vida de Anita foi curta, apenas 28 anos incompletos. Em meados de 1849, vai a Roma, então sitiada pela invasão franco-austríaca, ao encontro do marido. Com ele, e sua Legião Italiana, faz a célebre retirada, dando repetidas amostras de grande dignidade e de coragem em lances de bravura frente aos inimigos. O exército austríaco os perseguia, mas Anita (grávida pela quinta vez e muito doente) não aceita os conselhos de permanecer em San Marino. Ela não quer abandonar o marido quando quase todos o abandonaram.

                                                   A noite da morte

Nos pântanos das cercanias de Ravena, estão sós: ele, ela, o fiel companheiro Leggero, o médico Dr. Nannini e familiares dos Ravaglia. Garibaldi segura a mão da mulher; suas últimas palavras são para o marido e para os filhos que ficaram com a avó.

São 19h45min, noite de 4 de agosto de 1849. Ana Maria de Jesus Ribeiro, Anita Garibaldi, está morta. Passara-se menos de um ano e meio desde a sua chegada ao velho mundo. Dez anos se passaram desde o primeiro encontro com Garibaldi. O único amor que nunca contestou ao marido, o amor que compartilhou com ele, o amor pela Itália, custou-lhe a vida.


      Garibaldi carregando Anita às portas da morte. Obra de Pietro Bouvier

   Texto de Elma Sant’Ana para o Almanaque Gaúcho, de Zero Hora.


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