Arthur Azevedo
Gabinete de trabalho. O Juquinha chegou do colégio, entra para tomar a benção ao pai, Dr. Furtado, que está sentado numa poltrona, a ler jornais.
Juquinha: – Benção, papai?
Dr.
Furtado: – Ora viva! (Depois de lhe dar a
bênção.) Venha cá, sente-se ao pé de mim. (Juquinha senta-se). Saiba que estou muito zangado com o senhor.
Juqunha: – Comigo?
Dr. Furtado: – O diretor do colégio deu-me uma bonita informação a seu respeito!
Juquinha: – Esta semana só tive notas boas.
Dr. Furtado: – Não é dos seus estudos que se trata, mas do seu comportamento.
Juquinha: – Eu não fiz nada.
Dr.
Furtado: – O diretor disse-me que o senhor não abre a boca que não pregue uma
mentira! Isso é muito feio, senhor Juquinha!
Juquinha: – Mas, papai, eu...
Dr.
Furtado: – O homem que mente é o animal mais desprezível da criação! Retire-se.
(Juquinha vai saindo penalizado. O pai
adoça a voz.) Olha, vem cá. (Juquinha
volta.) Tu sabes quem foi Epaminondas?
Juquinha: – Lá no colégio tem um menino com esse nome.
Dr.
Furtado: – Não é esse. Ainda não sabes, mas hás de lá chegar, quando estudares
a história da Grécia. O Epaminondas, de quem te falo, era um general tebano,
vencedor dos lacedemônios, que ficou celebre não pelos grandes feitos que
cometeu, como também porque não mentia nem brincando.
Juquinha: – Então nem brincando a gente deve mentir?
Dr.
Furtado: – Nem brincando! A mentira é degradante. Degradante e inútil: o
mentiroso é sempre apanhado. A sabedoria das nações lá diz que mais depressa é
pegado um mentiroso a correr que um coxo a andar. O homem honrado – presta-me
toda a atenção! – o homem honrado não mente em nenhuma circunstância da vida,
ainda a mais insignificante! (Batem palma
no corredor.) Quem será? Algum importuno!
Juquinha: – Papai, quer que eu vá ver quem é?
Dr. Furtado: – Vai, e se for alguém que me procure, dize-lhe que não estou em casa.
FIM
Referência: AZEVEDO, Artur. Teatro a vapor. São Paulo/Brasília: Cultrix/MEC, 1977.
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