Boneca de Pano
Boneca
de pano,
Gingando
num cabaré.
Poderia
ser bonequinha de louça,
Tão
moça, mas não é.
Poderia
ser bonequinha de louça,
Tão
moça, mas não é.
Um dia alguém a chamou de boneca,
E
ela, sendo mulher, acreditou.
O
tempo foi passando
E
ela se desmanchando
E
hoje,
Quem
olha pra ela não diz quem é.
Em
vez de boneca de louça,
Hoje
é boneca de pano,
De um sombrio cabaré.
Foi
num cabaré na Lapa
Que eu conheci você.
Fumando cigarro,
Entornando champanhe no seu soirée.
Dançamos
um samba,
Trocamos um tango por uma palestra,
Só saímos de lá meia
hora depois de descer a orquestra.
Em frente à porta um bom carro nos esperava,
Mas você se despediu e foi pra casa a pé.
No outro dia, lá nos Arcos eu andava,
À procura da Dama do Cabaré.
Eu
não sei bem se chorei no momento em que lia,
A carta que eu recebi, não me lembro de quem.
Você nela me dizia que quem é da boemia,
Usa e abusa da diplomacia,
Mas não gosta de ninguém.
Quem
há de dizer,
Que
quem você está vendo,
Naquela
mesa bebendo
É
o meu querido amor.
Repare
bem que toda vez
Que
ela fala,
Ilumina
mais a sala
Do
que a luz do refletor.
O
cabaré se inflama
Quando
ela dança,
E
com a mesma esperança
Todos
lhe põe o olhar.
E
eu, o dono,
Aqui
no meu abandono,
Espero
morto de sono
O
cabaré terminar.
Rapaz! Leva esta mulher contigo,
Disse
uma vez um amigo,
Quando
nos viu conversar.
Vocês
se amam,
E
o amor deve ser sagrado,
O
resto deixa de lado,
Vai
construir o teu lar.
Palavra! Quase aceitei o conselho,
O
mundo, este grande espelho,
Que
me fez pensar assim.
Ela
nasceu com o destino da Lua,
Pra
todos que andam na rua,
Não
vai viver só pra mim...
Dolores
Sierra
Vive em Barcelona,
Na beira do cais.
Não tem castanholas
E faz companhia
A quem lhe der mais.
Seu pai lavrador,
Veio a maioridade.
Como quem nasce na roça
Tem sempre a ilusão
De viver na cidade.
Sua mãe chorou
No dia em que ela partiu,
Pra conhecer Dom Pedrito,
Que prometeu e não cumpriu.
Com frio e com sede,
Só na sarjeta,
Sorriu para um homem,
E ganhou a primeira peseta.
O navio apitou, paguei a despesa,
E a história se encerra.
Adeus. Barcelona, adeus,
Adeus. Dolores Sierra.
Eu vou tirar você desse lugar
Olha,
a primeira vez que eu estive aqui,
Foi
só pra me distrair,
Eu
vim em busca do amor.
Olha, foi então que eu lhe conheci,
Naquela
noite fria, em seus braços,
Meus
problemas esqueci.
Olha, a segunda vez que eu estive aqui,
Já
não foi pra distrair,
Eu
senti saudades de você.
Olha, eu precisei do seu carinho,
Pois
eu me sentia tão sozinho,
E
já não podia mais lhe esquecer.
Eu vou tirar você desse lugar.
Eu
vou levar você pra ficar comigo.
E
não me interessa o que os outros vão pensar. (bis)
Eu sei que você tem medo de não dar certo,
Pensa
que o passado vai estar sempre perto,
E
que um dia eu posso me arrepender.
Eu quero que você não pense em nada triste,
Pois
quando o amor existe,
Não
existe tempo pra sofrer.
Cabaré
Na
porta, lentas luzes de néon.
Na mesa, flores murchas de crepom.
E a luz grená filtrada entre conversas,
Inventa um novo amor, loucas promessas.
De tomara-que-caia,
Surge a crooner do Norte,
Nem aplausos, sem vaia,
Um silêncio de morte.
Ah,
quem sabe de si nesses bares escuros,
Quem sabe dos outros, das grades, dos muros.
No drama sufocado em cada rosto,
A lama de não ser o que se quis.
A chama quase morta de um sol posto,
A dama de um passado mais feliz.
De tomara-que-caia,
Surge a crooner do Norte,
Nem aplausos, sem vaia,
Um silêncio de morte.
Ah,
quem sabe de si nesses bares escuros,
Quem sabe dos outros, das grades, dos muros.
Um cuba-libre treme na mão fria,
Ao triste strip-tease da agonia,
De cada um que deixa o cabaré,
Lá fora, a luz do dia fere os olhos...
Se
acaso me quiseres,
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim.
Por uma coisa à toa,
Uma noitada boa,
Um cinema, um botequim...
E,
se tiveres renda,
Aceito uma prenda,
Qualquer coisa assim.
Como uma pedra falsa,
Um sonho de valsa,
Ou um corte de cetim.
E eu te farei as vontades,
Direi meias verdades,
Sempre à meia luz.
E te farei, vaidoso, supor,
Que és o maior e que me possuis.
Mas na manhã seguinte,
Não conta até vinte,
Te afasta de mim,
Pois já não vales nada,
És página virada,
Descartada do meu folhetim.
P.S. As gravações dessas músicas estão na internet:
1. “Boneca de pano”, com os Demônios da Garoa;
2. “Dama do cabaré”, com Orlando Silva;
3. “Quem há de dizer”, com Francisco Alves;
4. “Dolores Sierra”, com Roberto Vidal;
5. “Eu vou tirar você desse lugar”, com Odair José;
6. “Cabaré”, com João Bosco;
7. “Folhetim”, com Gal Costa.
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