“Manto de Nossa Senhora”
Por Allan Simon
Na foto, em pé, da esquerda para a direita: Vicente Feola (técnico), Djalma Santos, Zito, Bellini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar. Agachados, na mesma ordem: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagallo e Paulo Amaral (preparador físico).
Conta a história que a seleção brasileira não levou camisas reservas para a Copa do Mundo de 1958 porque nenhuma outra seleção, além da Suécia, usava uniforme composto por camisas amarelas. As brancas haviam sido aposentadas oito anos antes, após a Copa de 1950, quando o Brasil perdeu em casa a decisão para o Uruguai. Na procura por culpados, sobrou para a camisa. No começo daquela década, um concurso elegeu a amarelinha como novo padrão da seleção brasileira.
Em uma época na qual já era mais comum a utilização de camisas reservas, a despreocupação brasileira tinha um motivo: a tradição era o time mandante trocar de camisetas quando havia confusão, já que era mais fácil a equipe da casa ter um jogo reserva de uniformes do que as delegações que precisavam fazer longas viagens.
O problema é que o Brasil chegou à final contra a Suécia, que simplesmente se recusou a seguir essa tradição. O time local queria ser campeão do mundo com a camisa que já era sua marca, a amarela. E restou aos brasileiros participar de um sorteio, que eles perderam. O chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho, teve que fazer um trabalho de motivação aos jogadores, que também atribuíam à nova camisa amarela uma parte da “sorte” do time.
O Brasil arranjou camisas azuis e retirou os escudos da CBD dos uniformes amarelos para bordar nelas. Paulo Machado de Carvalho se dirigiu aos jogadores e disse que eles estariam “protegidos por Nossa Senhora de Aparecida”, já que azul é a cor do manto da padroeira dos católicos do Brasil.
Essa história, no entanto, é rechaçada pelo criador da camisa amarela da seleção.
Em entrevista aos jornal “O Tempo”, em 2014, o gaúcho Aldyr Schlee disse que tudo não passa de invenção, e que ele também deixou criada naquele concurso de 1953 uma camisa azul para ser usada como reserva.
“Aquela tolice que foi inventada, que o Paulo Machado de Carvalho teve de comprar correndo o novo uniforme. Brasil foi pra Copa e levou o uniforme dois, com certeza. A pessoa mais interessada era eu. Era a chance que o Brasil tinha de ganhar a Copa e usando o uniforme que desenhei. Estava atento sobre aquilo”, disse Schlee, que afirmou que a mentira é “grotesca” e fácil de desmentir.
“Primeiro, nenhuma seleção tem apenas um uniforme, não vão para a Copa apenas um jogo de camisa. Segundo, é que inventaram que foi comprada num domingo de manhã, pelo massagista. E como daria tempo de costurar tudo? De onde saiu que estava tão direitinho, os números, o escudo? Quero desmentir isso”, completou.
Histórico positivo
Apesar de o último jogo da seleção brasileira com a camisa azul ter sido a derrota e consequente eliminação diante da Holanda nas quartas de final da Copa do Mundo de 2010, o histórico é muito positivo. Foram 10 jogos disputados até hoje, com sete vitórias, um empate e duas derrotas. A curiosidade é que ambas foram contra a Holanda e custaram o fim do caminho do Brasil em Mundiais: 1974 e 2010. Por outro lado, uma das sete vitórias foi a classificação nas quartas de 1994 diante dos holandeses.
E foi a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, a edição que mais teve o Brasil jogando de azul. Foram três jogos, com duas vitórias e um empate: Suécia (1 x 1) na primeira fase, Holanda (3 x 2) nas quartas, e novamente o suecos (1 x 0) na semifinal. Esses avanços abriram caminho para a conquista do tetracampeonato contra Itália nos pênaltis, aí jogando de amarelo.
A campanha do pentacampeonato, em 2002, também teve a presença da camisa azul em campo na vitória de virada sobre a Inglaterra por 2 a 1 nas quartas de final, em partida lembrada pelo golaço de Ronaldinho Gaúcho contra o goleiro Seaman. Os títulos de 1962 e 1970, além das campanhas marcantes de 1950, 1982 e 1998 não tiveram partidas com o uniforme reserva.
Veja a lista de jogos do Brasil em Copas com a camisa azul:
1938 – Brasil 6 x 5 Polônia
1958 – Brasil 5 x 2 Suécia – Final e primeiro título do país em Copas
1974 – Brasil 2 x 1 Argentina
1974 – Brasil 0 x 2 Holanda
1978 – Brasil 3 x 1 Polônia
1994 – Brasil 1 x 1 Suécia
1994 – Brasil 3 x 2 Holanda
1994 – Brasil 1 x 0 Suécia
2002 – Brasil 2 x 1 Inglaterra
2010 – Brasil 1 x 2 Holanda
2018 – Brasil 2 x 0 Costa Rica
(Do blog torcedores.com)
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