O Livro é impresso em Prudentópolis, no interior do Paraná, e se chama Manual do caçador ou Caçador brasileiro. Seu autor é o senhor Alberto de Carvalho, que não tem prática de escrever, mas de caçar tem. Fala de cães, e como usá-los; e de bichos do mato, e como matá-los.
O senhor Carvalho nos avisa que os poetas têm falado do mavioso canto do sabiá, mas não dizem nada de sua saborosa carne. Ele, o senhor Carvalho, come sabiá. De resto come tudo, inclusive macaco.
Para caçar rolas, aconselha-nos fazer cevas com milho, quirera ou arroz. As rolinhas se acostumam a ir comer toda manhã, e uma bela manhã − pum! O senhor Carvalho conta, com exclamações deliciadas, que já viu um só tiro matar dezesseis rolas.
Mais difícil é caçar papagaios, cuja carne, aliás, não presta. Mas assim mesmo vale a pena, porque “a chegada de um caçador carregado de papagaios é sempre aplaudida em consequência da beleza da plumagem”. (É um esteta, o senhor Carvalho)
Falando-nos de tucanos ele não
informa se a carne é boa ou má, mas a verdade é que fala bem dos tucanos: “Pela
beleza da plumagem constituem um belo alvo”. Garante que é possível mestiçar
uru com galinha garnisé, e que é mesmo infalível a receita de desentocar tatu
com o auxílio de um pauzinho ou do dedo aplicado em certo lugar, convindo “segurá-lo
fortemente
Quanto aos veados, não há dificuldade: “Em geral eles têm seu lugar de morada ou paradouro, de onde não se afastam para longe, exceto quando corridos”.
O senhor Carvalho ensina também como asfixiar cutias com fumaça, no oco do pau. Enfim, o senhor Carvalho é, como ele mesmo diz, um amante da Natureza!
(Do livro: As Boas Coisas da Vida. Autor: Rubem Braga)
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