sexta-feira, 19 de março de 2021

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Ruy Barbosa estava em sua casa, certa noite, quando ouviu um cacarejar estranho no seu galinheiro. 

Aproximando-se cautelosamente do galinheiro, com a bengala na mão, surpreendeu um ladrão que tentava fugir por cima do muro, com um saco de aves roubadas às costas. 

O grande baiano imediatamente, dedo em riste, repreendeu o larápio: 

− Ó delituoso pacóvio! Não te interpelo pelo valor intrínseco dos galináceos, mas por ousares transpor os umbrais de meu domicílio, sequestrando-me bípedes à sorrelfa e à socapa! Se o fazes movido por penúria, transijo; mas se for com o intuito de mofar de minha prosopopeia, dar-te-ei com este cajado no topo da sinagoga, até reduzir-te a massa encefálica em cadavérica!… 

E o ladrão, coçando a cabeça, atarantado: 

− Dotô, isso quer dizer que eu levo ou deixo as galinhas? 

***** 

Ruy Barbosa viajava pelo interior a cavalo, quando deu com um rio, em que não havia ponte. Para cruzá-lo, as pessoas só podiam contar com a canoa de um preto velho. 

Ruy aproximou-se do homem e disse-lhe: 

– Ó varão etíope! Careço de teus préstimos para dar prosseguimento à marcha, eis que estou obstruído pela líquida barreira! 

– Como é que é, patrão?!… – respondeu o barqueiro. 

– Ignaro! Digo: o quanto exiges de remuneração pecuniária para transladar-me sobre a massa hídrica, deste polo àquele hemisfério? 

O preto esbugalhou os olhos e arrepiou-se: 

– Credo, patrão! Pro cemitério? Eu não!… 

***** 

Ruy Barbosa, quando foi candidato à Presidência da República, andou pelo interior do Brasil, em campanha. Certa vez chegou a um lugarejo onde o prefeito era do seu partido. 

O prefeito conseguiu reunir alguns de seus cidadãos no salão paroquial, e apresentou o ilustre orador. Rui subiu numa cadeira, e discursou duas horas no português mais castiço e erudito. Os matutos olhavam-se sem entenderem coisa alguma. Ao final, uns tinham ido embora, outros cochilavam, e apenas o prefeito aplaudiu. 

Ante a visível decepção de Rui, disse-lhe o prefeito: 

– Vossa senhoria não “arrepare”, Dr. Ruy, mas o Senhor falou em latim, e essas bestas não entendem latim…

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