Ruy Barbosa estava em sua casa, certa noite, quando ouviu um cacarejar estranho no seu galinheiro.
Aproximando-se cautelosamente do galinheiro, com a bengala na mão, surpreendeu um ladrão que tentava fugir por cima do muro, com um saco de aves roubadas às costas.
O grande baiano imediatamente, dedo em riste, repreendeu o larápio:
− Ó delituoso pacóvio! Não te interpelo pelo valor intrínseco dos galináceos, mas por ousares transpor os umbrais de meu domicílio, sequestrando-me bípedes à sorrelfa e à socapa! Se o fazes movido por penúria, transijo; mas se for com o intuito de mofar de minha prosopopeia, dar-te-ei com este cajado no topo da sinagoga, até reduzir-te a massa encefálica em cadavérica!…
E o ladrão, coçando a cabeça, atarantado:
− Dotô, isso quer dizer que eu levo ou deixo as galinhas?
*****
Ruy Barbosa viajava pelo interior a cavalo, quando deu com um rio, em que não havia ponte. Para cruzá-lo, as pessoas só podiam contar com a canoa de um preto velho.
Ruy aproximou-se do homem e disse-lhe:
– Ó varão etíope! Careço de teus préstimos para dar prosseguimento à marcha, eis que estou obstruído pela líquida barreira!
– Como é que é, patrão?!… – respondeu o barqueiro.
– Ignaro! Digo: o quanto exiges de remuneração pecuniária para transladar-me sobre a massa hídrica, deste polo àquele hemisfério?
O preto esbugalhou os olhos e arrepiou-se:
– Credo, patrão! Pro cemitério? Eu não!…
*****
Ruy
Barbosa, quando foi candidato à Presidência da República, andou pelo interior
do Brasil,
O prefeito conseguiu reunir alguns de seus cidadãos no salão paroquial, e apresentou o ilustre orador. Rui subiu numa cadeira, e discursou duas horas no português mais castiço e erudito. Os matutos olhavam-se sem entenderem coisa alguma. Ao final, uns tinham ido embora, outros cochilavam, e apenas o prefeito aplaudiu.
Ante a visível decepção de Rui, disse-lhe o prefeito:
– Vossa senhoria não “arrepare”, Dr. Ruy, mas o Senhor falou em latim, e essas bestas não entendem latim…
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