(Conto de Carlos Mosmann)
Era hábito. Duck Arali acordou como sempre, às oito da manhã.
- Raios, bocejou.
Lembrando da noite anterior, que passou tomando champanha com uma loira espetacular, entrou no banheiro. Uma ducha fria para reanimar. Mas não adiantou. O banho reativante não bastou para recobrar seus olhos, de um azul duro, das horas de sono perdido.
Com a toalha sobre os ombros morenos, os cabelos loiros agitados pelo vento e óculos escuros, o detetive da A.U.N.T. pisou nas areias de Copacabana. Procurou um lugar isolado para sentar-se e apreciar o despreocupado vaivém das belas mulheres cariocas.
- Ah, suspirou preguiçosamente, com é bom esquecer por alguns dias o trabalho, as viagens a Paris, a Londres, a Hong Kong, às Bahamas e a Beirute, sempre perseguindo agentes inimigos. Mas, é fatal. Já estou no Rio há quase dois dias. De repente há de aparecer um novo caso. Um crime misterioso, um espião russo e as corridas de automóvel nas curvas da estrada que leva ao Corcovado, as belas mulheres-isca, os porões recheados de armas secretas. Tédio. Salvar a sociedade ocidental quinzenalmente já não me oferece mais emoções.
Duck Arali sabia também que não deixaria de despertar a atenção de alguma bela jovem nos próximos segundos. Talvez, tivesse que salvar uma das águas revoltas da praia. A ideia lhe pareceu agradável a principio. Mas o cheiro lhe fez pensar em outras hipóteses. Mais alguns segundos e despertaria a atenção de uma mulher deslumbrante. Certamente. Instintivamente, levou a mão aos óculos escuros, mas interrompeu o movimento. Seus olhos de azul duro estavam cansados. E era inevitável. Mais alguns segundos e seria notado por uma mulata espetacular.
- Será uma agente de Moscou? Talvez, Pequim. Uma árabe possivelmente. Afinal, o mundo está mudando. É preciso acompanhar sua evolução. Mas uma coisa é certa. Ela trará novas aventuras, novos perigos. Tédio.
Instintivamente, Duck Arali acionou o detector de perigos de seu relógio a prova de água e choque, ultra-sonic e de superprecisão. O ponteiro vermelho, que marcava os dias, começou a girar, como que indicasse os segundos. Era o sinal. Mais alguns segundos e uma maravilhosa agente inimiga estaria entre seus braços poderosos.
Duck Arali deitou-se na areia, esperando tranquilamente pelos perigos que o aguardavam.
- Como será ela? Ruiva, morena, a loura de ontem à noite? Tomara que seja uma mulata. Hoje só. Uma mulata... Hei!
Um agente inimigo. Era um agente inimigo. Levou a toalha de banho de Duck Arali (na verdade um colete à prova de balas, camuflado). O detetive ergueu-se num salto e avistou o inimigo. Como um raio, jogou-se em sua direção. Ele tinha a agilidade de um gato, corria entre a multidão despreocupada, assustando os inocentes turistas.
- Raios. A sociedade ocidental em perigo e esta gente calmamente no meu caminho. Nem imaginam o que pode acontecer se eu não conseguir alcançar o agente inimigo. Será russo? Certamente. Só pode ser russo.
Durante quinze intermináveis minutos, Duck Arali perseguiu o agente. Saíra de Copacabana e já estava no Leblon. De repente, jogou-se ao chão. Estava cansado.
- Raios, resmungou bufando e arfando como um cachorro em tarde de diversão, como correm esses malditos pivetes.
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