segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Hoje

 Taiguara

Hoje, trago em meu corpo as marcas do meu tempo.

Meu desespero, a vida num momento,

A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo. 

Hoje, trago no olhar imagens distorcidas.

Cores, viagens, mãos desconhecidas

Trazem a lua, a rua às minhas mãos. 

Mas, hoje, as minhas mãos enfraquecidas e vazias,

Procuram nuas pelas luas, pelas ruas,

Na solidão das noites frias por você. 

Hoje, homens sem medo aportam no futuro.

Eu tenho medo, acordo e te procuro,

Meu quarto escuro é inerte como a morte. 

Hoje, homens de aço esperam da ciência.

Eu desespero e abraço a tua ausência,

Que é o que me resta, vivo em minha sorte. 

Sorte, eu não queria a juventude assim perdida,

Eu não queria andar morrendo pela vida,

Eu não queria amar assim como eu te amei. 

Sorte, eu não queria a juventude assim perdida,

Eu não queria andar morrendo pela vida,

Eu não queria amar assim como eu te amei. 

A letra da música “Hoje” foi censurada, porque fazia alusão ao governo militar, à tortura (trago em meu corpo as marcas do meu tempo) e insinuava que a sociedade era infeliz sob o comando da ditadura militar. A música foi gravada por Taiguara no LP Hoje, em 1969, pela EMI-Odeon. 

Taiguara 

Possuidor de um marcante estilo de interpretação, romântico, intenso, até com uma certa tendência ao monumental, Taiguara firmou-se como um dos mais assíduos cantores de festivais, defendendo músicas suas ou de outros compositores, algumas delas premiadas (como “Modinha”, de Sérgio Bittencourt, e “Helena, Helena, Helena”, de Alberto Land). 

Típico desse estilo é o seu maior sucesso, a balada “Hoje”, que canta sobre bela melodia o desabafo de um personagem desiludido com as agruras da vida e do amor: Mas, hoje / as minhas mãos enfraquecidas e vazias / procuram nuas, pelas luas, pelas ruas / na solidão das noites frias por você.” 

Muito visado pela censura, Taiguara (Taiguara Chalar da Silva) teve sua popularidade em declínio ao terminar a era dos festivais, passando a se dedicar ao estudo musical com Hermeto Pascoal, com quem aprendeu a fazer arranjos. 

Nascido no Uruguai, mas criado no Brasil, morreu aos 51 anos em 14.2.96 (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34). 

Extraído de http://cifrantiga3.blogspot.com.br/

 

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