sábado, 28 de agosto de 2021

A história de “Castelhana”

Larga tudo e vem ler a história 

“Castelhana”, 

de Elton Saldanha e Rui Biriva 

Texto de William Mansque

(...) 

Composta por Elton Saldanha e Rui Biriva, Castelhana é um clássico da música regionalista gaúcha. A música estourou com a primeira versão do grupo Os Nativos, em 1994, e depois foi regravada por nomes como os Serranos, Wilson Paim, Gaúcho da Fronteira, além dos próprios autores da faixa. A letra da canção é inspirada em uma história que Elton viveu com uma moça argentina. 

Em 1993, o historiador e folclorista Antonio Augusto Fagundes era comandante dos Cavaleiros da Paz, confraria que realiza percursos a cavalo levando a cultura gaúcha empunhando a bandeira branca da paz. Nico convidou Elton a fazer uma travessia de continente: de Cidreira a Valparaíso, no Chile. “Do Atlântico ao Pacífico”. Para isso, solicitou ao compositor que realizasse primeiro esse percurso de carro, estudando as dificuldades que poderiam ser encontradas pelo caminho. Partiram Elton, Leopoldo Rassier e o coronel Menna Quevedo em um Monza. 

No território argentino, eles se perderam no município de San Francisco, em Córdoba. Sem saber como chegar à cidade que dá nome à província homônima, eles pararam para pedir informação a uma jovem, que estava na frente de uma escola. Segundo Elton, “uma morena muito bonita”. A argentina explicou o caminho e, em seguida, pediu uma carona até sua casa. Ela se chamava Malena, assim como o clássico do tango composto por Homero Manzi e Lucio Demare. 

Ao chegarem à casa de Malena, os viajantes depararam com uma família humilde e numerosa − o músico recorda que ela tinha sete irmãs. Lá, a família foi gentil e hospitaleira, repartindo o jantar. Eles seguiram viagem, mas Elton garantiu que os visitariam no mês seguinte durante a cavalgada. 

Quando os cavaleiros retornaram a San Francisco, lá estava Malena e sua família os aguardando. Porém, Elton conta que a viagem foi badalada, e muitas autoridades locais também os esperavam no município. Sobrou pouco tempo para conversar com Malena. 

Elton voltou para casa com a imagem daquela jovem simpática e hospitaleira que o esperou em San Francisco. Na época, Rui Biriva era seu vizinho de prédio no Menino Deus, em Porto Alegre. Após se reencontrarem e a conversa ser posta em dia, Rui pegou o violão e mostrou uma melodia. Elton reagiu efusivamente. 

− Bah, que bonito isso aí, Rui. Vamos fazer essa música agora! − empolgou-se Elton. − Eu poderia homenagear uma moça que conheci em San Francisco − sugeriu. 

Rui acatou a ideia e perguntou ao vizinho qual era o nome da homenageada. Elton percebeu que poderia ser complicada a questão do nome, afinal, já existia um tango famoso com o nome de Malena. Então, decidiu-se que o título seria Castelhana. 

− Foi uma explosão marcante. Uma forma diferente de se fazer música, pois é uma mistura de milonga habanera com vanera. É uma levada bem dançante, bem para cima e popular. Até hoje o pessoal canta por aí a Castelhana − destaca Elton. 

(...) 

Os Nativos, grupo de amigos de Elton e Rui, receberam a música e gravaram a primeira versão de Castelhana. No ano seguinte, a faixa se tornou um fenômeno da música regional. 

Segundo o compositor, a canção é um agradecimento pelo carinho espontâneo e voluntário, um tributo à receptividade. Elton nunca mais reencontrou Malena, mas não descarta agradecê-la um dia. 

− Gostaria de um dia voltar, ir a uma rádio local e dizer que essa música é em homenagem a uma moça da região chamada Malena. Quem sabe eu possa agradecer ao vivo quem inspirou a canção. 

(Em Zero Hora, agosto de 2021) 

Castelhana 

Compositores: Elton Saldanha / Rui Biriva 

Eu hoje me vou pra fronteira,
Pois queira ou não queira,
Vou ver meu amor.

Esperei toda a semana
Pra ver a castelhana,
Minha linda flor.
Tá frio na minha cidade,

A bem da verdade está frio demais.
Ao sul do meu coração,
Quero tempo bom,
Só você me traz.
Ao sul do meu coração,
Quero tempo bom,
Só você me traz.
 

Larga tudo e vem comigo,
Vamos encarar o perigo.
Larga tudo e vem comigo,
Vamos encarar o perigo.
 

Castelhana, se você me ama.
Me ama,
Me ama,

Me ama,
Me diz.
Castelhana, se você me ama,
Me ama,
Me ama,

Me ama.
A gente pode ser feliz.

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