A um hotel modesto, de aparência tranquila, chega um viajante apressado.
‒ Senhor, ‒ diz ele ao hoteleiro ‒ desejo um quarto. Não faço questão de preço; mas é preciso que seja uma peça branca, higiênica. Sou partidário da limpeza!
‒ Não há dúvida, ‒ sorriu o hoteleiro. ‒ Mandarei que o levem até lá. Afianço-lhe que ficará satisfeito.
Mostram-se vários quartos ao viajante. As paredes são cinzentas, os tapetes são velhos, mas a roupa de cama parece limpa. O nosso homem inspeciona tudo com o cuidado que lhe dá a desconfiança, apalpa o mobiliário, hesita.
‒ Oh, uma pulga! ‒ grita ele.
‒ Não se incomode, ‒ diz-lhe a criada, ‒ isso não é grave. Veja por si mesmo: a pulga está morta.
Não há outro hotel na aldeia. A cidade fica distante. O viajante aceita o quarto e deita-se. Na manhã seguinte, de madrugada, o nosso herói acorda todo mundo. Quer partir. Tem uma expressão de lúgubre cansaço.
‒ Dormiu bem, cavalheiro? ‒ pergunta amável, o proprietário. ‒ A pulga estava ou não estava morta?
‒ Estava... estava bem morta. Mas que enterro concorrido!...
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(Almanaque do Pensamento de 1973)
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