domingo, 6 de março de 2022

Quatro personagens

 (Do jornal O Pasquim) 

Márcio Pinheiro (*) 

Um quarteto gaúcho teve participação decisiva no jornal, alimentando com suas trajetórias ainda mais a lenda. São eles:

Tarso de Castro − Nascido em Passo Fundo, debochado e iconoclasta, tinha um estilo semelhante ao de alguns antecessores (Sérgio Porto, Carlinhos Oliveira), mas levava a extremos o vocabulário cáustico e a agressividade. O ambíguo Tarso era ao mesmo tempo ditatorial e democrático. No formato, por exemplo, prevaleceu sua ideia: o jornal seria tabloide, algo incomum, mas, segundo ele, mais prático e fácil de ler. Na montagem da equipe, Tarso demonstrou ser plural. A exigência era ser de oposição, porém sem ranços partidários ou sectarismos, preferindo sempre o deboche e o escracho.

Luiz Carlos Maciel − Porto-alegrense, estava entre os fundadores, inclusive para a escolha do nome, embora não se lembre quem sugeriu Pasquim. Lembra, sim, que foi contra, explicando que lhe parecia um lugar-comum que a sua indiscutível atração pelo sofisticado, pelo sutil e pelo original, rejeitava com constrangimento. No final da madrugada, esgotado, Maciel resignou-se e Tarso decretou que o nome só poderia ser aquele mesmo.

José Lewgoy − Gaúcho de Veranópolis, foi presença constante no Pasquim desde meados dos anos 70. Culto e bem-preparado intelectualmente, ele transitava como ator de muitas das Pasquim-Novelas e assinava a coluna Psst, com comentários não apenas sobre cinema e teatro, mas contemplando sua ampla gama de interesses: balé, futebol, arquitetura... Numa coluna de 1975, fez uma cobrança pública à cidade-natal. “Chico Anysio vai virar praça em Fortaleza. Milton Moraes, rua na mesma cidade. Lima Duarte será rua em São Paulo. Como é que é, Veranópolis? Sai ou não sai a minha estátua equestre?”.

Fausto Wolff − De Santo Ângelo, estava fora do Brasil quando o jornal foi lançado, mas durante 10 anos foi um correspondente informal mandando matérias da Dinamarca, da Itália e até do Vietnã. Voltou ao país em 1978, quase que na mesma leva de tantos brasileiros que retornavam com a anistia, e aproximou-se da patota, trabalhando durante anos na redação. 

(*) Jornalista, autor de “Rato de Redação: Sig e a História do Pasquim” (2022)


(Matéria do Caderno DOC, de Zero Hora, março de 2022)

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