quarta-feira, 8 de junho de 2022

Por que estamos sós?

 Carlos Gerbase

Uma das hipóteses para explicar o fato de que ainda não encontramos qualquer sinal de vida extraterrestre entre os muitos planetas com atmosferas similares à nossa, apesar da busca incessante com instrumentos cada vez mais poderosos, é que essas vidas existiram (ou existirão), mas elas não duram o suficiente na escala cósmica para “emparelhar no tempo” com a nossa, a ponto de serem detectadas. Haveria uma sequência evolucionária universal lógica levando ao fim: a vida surge, depois a inteligência, as tecnologias ficam mais sofisticadas, os recursos planetários são esgotados (e a vida acaba por absoluto desequilíbrio do ecossistema), ou armas cada vez mais poderosas são criadas e massivamente utilizadas (e a vida acaba por autodestruição). Assim, uma civilização nunca fica sabendo da outra. Não dá tempo. 

É uma hipótese triste. A consciência e a racionalidade humanas (ou não-humanas) não seriam eventos para celebrar, e sim para lamentar, pois estariam sempre marcando o extermínio de todas as outras vidas à sua volta. Catastrofismo new-age? Irracionalismo reacionário? Não sei. Olhando para o que está acontecendo agora, em nosso tempo, em nosso planeta, em nosso país, todos os fatos parecem estar de acordo com essa hipótese. Pensar em armas poderosas apenas como ferramentas a serviço de um usuário supostamente consciente favorece o acúmulo do arsenal para a futura (ou iminente) autodestruição. Pensar no uso de terras indígenas para ampliar as fronteiras do agronegócio fragiliza o equilíbrio ambiental da Amazônia (e de todo o planeta). E o que estamos vendo? Uma escalada vertiginosa nos dois caminhos que levam ao maior dos desastres. 

Os cientistas advertem, livros são escritos e filmes são realizados falando do perigo da extinção, mas nada detém a lógica econômica global, que tem no militarismo e na indústria armamentista evidentes suportes. É assustador constatar que o cenário é parecido em países bem diferentes. Os Estados Unidos quase reelegeram Trump, a besta platinada do apocalipse. China e Rússia, com governos totalitários, expansionistas e agressivos, não ficam atrás. E uma nação periférica como o Brasil, afundada em desigualdades sociais, em vez de pensar num caminho alternativo, que dignifique nossas imensas riquezas naturais e promova a cooperação, está rezando pela cartilha dos adoradores de fuzis, dos garimpeiros do ódio, dos grileiros do futuro. Estamos nos aproximando, a passos largos, da confirmação da hipótese do primeiro parágrafo.

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(Do jornal Zero Hora, junho de 2022) 

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