quarta-feira, 15 de junho de 2022

Vai reclamar com a mãe do Badanha!

 

Charge de João Pompeo, na Folha da Tarde (1946) 

Quem nunca ouviu essa frase em alguma acalorada ou bem humorada discussão? Pois a história do Badanha, e naturalmente, da mãe dele, que deu origem à expressão popular, está intimamente ligada às primeiras formações do São José no novíssimo Passo d'Areia. Sílvio Gomes Luz, ou só Badanha mesmo, era o center half da equipe de 1941 e 1942. 

(...) 

Os levantamentos históricos são contraditórios quanto à data de nascimento do Badanha: 1918 ou 1924, em Porto Alegre. Antes de vestir a camiseta do São José, defendeu, ainda guri, o Porto Alegre. Era um período em que o profissionalismo no Rio Grande do Sul ainda dava seus primeiros passos, e o Zeca era um dos pioneiros nesta relação com os atletas. E daí começou a fama da mãe do Badanha, que não teve o seu nome preservado pela história. 

Era ela quem negociava os contratos do filho e, dizem, peitava os cartolas em nome do rebento. O jornalista Cláudio Dienstmann relata ainda a fama que a tornou ainda mais popular. É que a mãe do Badanha tinha o hábito de invadir as redações dos jornais para reclamar das crônicas que eventualmente desmereciam o menino. 

Mas o Badanha, apesar da fama da mãe, poderia ser considerado um fenômeno para aquele período. Era descrito pela boa qualidade nos passes e segurança no meio de campo. Tinha o seu brilho e era diferenciado para um cenário ainda em transformação no futebol gaúcho. Em 1941, quando já era destaque no São José, e foi convocado para a Seleção Gaúcha, ele era o único jogador que tinha licença para sair da concentração e frequentar as aulas no ginásio. Ele ainda trabalhava e jogava futebol simultaneamente. Mas até aí, nada muito diferente do cenário da época. O Badanha, porém, não era comum. Destacou-se pela seleção estadual e foi notado pelos cariocas. Durante todo o período em que esteve no São José, recebeu propostas que chegaram a 20:000$000 do América, do Rio de Janeiro, um dos grandes daquele período. 

A negociação com o clube da capital não se concretizou. Já imaginou o país inteiro mandando o pessoal se entender com a mãe do Badanha? Não, a mãe dele não chegou a encarar o grande Mario Filho em alguma redação, mas fez seu barulho aqui em Porto Alegre, como conta o Dienstmann: 

“Quando ela surgia nos gabinetes dos dirigentes e nas redações, cartolas e escribas tratavam de dar o pinote, vazar: 'Lá vem a mãe do Badanha'.” 

Do Blog São José Notícias

Origem da expressão “mãe do Badanha” 

Por Leandro Staudt

No time do Renner de 1945, Badanha é o terceiro em pé, da esquerda para a direita

Reprodução / Memorial Valdir Joaquim de Morais/ Projeto Renner Vive 

Volta e meia, a mãe do Badanha é colocada em uma conversa entre gaúchos. Uma expressão regional que pode ser usada em diversas situações, desde uma brincadeira entre amigos até uma curta e estúpida resposta de um desconhecido. Quem é responsável pela bagunça? O debochado dirá que é a mãe do Badanha. Quem pode resolver o problema? O sujeito sem paciência ou reposta correta gritará que é a mãe do Badanha. 

Em 1965, em crônica de um jogo do Inter com o Fluminense, o jornalista Sérgio Jockyman escreveu no Diário de Notícias que um jogador do clube carioca “driblou toda a defesa do Inter, até a mãe do Badanha”. Em pesquisa nos jornais antigos, localizei a expressão a partir da década de 1950. Badanha foi um jogador, chegou a vestir a camisa da seleção gaúcha. Um centromédio do tempo em volantes eram chamados de centromédios. 

Silvio Gomes Luz, o Badanha, fez carreira em times da capital gaúcha. Ele vestiu as camisas dos clubes Porto Alegre, São José, Grêmio e Renner entre o final da década de 1930 e na década de 1940. Em 1950, já aparecia novamente na escalação do time amador Gloriense, do bairro Glória, onde disputara as primeiras partidas de futebol na adolescência. 

Em 1942, os jornais do Rio de Janeiro davam como certa a contratação do jogador porto-alegrense pelo América. O periódico A Noite chegou a publicar a manchete “Badanha vem aí”. Pelo jeito, o Grêmio foi mais rápido e o tirou do São José. Badanha fez parte do time que conquistou o primeiro título profissional do Renner, em 1947. Ele foi campeão do Extra, como chamavam o primeiro turno do Citadino. 

Badanha deveria proteger a defesa do time, mas quem levou a fama foi a mãe. Reza a lenda que ela marcava mais do que Guinãzu e Dinho juntos. Em uma época em que o futebol começava a ser profissional, a mulher seria linha-dura nas negociações com os cartolas. Quando começou a trabalhar no final da década de 1960, o jornalista Cláudio Dienstmann, um pesquisador do nosso futebol, recorda da expressão “mãe do Badanha” já estar consolidada entre os porto-alegrenses. Ele conta que a mulher teria ficado com a fama de chata nas redações esportivas. A mãe considerava o filho “um craque” e reclamava das análises sobre o desempenho do filho em campo. 

Quando aparecia na portaria dos jornais, logo diziam: “lá vem a mãe do Badanha”. Dienstmann acredita que as rádios ajudaram a popularizar a expressão. Com o tempo, surgiram derivações como “a vó do Badanha” e “a casa do Badanha”. Qual o nome da mãe do Badanha? Ninguém sabe. Se eu ficar insistindo, vão mandar perguntar à mãe do Badanha. 

(Do jornal Zero Hora, junho de 2022)


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