Cleide Canton
Sinto
vergonha de mim
por
ter sido educador de parte desse povo,
por
ter batalhado sempre pela justiça,
por
compactuar com a honestidade,
por
primar pela verdade
e
por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto
vergonha de mim
por
ter feito parte de uma era
que
lutou pela democracia,
pela
liberdade de ser
e
ter que entregar aos meus filhos,
simples
e abominavelmente,
a
derrota das virtudes pelos vícios,
a
ausência da sensatez
no
julgamento da verdade,
a
negligência com a família,
célula-mater
da sociedade,
a
demasiada preocupação
com
o “eu” feliz a qualquer custo,
buscando
a tal “felicidade”
em
caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho
vergonha de mim
pela
passividade em ouvir,
sem
despejar meu verbo,
a
tantas desculpas ditadas
pelo
orgulho e vaidade,
a
tanta falta de humildade
para
reconhecer um erro cometido,
a
tantos “floreios” para justificar
atos
criminosos,
a
tanta relutância
em
esquecer a antiga posição
de
sempre “contestar”,
voltar
atrás
e mudar o futuro.
Tenho
vergonha de mim,
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer…
Tenho
vergonha da minha impotência,
da
minha falta de garra,
das
minhas desilusões e do meu cansaço.
Não
tenho para onde ir,
pois amo este meu chão,
vibro
ao ouvir meu Hino
e
jamais usei a minha Bandeira
para
enxugar o meu suor
ou
enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao
lado da vergonha de mim,
tenho
tanta pena de ti,
povo brasileiro!
Cleide Canton inspirou-se nestas palavras de Ruy Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas
mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
O poema Sinto vergonha de mim atribuído ao grande Ruy Barbosa circula pela Internet. Afinal foi escrito por uma poetisa – Cleide Canton. Não terá sido intencional e até permitiu divulgar um poema que de outro modo não chegaria ao conhecimento de tantas pessoas, mas queremos hoje chamar (mais uma vez) a atenção para a quantidade de textos apócrifos que circulam na net. Uma das grandes vítimas , é Fernando Pessoa. Há gente na blogosfera, que ao contrário da poetisa Cleide Canton se envergonha de ser honesta, há gente dizíamos que não tem vergonha de ser desonesta e de brincar ou de fazer negócio com o nome de grandes vultos da literatura.
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