quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Sinto vergonha de mim

 Cleide Canton

Sinto vergonha de mim

por ter sido educador de parte desse povo,

por ter batalhado sempre pela justiça,

por compactuar com a honestidade,

por primar pela verdade

e por ver este povo já chamado varonil

enveredar pelo caminho da desonra. 

Sinto vergonha de mim

por ter feito parte de uma era

que lutou pela democracia,

pela liberdade de ser

e ter que entregar aos meus filhos,

simples e abominavelmente,

a derrota das virtudes pelos vícios,

a ausência da sensatez

no julgamento da verdade,

a negligência com a família,

célula-mater da sociedade,

a demasiada preocupação

com o “eu” feliz a qualquer custo,

buscando a tal “felicidade”

em caminhos eivados de desrespeito

para com o seu próximo. 

Tenho vergonha de mim

pela passividade em ouvir,

sem despejar meu verbo,

a tantas desculpas ditadas

pelo orgulho e vaidade,

a tanta falta de humildade

para reconhecer um erro cometido,

a tantos “floreios” para justificar

atos criminosos,

a tanta relutância

em esquecer a antiga posição

de sempre “contestar”,

voltar atrás

e mudar o futuro. 

Tenho vergonha de mim,

pois faço parte de um povo que não reconheço,

enveredando por caminhos que não quero percorrer… 

Tenho vergonha da minha impotência,

da minha falta de garra,

das minhas desilusões e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir,

pois amo este meu chão,

vibro ao ouvir meu Hino

e jamais usei a minha Bandeira

para enxugar o meu suor

ou enrolar meu corpo

na pecaminosa manifestação de nacionalidade. 

Ao lado da vergonha de mim,

tenho tanta pena de ti,

povo brasileiro! 

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Cleide Canton inspirou-se nestas palavras de Ruy Barbosa: 

“De tanto ver triunfar as nulidades, 

de tanto ver prosperar a desonra, 

de tanto ver crescer a injustiça, 

de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, 

o homem chega a desanimar da virtude, 

a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.  

O poema Sinto vergonha de mim atribuído ao grande Ruy Barbosa  circula pela Internet. Afinal foi escrito por uma poetisa – Cleide Canton. Não terá sido intencional e até permitiu divulgar um poema que de outro modo não chegaria ao conhecimento de tantas pessoas, mas queremos hoje chamar (mais uma vez)  a atenção para a quantidade de textos apócrifos que circulam na net. Uma das grandes vítimas , é Fernando Pessoa. Há gente na blogosfera, que ao contrário da poetisa Cleide Canton se envergonha de ser honesta, há gente dizíamos que não tem vergonha de ser desonesta e de brincar ou de fazer negócio com o nome de grandes vultos da literatura. 

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